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MULHERES PRETAS QUE MOVIMENTAM #1 - LUEDJI LUNA

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por Karina Vieira
Foto: Alile Dara

     Em Julho é comemorado o mês da mulher negra latina americana e caribenha e para homenagear todas as mulheres pretas que fazem acontecer, lançaremos durante o mês, uma série de entrevistas com mulheres incríveis que o mundo tem que conhecer. Cantoras, fotógrafas, artistas, bailarinas, produtoras, psicólogas, filósofas, comunicólogas... Mulheres que fazem a diferença em suas áreas e na vida de outras mulheres. Inspiração. Abrindo a série Mulheres Pretas que Movimentam, conheçam: Luedji Luna.


Foto: Nti Uirá

     Conheci a música linda de Luedji Luna (ouçam: Dentro Ali) quando estava passando pelo momento mais difícil da minha vida, a passagem de minha mãe. Em versos como "Caso esteja por vir/me reconheça ali/em um domingo de sol/ou um dia qualquer/ apareça!" Luedji me acalentou com sua sonoridade intimista e carinhosa, com sua voz tranquila e malemolência baiana e me acalmou como poucas vezes senti ao ser tocada por alguma canção. Luedji é pura poesia e na entrevista que segue vocês poderão conhecer um pouco mais dela.

MBP - Quem é Luedji Luna?
LUEDJI - Eu sou Luedji Luna, filha de Adelaide Santa Rita e Orlando Santa Rita, neta de Maria da Paixão Santa Rita e Eliezer Santa Rita, e de Eutália de Jesus Gomes e Lorival de Jesus Gomes. Mulher, preta, baiana, cantora e compositora.

MBP - O que te levou a escolher a sua profissão?
LL - Eu não escolhi a música, foi ela quem me escolheu!

MBP - Como foi o caminho da sua graduação? 
LL - Foi um caminho árduo, porque foi um caminho de negação do meu próprio caminho. Eu não estudei música, não me formei em música, negava a música a todo custo, a custo da minha própria saúde mental, emocional, espiritual, eu jamais seria cantora, eu jamais viveria de música, isso não estava dentro do projeto político e de vida dos que me antecederam, por essa razão eu passei numa universidade pública, fui uma boa aluna, e fiz um curso tradicional, mas aquilo que tem de ser tem muita força. Hoje eu sou!

MBP - Como se deu a descoberta da sua negritude?
LL - Eu acredito que a descoberta da minha negritude é um processo, ela é uma descoberta contínua, porque temos muita coisa do racismo pra desconstruir, e ainda há muito o que se curar. No meu caso, eu acredito que essa descoberta se deu na medida em que eu comecei a me posicionar politicamente, a agir no mundo nesse sentido, foi com a militância, a negritude é um ser/fazer. Eu nunca tive crise de identidade, nunca me vi como uma mulher branca, ou quis ser uma, sou de uma cidade onde mais da metade da população é negra , que se sabe negra, e que cultua essa raiz,  sou filha de pais militantes, que me deram um nome africano, portanto, ser negra, e saber-me negra nunca foi um dilema, a descoberta da minha negritude  acontece na medida em que começo a me colocar e interferir no mundo a partir do lugar de mulher negra, na medida do que posso, e do que sei fazer, que é arte. O que eu quero dizer com isso é que ser negro, e se reconhecer como negro, numa sociedade como a nossa, racista, genocida e segregadora, não basta pra ser negro.

MBP - Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
LL - Minha mãe Adelaide Santa Rita, meu pai Orlando Santa Rita, minha tia Rita Santa Rita, Vilma Reis, e na música Nina Simone e Tiganá Santana.

MBP - Quem é aquela mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
LL - Tatiana Nascimento. mulher, preta, lésbica, militante, e a poeta mais sensível que eu já conheci.

