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POR MAIS REPRESENTATIVIDADE

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por Tainá Almeida


       Nesta semana fomos marcadas em uma publicação em inglês e ao ler só conseguimos ter mais certeza de que a representatividade importa. A matéria que nos citava mostrava uma modelo britânica, presente em duas capas da Vogue Brasil no mês de Fevereiro, depois da realização do Baile de Carnaval da Vogue e toda a discussão sobre apropriação cultural. Ouvimos Glória Maria, a rainha do baile, dizer "o tema do baile é África e com rainha loira não dá. Nem se fosse só a África do Sul. Tem que ter rainha negra pelo menos no baile, já que a gente não consegue ser rainha das coisas normais". Quem diria que tão logo veríamos tal mudança? Assuma, você também pensou que só teríamos uma mulher negra na capa da Vogue lá no mês da consciência negra. Mas a verdade é que ela está aí, em Fevereiro, com cabelo crespo e duas capas! Depois de ver a mudança na Barbie, a mudança na representação de fantasias de personagens negros, será que chegou a vez de vermos a mudança nas revistas de moda? Nós fomos citadas aqui e a tradução está abaixo:

"Não uma, mas duas! Este é o número de capas da Vogue que a Jourdan Dunn está presente. A supermodelo posou para duas capas da Vogue Brasil de Fevereiro/2016 e aparece igualmente fabulosa nas duas. Produzida pela Burberry (grife britânica) e a Osklen, a modelo foi fotografada por Zee Nunes, mas a única coisa que as pessoas ficam falando é sobre seu lindo back power. Isso tem um significado especial porque o movimento do cabelo natural está se tornando popular no Brasil. Existem muitos grupos incentivadores do cabelo natural, incluindo Meninas Black Power, um coletivo que empodera jovens mulheres a adotar seus cabelos naturais.Este movimento também está influenciando o mundo das celebridades. Ano passado Maria Borges entrou na passarela da Victoria’s Secret com o cabelo natural. Isso foi notícia porque foi a primeira vez que uma modelo recebeu permissão para usar o cabelo afro natural. Viola Davis também usou seu cabelo natural no Emmy em 2015, assim como Lupita N’yongo no Oscar de 2014."

ENCRESPANDO 2015 - I SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENCRESPANDO

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por Coletivo Meninas Black Power

      Chegamos! Foram alguns meses recebendo as perguntas de vocês sobre quando aconteceria o tão esperado Encrespando 2015 e nós sempre pedíamos pra esperarem mais um pouquinho... Desculpem tanto suspense, Meninas! Estávamos trabalhando em algo realmente especial.
        Há alguns dias contamos aqui sobre a parceria com o Departamento de Direito da PUC-RJ. Não viram?! Olhem a Thula e Carolina, representantes da PUC, e uma parte do time MBP em reunião aí:
     
      O Encrespando 2015 abre espaço pro nosso I Seminário Internacional Encrespando (sim, vocês leram internacional mesmo!), organizado pelo Departamento de Direito da PUC-Rio, Núcleo de Estudos Constitucionais e Coletivo Meninas Black Power, sob o tema "Refletindo a Década Internacional dos Afrodescendentes (ONU) - 2015-2024". Hoje damos a largada até que estejamos juntxs lá na PUC. Aqui no site vocês podem conferir a programação (e amar desde já todas as mulheres incríveis que vão marcar este evento com falas tão incríveis quanto!), o edital para submissãode trabalhos e todas as outras informações que quiserem. O I Seminário Internacional Encrespando é um evento gratuito e acontecerá nos dias 3, 4 e 5 de Novembro de 2015, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio (Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea, Rio de Janeiro, RJ – Brasil). Querem saber mais? Façam contato no email encrespandopuc2015@gmail.com e não esqueçam que todas as integrantes do Coletivo Meninas Black Power estão aí pra trocar ideia. Não esqueçam de acessar: http://www.jur.puc-rio.br/encrespando/.