MBP - Na sua trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar?
LL - Na música é muito comum ver a mulher negra no lugar da sambista, e isso é maravilhoso. Pra mim cantar samba é uma missão, uma espécie de chamado mesmo; mas o samba é também, de certo modo, um lugar  imposto, é onde a mulher negra pode ter êxito e reconhecimento na carreira como cantora, muito pouco se fala das cantoras negras não sambistas, nossos ícones da MPB /Jazz/Bossa Nova são todas brancas, enquanto que Alaíde Costa, Zezé Motta, Daúde e tantas outras, são cantoras (algumas dessas também compositoras), sequer lembradas ou têm o reconhecimento que merecem. É desafiador ser cantora, negra, não sambista, e intérprete das próprias canções... Vanessa da Matta, Ellen Oléria, Larissa Luz, Anelis Assumpção são cantoautoras negras dessa geração que me mostram um caminho possível... Sigo! 

MBP - Como você lida com a sua estética negra?
LL - Eu me cuido com óleo de coco da cabeça aos pés, gosto de óleo de amêndoa também pra o corpo, uso óleo essencial de patchuli e perfume alfazema. É todo cuidado estético que eu tenho, rs.

MBP - O que é representatividade pra você?LL - Representatividade, no contexto que a gente vive, numa sociedade capitalista, onde quem detém os meios de produção, os meio de comunicação, onde quem ocupa os espaços de poder são pessoas brancas, é importante sim! Uma Thaís Araújo na TV, um Lázaro Ramos, e um Obama na presidência é importante sim. Parece que vivemos em um mundo que não é nosso, porque ele é hegemonicamente branco em todas as instâncias, nesse sentido, se ver representado no outro nos dá sentido de existência, e isso é muito. Mas é preciso pensar além, é preciso que a gente comece a construir nossos próprios espaços, e não ficarmos tão limitados a essa ideia de representação. Eu vejo a representatividade como um passo, uma estratégia, não o fim.

Saibam mais sobre a Luedji Luna:
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SER PRETO

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por Victor Soares
Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!
      Sou eu mais um exemplo do povo brasileiro: filho de imigrante preto e mãe branca, menos pigmentado, cabelo crespo... Enfim, alguém como a maioria esmagadora da nossa população. No Brasil, ter a pele mais clara possibilita alguns benefícios dos quais poderia usufruir se me identificasse como branco. Somos muitos pretos "facultativos", "pardos" e outras classificações com nomes estranhos que só existem aqui.
      Tenho a pele clara o suficiente para já ter sido chamado de branco na vida, ignorando meus traços, cabelo e origem. A miscigenação trouxe um conflito de identidade no brasileiro que foi educado com a premissa de "branco é bom, preto é ruim". Se você é uma mistura dos dois é enquadrado na bizarra paleta de cores do moreno claro, jambo, mulata (palavra horrível), onde quanto mais escuro você é, mais você vai sofrer.


Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!
      Então, por que me declaro preto? Sou mais claro, poderia simplesmente raspar a cabeça e passar "despercebido". Passei a minha infância de cabelo raspado, afinal, menina crespa alisa e menino crespo raspa, só para atender aos padrões daquela sociedade que transforma maioria em minoria.
       Como a maioria pode ser oprimida? No meu ponto de vista, o motivo é que a maioria preta desse país não se vê como tal. É fundamental a luta dos coletivos (como as maravilhosas MBP), grupos e instituições pelos direitos e o empoderamento dos negros. Eu me declarei homem preto no trabalho e me disseram: 
— Não, você é moreno! Pois na cabeça deles é absurdo alguém escolher ser preto quando teria a opção de não ser.

Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!

     Chamo a atenção pelo meu cabelo crespo, ouço piadas preconceituosas e insinuações porque não me encaixo nos padrões esperados para um engenheiro numa grande empresa, mas sigo em frente, estou na linha de frente, mais um homem preto em um corporativo e engravatado mundo branco.
       Estamos chegando lá, mano, somos reis e rainhas. Ah, se quiserem cortar meu cabelo, já tenho a resposta na ponta da língua afiada. Agora que descobri ser rei, não venha querer tirar minha coroa. Agora que nos deram voz, não vamos mais nos calar.

Saiba mais sobre o tema: 
Blogueira Negra - Colorismo: quem decide?

* Victor Soares, autor convidado, é um homem preto, formado em Engenharia Civil e pós-graduação em Logística. Jogador de basquete nas horas vagas.

"TENTA PRA VER!" - GABRIELO GABRIELO E O BC

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza

Foto: Gabrielo Gabrielo
      Hoje a gente conta com a presença especial desse muso que arrasa e faz a gente se divertir demais (assista aos vídeos aqui)! Ele acabou de fazer o corte e deixou esse depoimento tão maravilhoso quanto ele pra dividir um pouco a sensação desafiadora e ao mesmo tempo encorajadora de entrar em contato com o próprio cabelo. Você está num momento de transição, cogitando o BC ou pensando em como é o seu cabelo de fato? Então vem aqui ler o que ele tem pra contar e, como de costume por aqui, inspire-se!

"Confesso que ainda dói um pouco ver que 60 ou 70% do meu cabelo foi embora... 
Mas foi por uma boa causa. Falam tanto de cabelo ruim e cabelo bom, quando na verdade o que arrasa mais é o que veio ao mundo de um jeito e permanece da mesma forma. Eu - já que muita gente não me aceitava nem um pouco com cabelo crespo ou cheio - fazia questão de aplicar produto químico pra no mínimo baixar o volume. Há uns meses atrás decidi mudar isso! Fiz meu corte de pontas. Como as pontas estavam cacheadas, escondiam o dano que a química causou na estrutura do meu cabelo. Ali estavam elas... As sequelas deixadas no resto do “belão”. Estavam à mostra. Eu já imaginava que elas iriam aparecer, mas foi preciso fazer! Mesmo assim não tive coragem suficiente pra jogar fora o que me restava... Me contentei com trapos! Decidi depois de um tempo: "Cansei desses arames feios! Isso é um cacho? Uma onda? O que é?". Esse sim é o cabelo que precisa ser domado: o danificado. Ou você se contenta com essas formas estranhas que essas tais empresas de relaxamento "zicas" colocam no seu cabelo, ou aceita o teu natural. Tanta gente não tem noção de como o próprio natural é lindo! Deixa ele crescer, vê pelo menos a sua raiz. Agora multiplica ela por 10. Por 50... Por 100 centímetros além... Olha que lindo! Não são só as modelos de revista ou as dançarinas da Beyoncé que fica bem assim, não. Experimenta pra ver! Dói em mim agora, mas daqui há pouco eu espero ver ele a coisa mais linda desse mundo. Eu amo o meu cabelo, do jeito que ele é! Beijos!"

#FALANDODETRANSIÇÃO COM KARINA VIEIRA

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por Karina Vieira
     Voltando àquele papo sobre o quanto é empoderador ver as minas tudo assumindo seus cabelos crespos, sendo do comprimento que for: bem, passar pelo BC é difícil, doloroso e por muitas vezes pensei que não aguentaria a pressão, afinal há muita gente ao seu lado, mas também há um monte pra testar sua fé. Porém o mais difícil está por vir. O cabelo que está crescendo só encontra sustentação se estiver firmado em raízes e essas estão dentro da cabeça.
     Como li várias vezes durante a semana, assumir-se crespa começa na estética, mas precisa ser algo além. As piadinhas dos amigos mais próximos começam a perder a graça. A invisibilidade midiática fica mais gritante. O fato de você não ver pessoas como você nos lugares de poder incomoda cada dia mais. Ver corpos pretos sendo mortos e arrastados fica latente, deixa de ser apenas número e passar a ser sentido na própria pele.
     Aí começa a verdadeira revolução. A estética vira política e eu só encontrei sustentação quando me amparei no Coletivo, quando percebi que a mudança que começava em mim só fazia sentido se reverberasse nos meus. O coletivo não tem esse nome à toa. Ele só existe porque não é feito de "eu", mas sim de "nós". 
Estética é política, sim. Ou pelo menos pode ser o começo.