Vamos juntas? Será incrível, histórico e transformador. 
Contamos com vocês!

"TENTA PRA VER!" - GABRIELO GABRIELO E O BC

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza

Foto: Gabrielo Gabrielo
      Hoje a gente conta com a presença especial desse muso que arrasa e faz a gente se divertir demais (assista aos vídeos aqui)! Ele acabou de fazer o corte e deixou esse depoimento tão maravilhoso quanto ele pra dividir um pouco a sensação desafiadora e ao mesmo tempo encorajadora de entrar em contato com o próprio cabelo. Você está num momento de transição, cogitando o BC ou pensando em como é o seu cabelo de fato? Então vem aqui ler o que ele tem pra contar e, como de costume por aqui, inspire-se!

"Confesso que ainda dói um pouco ver que 60 ou 70% do meu cabelo foi embora... 
Mas foi por uma boa causa. Falam tanto de cabelo ruim e cabelo bom, quando na verdade o que arrasa mais é o que veio ao mundo de um jeito e permanece da mesma forma. Eu - já que muita gente não me aceitava nem um pouco com cabelo crespo ou cheio - fazia questão de aplicar produto químico pra no mínimo baixar o volume. Há uns meses atrás decidi mudar isso! Fiz meu corte de pontas. Como as pontas estavam cacheadas, escondiam o dano que a química causou na estrutura do meu cabelo. Ali estavam elas... As sequelas deixadas no resto do “belão”. Estavam à mostra. Eu já imaginava que elas iriam aparecer, mas foi preciso fazer! Mesmo assim não tive coragem suficiente pra jogar fora o que me restava... Me contentei com trapos! Decidi depois de um tempo: "Cansei desses arames feios! Isso é um cacho? Uma onda? O que é?". Esse sim é o cabelo que precisa ser domado: o danificado. Ou você se contenta com essas formas estranhas que essas tais empresas de relaxamento "zicas" colocam no seu cabelo, ou aceita o teu natural. Tanta gente não tem noção de como o próprio natural é lindo! Deixa ele crescer, vê pelo menos a sua raiz. Agora multiplica ela por 10. Por 50... Por 100 centímetros além... Olha que lindo! Não são só as modelos de revista ou as dançarinas da Beyoncé que fica bem assim, não. Experimenta pra ver! Dói em mim agora, mas daqui há pouco eu espero ver ele a coisa mais linda desse mundo. Eu amo o meu cabelo, do jeito que ele é! Beijos!"

#FALANDODETRANSIÇÃO COM KARINA VIEIRA

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por Karina Vieira
     Voltando àquele papo sobre o quanto é empoderador ver as minas tudo assumindo seus cabelos crespos, sendo do comprimento que for: bem, passar pelo BC é difícil, doloroso e por muitas vezes pensei que não aguentaria a pressão, afinal há muita gente ao seu lado, mas também há um monte pra testar sua fé. Porém o mais difícil está por vir. O cabelo que está crescendo só encontra sustentação se estiver firmado em raízes e essas estão dentro da cabeça.
     Como li várias vezes durante a semana, assumir-se crespa começa na estética, mas precisa ser algo além. As piadinhas dos amigos mais próximos começam a perder a graça. A invisibilidade midiática fica mais gritante. O fato de você não ver pessoas como você nos lugares de poder incomoda cada dia mais. Ver corpos pretos sendo mortos e arrastados fica latente, deixa de ser apenas número e passar a ser sentido na própria pele.
     Aí começa a verdadeira revolução. A estética vira política e eu só encontrei sustentação quando me amparei no Coletivo, quando percebi que a mudança que começava em mim só fazia sentido se reverberasse nos meus. O coletivo não tem esse nome à toa. Ele só existe porque não é feito de "eu", mas sim de "nós". 
Estética é política, sim. Ou pelo menos pode ser o começo.