PRETA, SEU DIA É SEMPRE!

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por Coletivo Meninas Black Power


      25 de Julho, Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha e da lembrança de Tereza de Benguela, ícone da resistência ente mulheres negras no Brasil. Um dia todo nosso desde 1992, quando a data foi criada, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas.
      Você deve ter notado que não falamos nada antes, né? Sim, desta vez chegamos propositalmente atrasadas, mas não esquecemos. Queremos lembrar que esta data deve transcender um dia específico, especialmente dentro de cada uma de nós. Mesmo diante da objetificação dos nossos corpos, diferenças expressas nos salários ou nas oportunidades, privações e violências, solidões e tantas outras coisas que podem querer deixar a vida mais triste, lembre agora mesmo o quanto você é preciosa para nós e para o mundo. "Nossos passos vêm de longe", como nos ensina o livro, então perceba nossos avanços, nossas conquistas. Continue caminhando. Estamos vivas e lindas! Seja espelho para as outras e reflita em você mesma os valores construídos através dos tempos. Ame quem você é, a mulher que você se torna todos os dias, viva feliz, divida suas dores e não pare de brilhar.
      Para nós, integrantes do Coletivo Meninas Black Power, cada mulher preta que atravessa nosso caminho com experiências, lutas e alegrias para compartilhar, possui valor inestimável. Nosso coração bate mais forte ao perceber o quanto somos lindas nessa diversidade de texturas, tons, formas e ideias. Queremos agradecer por nos potencializar e dizer o quanto sentimos orgulho de cada empreendedora, estudante, profissional, pensadora e tantas outras coisas que brotam e evoluem diante dos nossos olhos. É um prazer desenvolver conteúdos que dialoguem com nossas necessidades, mas fica melhor quando podemos ouvi-la, abraça-la e receber todo o carinho. Assim sentimos que somos muitas, somos todas. Não estamos sozinhas e é maravilhoso saber que você caminha com a gente. Você é incrível e não podemos deixar de te dizer.
Muito obrigada, preta!
Seu dia é sempre.

UM JORNAL PRA CHAMAR DE NOSSO – MBP ENTREVISTA ETIENE MARTINS

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por Élida Aquino

Ilustração: Jornal Afronta
    Vocês já sabem e soa como um mantra por aqui, mas vou escrever novamente: representação é importante. Entre tantos casos diários, conhecidos ou não, de racismo e suas variações, tantas dores que o cotidiano ainda causa aos corpos pretos que circulam pelo mundo, meu coração vibra e se fortalece quando vejo mais e mais casos de resistência doce, posicionada com criatividade, produzindo conteúdo que nos une enquanto comunidade, que mostra nossas potencialidades e proporciona a visão do lado bom (que, com fé, um dia vai superar todos os outros lados da história) de sermos nós. Foi essa a sensação de conhecer o Jornal Afronta, surgindo diretamente de Minas Gerais. O lançamento aconteceu no último dia oito de Julho, na Casa Una de Cultura em Belo Horizonte. A seguir vocês conferem a conversa que tive com Etiene Martins, idealizadora do Afronta e uma jornalista que representa. Entendam melhor quem ela é, o que é o jornal e apaixonem-se por esse espaço que é todo nosso!
Vick, Etiene e Dandara no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Começa contando pra nós quem é você, de onde vem, sua formação e etc.
Etiene Martins - Eu sou graduada em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda. Iniciei minha carreira como repórter da Revista Raça Brasil em 2010, quando eu ainda cursava o terceiro período de jornalismo, posteriormente fui convidada para ser assessora de comunicação do Festival de Arte Negra que é realizado em Belo Horizonte. Sempre aliei as minhas duas paixões: o jornalismo e a cultura negra.