SOMOS O QUE SOMOS

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por Renata Morais

Foto: Lulu e Lili Acessórios
      Estávamos no aeroporto em Brasilia voltando para o Rio. Passamos rápido por uma lanchonete já na área de embarque e uma criança branca, lisa e loira, toda de rosadinha, já com o lanche na mão, olha para a Elis e grita: "Cabelo feio!". Gritou bem alto. A menina tinha uns três anos, com certeza reproduz o que ouve em casa ou na escola. Eu e o meu marido olhamos para ela bem sérios e ela abaixou a cabeça.
      A Elis não olhou e seguiu sem falar nada. Só apertou minha mão. Sentamos e eu perguntei se estava tudo bem. Ela não quis falar, só me abraçou. O pai ficou revoltado, queria que ela falasse o que estava sentindo ou que ela respondesse. Não dá. Ela só tem quatro anos... É estilosa, toda descolada e esperta, porém o racismo e preconceito fazem isso com a gente.
      Eu queria muito entrar em seu peito e retirar aquele nó que só o racismo faz. Aquele aperto misturado com vergonha. Ela não esperava aquele grito, ela não está acostumada com isso.  Veio sem falar nada, dormiu a viagem toda. Ainda não toquei no assunto aqui em casa, mas sinto que o trabalho precisa ser mais firme. Pais: seus filhos, mesmo que pequenos, já são vítimas do racismo. A resistência deve ser diária. É conversa, leitura, ver representação. Isso será para sempre. Não é vitimismo, infelizmente é nossa realidade.

PRETA, SEU DIA É SEMPRE!

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por Coletivo Meninas Black Power


      25 de Julho, Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha e da lembrança de Tereza de Benguela, ícone da resistência ente mulheres negras no Brasil. Um dia todo nosso desde 1992, quando a data foi criada, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas.
      Você deve ter notado que não falamos nada antes, né? Sim, desta vez chegamos propositalmente atrasadas, mas não esquecemos. Queremos lembrar que esta data deve transcender um dia específico, especialmente dentro de cada uma de nós. Mesmo diante da objetificação dos nossos corpos, diferenças expressas nos salários ou nas oportunidades, privações e violências, solidões e tantas outras coisas que podem querer deixar a vida mais triste, lembre agora mesmo o quanto você é preciosa para nós e para o mundo. "Nossos passos vêm de longe", como nos ensina o livro, então perceba nossos avanços, nossas conquistas. Continue caminhando. Estamos vivas e lindas! Seja espelho para as outras e reflita em você mesma os valores construídos através dos tempos. Ame quem você é, a mulher que você se torna todos os dias, viva feliz, divida suas dores e não pare de brilhar.
      Para nós, integrantes do Coletivo Meninas Black Power, cada mulher preta que atravessa nosso caminho com experiências, lutas e alegrias para compartilhar, possui valor inestimável. Nosso coração bate mais forte ao perceber o quanto somos lindas nessa diversidade de texturas, tons, formas e ideias. Queremos agradecer por nos potencializar e dizer o quanto sentimos orgulho de cada empreendedora, estudante, profissional, pensadora e tantas outras coisas que brotam e evoluem diante dos nossos olhos. É um prazer desenvolver conteúdos que dialoguem com nossas necessidades, mas fica melhor quando podemos ouvi-la, abraça-la e receber todo o carinho. Assim sentimos que somos muitas, somos todas. Não estamos sozinhas e é maravilhoso saber que você caminha com a gente. Você é incrível e não podemos deixar de te dizer.
Muito obrigada, preta!
Seu dia é sempre.

UM JORNAL PRA CHAMAR DE NOSSO – MBP ENTREVISTA ETIENE MARTINS

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por Élida Aquino

Ilustração: Jornal Afronta
    Vocês já sabem e soa como um mantra por aqui, mas vou escrever novamente: representação é importante. Entre tantos casos diários, conhecidos ou não, de racismo e suas variações, tantas dores que o cotidiano ainda causa aos corpos pretos que circulam pelo mundo, meu coração vibra e se fortalece quando vejo mais e mais casos de resistência doce, posicionada com criatividade, produzindo conteúdo que nos une enquanto comunidade, que mostra nossas potencialidades e proporciona a visão do lado bom (que, com fé, um dia vai superar todos os outros lados da história) de sermos nós. Foi essa a sensação de conhecer o Jornal Afronta, surgindo diretamente de Minas Gerais. O lançamento aconteceu no último dia oito de Julho, na Casa Una de Cultura em Belo Horizonte. A seguir vocês conferem a conversa que tive com Etiene Martins, idealizadora do Afronta e uma jornalista que representa. Entendam melhor quem ela é, o que é o jornal e apaixonem-se por esse espaço que é todo nosso!
Vick, Etiene e Dandara no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Começa contando pra nós quem é você, de onde vem, sua formação e etc.
Etiene Martins - Eu sou graduada em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda. Iniciei minha carreira como repórter da Revista Raça Brasil em 2010, quando eu ainda cursava o terceiro período de jornalismo, posteriormente fui convidada para ser assessora de comunicação do Festival de Arte Negra que é realizado em Belo Horizonte. Sempre aliei as minhas duas paixões: o jornalismo e a cultura negra.

MBP - Como é a história do seu cabelo? Ele influenciou de alguma forma na construção do Jornal Afronta?
EM - No meu processo de politização e de me "tornar negra", eu também redescobrir a minha estética afrodescendente e depois de 25 anos alisando o cabelo, no mês da primeira edição do Jornal Afronta, comemoro meu primeiro ano de adeus à química. Esse processo foi crucial na construção desse trabalho, pois a autoestima negra faz parte da linha editorial do jornal. A nossa verdadeira beleza com o nosso verdadeiro cabelo.
A transição - Fotos: Acervo pessoal
MBP - Como surgiu a ideia de criar um jornal como o Afronta?
EM - Diante da falta de espaço para os nossos assuntos, demandas e culturas na mídia convencional, tive que recorrer a uma ideia que surgiu no Brasil em 1915, que é a Imprensa Negra, e através dessa imprensa dar voz mais uma vez ao povo negro. 

MBP - Por quanto tempo o jornal foi planejado até que estivesse em circulação?
EM - Desde de 2012 venho pensando e elaborando esse projeto, mas só agora conseguimos colocar o Afronta na rua.

MBP - Ao acessar a página do jornal vemos que a definição da ideia é "jornalismo étnico racial". O que isso quer dizer?
EM - Um jornalismo com a nossa cara, linda, preta, crespa e cheia de autenticidade.

MBP - Como funciona a equipe que trabalha na criação do jornal? 
EM - Trabalhamos com consciência e amor às nossas raízes e ao nosso povo. A equipe é pequena, mas bem articulada. Conta com um fotógrafo, uma revisora, um diretor de arte e uma jornalista. 
Galera reunida no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Sabemos bem a relação entre mídia e racismo. Como você enxerga que publicações afirmativas, como o Afronta, por exemplo, podem provocar o efeito contrário? Como podem promover o efeito de educar para a igualde e também fortalecer a comunidade negra, fazendo com que ocupe espaço de destaque?
EM - O Jornal Afronta veio para reforçar as nossas lutas por uma mídia livre, independente, anti-burguesa, anti-capitalista e bem demarcada ao lado do povo negro brasileiro. Uma imprensa de combate que evidencie sim que nosso povo negro brasileiro existe e tem uma cultura, tradição e beleza valiosa,  mesmo que tentem nos negar isso. 