MBP - Como é a história do seu cabelo? Ele influenciou de alguma forma na construção do Jornal Afronta?
EM - No meu processo de politização e de me "tornar negra", eu também redescobrir a minha estética afrodescendente e depois de 25 anos alisando o cabelo, no mês da primeira edição do Jornal Afronta, comemoro meu primeiro ano de adeus à química. Esse processo foi crucial na construção desse trabalho, pois a autoestima negra faz parte da linha editorial do jornal. A nossa verdadeira beleza com o nosso verdadeiro cabelo.
A transição - Fotos: Acervo pessoal
MBP - Como surgiu a ideia de criar um jornal como o Afronta?
EM - Diante da falta de espaço para os nossos assuntos, demandas e culturas na mídia convencional, tive que recorrer a uma ideia que surgiu no Brasil em 1915, que é a Imprensa Negra, e através dessa imprensa dar voz mais uma vez ao povo negro. 

MBP - Por quanto tempo o jornal foi planejado até que estivesse em circulação?
EM - Desde de 2012 venho pensando e elaborando esse projeto, mas só agora conseguimos colocar o Afronta na rua.

MBP - Ao acessar a página do jornal vemos que a definição da ideia é "jornalismo étnico racial". O que isso quer dizer?
EM - Um jornalismo com a nossa cara, linda, preta, crespa e cheia de autenticidade.

MBP - Como funciona a equipe que trabalha na criação do jornal? 
EM - Trabalhamos com consciência e amor às nossas raízes e ao nosso povo. A equipe é pequena, mas bem articulada. Conta com um fotógrafo, uma revisora, um diretor de arte e uma jornalista. 
Galera reunida no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Sabemos bem a relação entre mídia e racismo. Como você enxerga que publicações afirmativas, como o Afronta, por exemplo, podem provocar o efeito contrário? Como podem promover o efeito de educar para a igualde e também fortalecer a comunidade negra, fazendo com que ocupe espaço de destaque?
EM - O Jornal Afronta veio para reforçar as nossas lutas por uma mídia livre, independente, anti-burguesa, anti-capitalista e bem demarcada ao lado do povo negro brasileiro. Uma imprensa de combate que evidencie sim que nosso povo negro brasileiro existe e tem uma cultura, tradição e beleza valiosa,  mesmo que tentem nos negar isso. 

MBP - E de que forma você entende que o jornal pode empoderar a população negra, especialmente mulheres negras? 
EM - A mulher negra sempre leu revistas sem se ver retratada nelas, sem estampar as capas, sempre sendo menosprezadas e invisibilizadas. O Afronta veio suprir essa demanda que as outras mídias não cobrem. O Afronta empodera sem se render aos estereótipos tão comuns propagados pela mídia branca brasileira colocando nossas mulheres nas capas, ocupando um espaço que também é nosso por direito . 

MBP - Quais pautas você considera mais relevantes entre os assuntos que permeiam a comunidade negra no Brasil e no mundo atualmente? 
EM - Nossa, são tantas! Mas a inserção no mundo acadêmico e profissional é de extrema importância, assim como o direito às práticas religiosas sem censura. O genocídio do jovem nem se fala. O poder ser negra por dentro e por fora, na pele e no cabelo e ser respeitada em todos os lugares. 
Muito #crespoamor e Jornal Afronta na Feira Ébano - Foto: Jornal Afronta
MBP - Concordamos! Agora vamos falar do lançamento. Como a primeira edição foi recebida? Quais assuntos ela abordou? 
EM - Foi recebida com muita festa, alegria e entusiasmo, afinal nosso povo encontra-se ansioso por um espaço digno na mídia. A primeira edição foi permeada por nossa beleza, falando de um evento que reuniu centenas de pessoas para celebrar a beleza do cabelo crespo em BH. Falamos também da tradição dos turbantes. O entrevistado dessa edição foi o doutor e escritor negro Edimilson Pereira de Almeida e o colunista convidado foi o carioca Ras Adauto, que vive em Berlim há mais de uma década. A matéria de capa ficou por conta da Marchas das Mulheres Negras que mobilizou mulheres do Estado de Minas inteiro e levou todas para a rua, exigindo seus direitos. 