MBP - E de que forma você entende que o jornal pode empoderar a população negra, especialmente mulheres negras? 
EM - A mulher negra sempre leu revistas sem se ver retratada nelas, sem estampar as capas, sempre sendo menosprezadas e invisibilizadas. O Afronta veio suprir essa demanda que as outras mídias não cobrem. O Afronta empodera sem se render aos estereótipos tão comuns propagados pela mídia branca brasileira colocando nossas mulheres nas capas, ocupando um espaço que também é nosso por direito . 

MBP - Quais pautas você considera mais relevantes entre os assuntos que permeiam a comunidade negra no Brasil e no mundo atualmente? 
EM - Nossa, são tantas! Mas a inserção no mundo acadêmico e profissional é de extrema importância, assim como o direito às práticas religiosas sem censura. O genocídio do jovem nem se fala. O poder ser negra por dentro e por fora, na pele e no cabelo e ser respeitada em todos os lugares. 
Muito #crespoamor e Jornal Afronta na Feira Ébano - Foto: Jornal Afronta
MBP - Concordamos! Agora vamos falar do lançamento. Como a primeira edição foi recebida? Quais assuntos ela abordou? 
EM - Foi recebida com muita festa, alegria e entusiasmo, afinal nosso povo encontra-se ansioso por um espaço digno na mídia. A primeira edição foi permeada por nossa beleza, falando de um evento que reuniu centenas de pessoas para celebrar a beleza do cabelo crespo em BH. Falamos também da tradição dos turbantes. O entrevistado dessa edição foi o doutor e escritor negro Edimilson Pereira de Almeida e o colunista convidado foi o carioca Ras Adauto, que vive em Berlim há mais de uma década. A matéria de capa ficou por conta da Marchas das Mulheres Negras que mobilizou mulheres do Estado de Minas inteiro e levou todas para a rua, exigindo seus direitos. 

MBP - O que podemos esperar das próximas edições? 
EM - Assuntos que comuniquem o cotidiano do povo negro brasileiro na cultura, política, beleza, educação. Pretendo falar de tudo um pouco. 

MBP - Em que locais o jornal está disponível? Pretendem abranger outros Estados? Quais e quando? 
EM - Atualmente o jornal está disponível em galerias de artes, botecos, salões de beleza, rodas de samba, universidades, feiras e eventos em que o nosso povo circula na grande BH. Na próxima edição pretendemos atingir os Estados de Rio de Janeiro e São Paulo e pouco a pouco ocupar nosso país.

É isso, Meninas. Que ideia genial, né?! 
Não deixem de curtir a página do Jornal Afronta aqui e acompanhem todas 
as novidades que virão. Beijos!

#FALANDODETRANSIÇÃO COM THAYNARA ARAUJO

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza

Fotos: Acervo pessoal
    Desde sempre compartilhamos depoimentos sobre o processo de transição. É importante pra gente repassar exemplos de descoberta, de liberdade. Isso inspira, motiva e mais que tudo: mostra que é possível reposicionar o conceito já conhecido sobre a beleza de quem somos através de nossos traços, nossas pigmentações, nossas texturas no cabelo e por aí vai.
        Hoje temos o prazer de receber a Thaynara Araujo. Ela vai contar a experiência de transição (e inspirar pra caramba!). A casa está aberta pra todas que quiserem fazer o mesmo. Use a hashtag #falandodetransição, mande email pra blogmbp@gmail.com, entre em contato com uma das integrantes do Coletivo Meninas Black Power... Enfim, use esse espaço. É nosso, é seu. Agora aproveite a ideia da Thaynara e vá lá se conhecer. Beijos!

"Enquanto mulheres e meninas negras, somos submetidas, todos os dias a um padrão imposto pela sociedade que não nos contempla. Querem que disfarcemos nossos traços, nossa cor e, principalmente, nossos cabelos. Essa imposição começa desde a mais tenra idade, na pré-escola. Na mídia, há pouquíssimo espaço para representação. Na escola, somos chamadas das maiores atrocidades possíveis e assim por diante. Comigo não foi diferente. Aos três anos, fui submetida ao mundo do 'relaxamento capilar' pela minha mãe. Numa realidade muito comum à mulher negra, ela trabalhava em três turnos e não tinha tempo para cuidar de um cabelo tão volumoso e 'trabalhoso' quanto o meu. Assim, fui apresentada à guanidina, que usei por longos anos. Durante toda minha infância e adolescência passei pelos mais variados tipos de 'relaxamento': guanidina, lítio, tioglicolato e também por outros tipos de química, como o henê indiano. Tudo com o mesmo objetivo: tornar meu cabelo mais 'maleável', de forma que fosse aceito pelos padrões estéticos da sociedade. Aos quinze anos, conheci o que foi pra mim a realização de um sonho na época: a progressiva. Ela seria o fim de todos os meus problemas, já que prometia o resultado sempre tão buscado num cabelo liso, sem volume, sem frizz. Isso significava que eu poderia ser como as meninas da minha turma, que eu poderia ser bonita também. Mas junto com a ilusão e a esperança veio o grande 'problema'. Uma raiz que nunca ficava lisa e os retoques sucessivos, cada vez num tempo menor, a fim de tentar manter um aspecto 'natural' do cabelo. Assim como muitas, foram muitos dias nos salões, aguentando enquanto a química agia no meu couro cabelo, ardendo, coçando e muitas vezes, chegando a abrir feridas. Eu não entendia o porquê daquilo e muito menos porque eu sempre ouvia o mesmo 'mulher [negra], pra ficar bonita, tem que sofrer'. Eu queria ser como todas as meninas brancas que eu conhecia, apesar disso, por mais que eu tentasse, eu não conseguia. Meu questionamento enquanto mulher preta começou quando eu tinha por volta de 15 anos, estava no Ensino Médio e comecei a estudar em uma escola pública Federal. Ainda assim, eu não me sentia representada naquele espaço, no entanto, já me perguntava sobre todas essas questões. Graças à internet e ao amplo acesso às informações que nós temos hoje em dia, conheci grupos na internet, como o Meninas Black Power, onde muitas meninas se encontravam na mesma situação que eu e só então fui capaz de compreender muitas questões, principalmente o racismo e o sexismo. Em 2013, conheci a transição capilar (processo onde você deixa seu cabelo crescer naturalmente para tirar a parte com química dele). Eu não conhecia a textura do meu próprio cabelo, não sabia como cuidar dele e não imaginava como ele ficaria natural. Por muito tempo, acreditei que não seria possível ele voltar ao normal. Foi um processo muito difícil, pois não tive apoio nem da minha própria família. Me falavam sempre o quão 'duro' meu cabelo ia ficar, que ele ficaria feio, que eu não ia aguentar e me arrependeria. Quatro meses depois, cortei meu cabelo com apenas três dedos de raiz e durante algum tempo eu o deixei crescer natural, mas com tantas críticas, acabei ficando com a autoestima muito sensibilizada e voltando a fazer progressiva no cabelo, só para 'soltar os cachos'. Não deu certo. Depois de algum tempo, meu cabelo estava completamente disforme de novo. Durante um ano, conheci muitas amigas que me deram força para voltar à transição e assumir meu cabelo. Comecei a colocar esse ato enquanto político, acima de estético. Não era mais apenas uma questão de ficar livre da química, e sim um ato de resistência, de amor à mim mesma, a minha cor e aos meus traços. Finalmente me entendi como mulher negra e só assim a transição foi possível. Dessa vez foi diferente. Não era mais algo realizado por influência externa e sim uma necessidade interna. Mais uma vez, cortei meu cabelo. Ouvi, novamente, muitas críticas mas tive o apoio necessário para continuar. Atualmente faz cerca de um ano que mantenho meu cabelo natural. Acima de tudo, fico muito feliz por sido considerada um exemplo e ter conseguido apoiar amigas que passaram pelo mesmo processo. No lugar onde eu trabalhava, muitas meninas hoje já passaram pela transição, bem como na minha família também. É sempre importante ter essa representatividade, para que possamos entender onde estamos, quem somos e saber que podemos e devemos ocupar 
todos os espaços."