MBP - O que podemos esperar das próximas edições? 
EM - Assuntos que comuniquem o cotidiano do povo negro brasileiro na cultura, política, beleza, educação. Pretendo falar de tudo um pouco. 

MBP - Em que locais o jornal está disponível? Pretendem abranger outros Estados? Quais e quando? 
EM - Atualmente o jornal está disponível em galerias de artes, botecos, salões de beleza, rodas de samba, universidades, feiras e eventos em que o nosso povo circula na grande BH. Na próxima edição pretendemos atingir os Estados de Rio de Janeiro e São Paulo e pouco a pouco ocupar nosso país.

É isso, Meninas. Que ideia genial, né?! 
Não deixem de curtir a página do Jornal Afronta aqui e acompanhem todas 
as novidades que virão. Beijos!

#FALANDODETRANSIÇÃO COM THAYNARA ARAUJO

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza

Fotos: Acervo pessoal
    Desde sempre compartilhamos depoimentos sobre o processo de transição. É importante pra gente repassar exemplos de descoberta, de liberdade. Isso inspira, motiva e mais que tudo: mostra que é possível reposicionar o conceito já conhecido sobre a beleza de quem somos através de nossos traços, nossas pigmentações, nossas texturas no cabelo e por aí vai.
        Hoje temos o prazer de receber a Thaynara Araujo. Ela vai contar a experiência de transição (e inspirar pra caramba!). A casa está aberta pra todas que quiserem fazer o mesmo. Use a hashtag #falandodetransição, mande email pra blogmbp@gmail.com, entre em contato com uma das integrantes do Coletivo Meninas Black Power... Enfim, use esse espaço. É nosso, é seu. Agora aproveite a ideia da Thaynara e vá lá se conhecer. Beijos!

"Enquanto mulheres e meninas negras, somos submetidas, todos os dias a um padrão imposto pela sociedade que não nos contempla. Querem que disfarcemos nossos traços, nossa cor e, principalmente, nossos cabelos. Essa imposição começa desde a mais tenra idade, na pré-escola. Na mídia, há pouquíssimo espaço para representação. Na escola, somos chamadas das maiores atrocidades possíveis e assim por diante. Comigo não foi diferente. Aos três anos, fui submetida ao mundo do 'relaxamento capilar' pela minha mãe. Numa realidade muito comum à mulher negra, ela trabalhava em três turnos e não tinha tempo para cuidar de um cabelo tão volumoso e 'trabalhoso' quanto o meu. Assim, fui apresentada à guanidina, que usei por longos anos. Durante toda minha infância e adolescência passei pelos mais variados tipos de 'relaxamento': guanidina, lítio, tioglicolato e também por outros tipos de química, como o henê indiano. Tudo com o mesmo objetivo: tornar meu cabelo mais 'maleável', de forma que fosse aceito pelos padrões estéticos da sociedade. Aos quinze anos, conheci o que foi pra mim a realização de um sonho na época: a progressiva. Ela seria o fim de todos os meus problemas, já que prometia o resultado sempre tão buscado num cabelo liso, sem volume, sem frizz. Isso significava que eu poderia ser como as meninas da minha turma, que eu poderia ser bonita também. Mas junto com a ilusão e a esperança veio o grande 'problema'. Uma raiz que nunca ficava lisa e os retoques sucessivos, cada vez num tempo menor, a fim de tentar manter um aspecto 'natural' do cabelo. Assim como muitas, foram muitos dias nos salões, aguentando enquanto a química agia no meu couro cabelo, ardendo, coçando e muitas vezes, chegando a abrir feridas. Eu não entendia o porquê daquilo e muito menos porque eu sempre ouvia o mesmo 'mulher [negra], pra ficar bonita, tem que sofrer'. Eu queria ser como todas as meninas brancas que eu conhecia, apesar disso, por mais que eu tentasse, eu não conseguia. Meu questionamento enquanto mulher preta começou quando eu tinha por volta de 15 anos, estava no Ensino Médio e comecei a estudar em uma escola pública Federal. Ainda assim, eu não me sentia representada naquele espaço, no entanto, já me perguntava sobre todas essas questões. Graças à internet e ao amplo acesso às informações que nós temos hoje em dia, conheci grupos na internet, como o Meninas Black Power, onde muitas meninas se encontravam na mesma situação que eu e só então fui capaz de compreender muitas questões, principalmente o racismo e o sexismo. Em 2013, conheci a transição capilar (processo onde você deixa seu cabelo crescer naturalmente para tirar a parte com química dele). Eu não conhecia a textura do meu próprio cabelo, não sabia como cuidar dele e não imaginava como ele ficaria natural. Por muito tempo, acreditei que não seria possível ele voltar ao normal. Foi um processo muito difícil, pois não tive apoio nem da minha própria família. Me falavam sempre o quão 'duro' meu cabelo ia ficar, que ele ficaria feio, que eu não ia aguentar e me arrependeria. Quatro meses depois, cortei meu cabelo com apenas três dedos de raiz e durante algum tempo eu o deixei crescer natural, mas com tantas críticas, acabei ficando com a autoestima muito sensibilizada e voltando a fazer progressiva no cabelo, só para 'soltar os cachos'. Não deu certo. Depois de algum tempo, meu cabelo estava completamente disforme de novo. Durante um ano, conheci muitas amigas que me deram força para voltar à transição e assumir meu cabelo. Comecei a colocar esse ato enquanto político, acima de estético. Não era mais apenas uma questão de ficar livre da química, e sim um ato de resistência, de amor à mim mesma, a minha cor e aos meus traços. Finalmente me entendi como mulher negra e só assim a transição foi possível. Dessa vez foi diferente. Não era mais algo realizado por influência externa e sim uma necessidade interna. Mais uma vez, cortei meu cabelo. Ouvi, novamente, muitas críticas mas tive o apoio necessário para continuar. Atualmente faz cerca de um ano que mantenho meu cabelo natural. Acima de tudo, fico muito feliz por sido considerada um exemplo e ter conseguido apoiar amigas que passaram pelo mesmo processo. No lugar onde eu trabalhava, muitas meninas hoje já passaram pela transição, bem como na minha família também. É sempre importante ter essa representatividade, para que possamos entender onde estamos, quem somos e saber que podemos e devemos ocupar 
todos os espaços."