O NEGRO NA TELEVISÃO

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por Nathali Lima
Zózimo Bulbul | Fonte: Google
      A importância da televisão na vida do cidadão brasileiro é inegável. Presente na maioria das casas acabou tornando-se instrumento fundamental na formação cultural do país. Dentre as diversas formas propostas pelo contexto televisivo de entreter, estão as telenovelas. As novelas exibidas na televisão são, de longe, a construção de ficção televisiva que mais desperta interesse no telespectador. Diante de uma sociedade que excluí sistematicamente o negro dos espaços de poder, a televisão não poderia ser diferente. Esse tipo de produção artística é distribuído largamente por todo o país e é consumido por uma grande parcela da população.
      Por sua relevância, é importante levantar a questão da desigualdade racial e a sua falsa inclusão: onde o negro ocupa o lugar de cidadão de segunda classe exercendo um papel rejeitado pelo branco e que acaba, dentro da lógica racista, por legitimar a exclusão estrutural de negros nesses espaços. Entendendo-a como instrumento para manutenção da hegemonia imposta pelo racismo (justamente por ser acessível e presente no cotidiano dos brasileiros) é notável a baixa representatividade negra na televisão e, na grande maioria dos casos, quando inseridos é para fazer uma representação caricata.

Equipe Tá Bom Pra Você? | Fonte: Google
     Nas novelas, os negros encenam, quase sempre, papéis de personagens subalternos ou que não ganham destaque na trama. Sabendo das limitações em oportunidades presentes nesse ramo, podemos imaginar a escassez de trabalho para artistas negros. Em 1964, Isaura Bruno, mulher negra, ganhou notoriedade por seu papel no sucesso televisivo "O Direito de Nascer". O sucesso não garantiu uma carreira estável. Morreu pobre, trabalhando como ambulante. É necessário, para além das exigências que visam garantir a presença do negro em espaços como esses, majoritariamente brancos e racistas em sua raiz, formular espaços que sejam inclusivos, em sua essência, a esse tipo de postura. Felizmente, a internet proporciona a atores, escritores e artistas visuais negros a possibilidade de criação para além do mainstream e das grandes corporações televisivas. Iniciativas como o canal "Tá bom pra você?" ilustram as alternativas presentes para trabalhar o negro e o processo criativo paralelamente com a inserção do negro no cenário televisivo e da grande mídia.
      É importante que esse processo que visa inserir o negro na televisão seja acompanhado de uma visão crítica e da intenção em propor um debate sobre a exclusão dos negros nesses espaços. Tornar essa discussão possível é abrir caminho para que ela torne-se possível em outras esferas da sociedade.      

O TEXTO DE LADO A LADO E A SUBLEVAÇÃO DO SENSO COMUM SOBRE AS ASSIMETRIAS RACIAIS NO BRASIL

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   O capítulo de Lado a lado, veiculado no entardecer do primeiro sábado de março, do ano da vitória de 2013, entrou para os anais da teledramaturgia brasileira. Eram inacreditáveis, insondáveis, imprevisíveis, cenas como aquelas na Rede Globo, onde a liberdade de expressão tem sido tão limitada.


    Na primeira cena antológica, Isabel (Camila Pitanga) amparada por Afonso (Milton Gonçalves) conta a Elias (Cauê Campos) que a moça dos doces, sua avó, Constância (Patrícia Pillar) é a bruxa da história. Quando indagada por Elias sobre por que Constância não gostava dela, Isabel diz que era pobre. Elias, o menino esperto, tem resposta para tudo e diz que não são mais pobres e que Constância pode ter mudado, ter-se arrependido, faz tanto tempo que ela o roubou da mãe. O diálogo é mais rico e dramático do que esta síntese. A memória recente apagou detalhes, haja vista que a analista foi para o espaço e me tornei simples telespectadora, sem caneta e caderno à mão.

  A cena descrita foi muito feliz ao captar a ignomínia do racismo, já anunciada por Isabel em capítulos anteriores. Como é que a mãe explica a uma criança que ela vale menos porque é negra, contrariando todo o empenho dela, a mãe, para tratá-lo como menino especial. Se bem observarmos, Elias e Melissa (Eliz David) vestem-se de maneira diferente de todas as outras crianças do morro, comem outra comida em suas respectivas casas, têm outros hábitos e acessos. Melissa é branca e rica, Elias é como as crianças do morro, mesmo tendo se tornado de classe média.
   O novo é a explicitação de que não interessa ter recursos econômicos e simbólicos frente ao racismo, você continua sendo negro e por isso, considerado inferior, manipulável. Elias é aquele que deveria crescer escondido para não envergonhar a família branca da avó. Aquele que não foi assassinado na hora do parto porque num rudimento de humanidade, a vilã resolve trocar a criança viva por outra morta, comprada de uma mãe infeliz e miserável qualquer. Isabel, Afonso, tia Jurema (Zezeh Barbosa), Zé Maria (Lázaro Ramos) e o restante do núcleo negro, incluindo as comparsas de Constância, parecem ser os únicos a compreender a monstruosidade da baronesa em toda sua extensão. Ela pagou alguém para comprar uma criança morta, usada para substituir outra, nascida viva, caso alguém tenha esquecido.
   A segunda cena abre com Isabel dizendo ao pai: “negro, porque você é negro! Eu não consegui dizer ao meu filho que a avó o roubou de mim porque ele é negro.” É um diálogo de dois negros em carne-viva, dilacerados pelo racismo o que se ouve a seguir, às sete da noite, como uma lua linda dando o ar da graça pela janela. De quebra, o pai conservador parece compreender que o ofício da filha, de empresária e dona de um teatro, cujas atividades acontecem também à noite, é um trabalho digno.
   Noutra cena do capítulo magistral, Laura (Marjorie Estiano) aceita a proposta de Edgar (Thiago Fragoso) de que ela seja a testemunha responsável por reabrir o processo de rapto de Elias, considerando que ela, mulher branca, filha da vilã, ouviu a megera confessar a Isabel e Afonso (dois negros que nada valem e diretamente interessados no litígio) que, realmente, raptara o recém-nascido Elias. Bingo! O mocinho advogado e a mocinha filha da vilã entenderam o papel estratégico que tinham a desempenhar naquela situação. Edgar honra alcunha de ser um dos melhores advogados do Rio de Janeiro de então e Laura agirá de acordo com sua consciência ética e sua noção imparcial de justiça.
     Na última cena do dia memorável, Laura trava luta corporal com a mãe para entregar uma matéria sobre corrupção no Judiciário para o jornal de Guerra (Emílio de Mello). Reportagem assinada por ela, Laura Vieira, não por Paulo Lima, seu fantasma e, ainda melhor, incriminando o promotor Coimbra, responsável pelo arquivamento do processo de Constância, mediante polpudo suborno.
     Arre Frederico, foi um capítulo de tirar o fôlego. Que os orixás mantenham Ali Kamel em estado hibernal. Caso esteja acordado, pode apenas ser uma no cravo, outra na ferradura. Lógica global, enquanto pipoca a chamada para a próxima novela.
     Que Lado a lado crie raízes fortes, floresça e frutifique, pelo menos entre seus seguidores e seguidoras que a tem levado para o debate sobre relações raciais nas escolas públicas, em universidades, em trabalhos de conclusão de curso, artigos, monografias e dissertações sobre mídia e representação social.

Texto de Cidinha Silva