O ANO PASSOU, A DOR PERMANECEU, MAS A LUTA CONTINUA

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por Arielly Santos

Fonte: Google
     Desde que assumi a minha identidade, comecei a ver as coisas ao meu redor de outra forma, tendo sempre em mente que sou uma eterna aprendiz. Sempre estudei em escola pública e há dois anos atrás passei para o Ensino Médio (um dos períodos que parece ser mais difícil na vida das jovens negras). Naquele ano, não tive tantos problemas em relação às minhas posições, afinal estava passando pela fase de descobertas como menina negra, percebendo qual era e é o meu lugar dentro da sociedade e tendo um outro olhar. 
      O ano passou, minhas ideias começam a amadurecer e as coisas mudaram, inclusive o turno em que estudava. Passei para o matutino, o turno mais elogiado da escola. Lembro-me dos primeiros meses, numa aula de Língua Portuguesa enquanto corrigíamos alguns exercícios, onde um destes abordava o negro no Brasil há mais de 80 anos atrás. Foi quando iniciou-se um longo debate sobre a questão do sistema de cotas raciais nas universidades brasileiras. Olhei ao meu redor e a maioria dos alunos não eram favoráveis, a minoria que talvez fosse, não se pronunciava, talvez por medo de ser contrariada. Foi ali que levantei a voz dizendo que eu era a favor. De repente o silencio tomou conta de todos e me olharam como se eu fosse um ser de outro planeta. Aquela foi a primeira vez que me posicionei e defendi aquilo que eu pensava, mal sabia que a partir disso eu precisaria ser mais forte, pois a luta só estava começando.
     Após alguns meses, uma rádio bem conhecida em minha cidade estava fazendo aniversário, como forma de comemoração foram organizados vários shows de artistas nacionais na orla da praia, aberto à população. No grupo virtual da turma, na tentativa de intimidar-me, um de meus colegas comentou que "só daria NEGRO roubando naquele evento", minha resposta àquele comentário inútil foi o silêncio e por isso resolvi sair dali, passando a ser tachada como "politicamente correta" pela maioria. Foi assim que se iniciaram as chacotas em cima do que eu defendia, cheguei a pensar que podia estar sendo radical. 
       Os meses se passaram e Agosto estava ali batendo na porta, era o mês em que ocorreria um desfile na escola e cada turma teria seus representantes. Nunca fui fã de desfiles (já que sempre o relacionam a concurso de beleza). No início me animei a participar, pois via aquilo como uma forma de representar as jovens negras que muitas vezes se retraem por culpa de um padrão de beleza que não as enquadra. Porém, logo desanimei. Ao olhar à minha volta e ser apoiada por alguns, resolvi me inscrever para o tal desfile. 
      O dia chegou e por onde andava via maquiagens, ansiedade, tensão e eu estava ali, calma e com um pouco de receio do que poderia vir, mas segui em frente. O resultado foi inesperado para muitos, mas ali estava eu, a segunda menina negra daquela escola a alcançar um dos lugares que os padrões de beleza e a baixa autoestima não permitem que muitas de nós sigamos em frente. Não podia acreditar e talvez já estivesse prevendo o que estava por vir. Fui alvo de piadas, racismo e preconceitos em forma de "opinião". Naqueles momentos me via como Nayara Justino, Lupita Nyong’o e muitas mulheres pretas que passaram por essas e outras situações.
      Lembrava-me que desde criança nunca me vi na televisão de forma que pudesse ter orgulho daquilo que eu realmente sou, mas hoje tenho grandes exemplos de mulheres negras que me orgulham e são verdadeiros espelhos. Ao pensar nelas, minhas forças se renovavam para seguir em frente. A luta pela desconstrução do racismo dentro do ambiente escolar não é fácil, e muitas vezes acaba sendo árdua, nos fazendo pensar em desistir, mas quando lembramos que no passado muitos negros e negras lutaram e não cessaram, temos mais um motivo para não desistir. O ano passou, a dor permaneceu e está cicatrizando, mas e a luta? Esta deve continuar.

DICA DE LEITURA MBP: UMA PRINCESA NADA BOBA

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por Élida Aquino
Rainha Nzinga | Ilustração: Biel Carpenter
      Como integrante do Coletivo Meninas Black Power posso afirmar que uma das nossas maiores crenças é no empoderamento, no potencial do compartilhamento. Ideias como as nossas, projetos que se levantam e colocam crianças pretas como alvo principal ou livros que fazem com que elas se observem de pertinho, por exemplo, são imprescindíveis para a construção de um novo tempo na vida da população negra no Brasil e é por isso que temos investido tempo e energia. Formar crianças e jovens que valorizem sua comunidade e herança é precioso. Nós por nós é a tática. Se não nos incluem e insistem em nos quebrar diariamente, vamos lutar por nossos direitos e também vamos falar para os nossos sobre nós, o que somos e o que queremos.
      Volta e meia o Coletivo dialoga com mães, pais e profissionais da educação que buscam colocar este empoderamento na rotina das crianças e temos total interesse em fazer das mídias Meninas Black Power fonte de inspiração. Hoje é dia de inspirar com dica preciosíssima pra quem quer empoderar! Recebemos "Uma princesa nada boba" do próprio Luiz Antonio, autor do livro. Ele leu "Para princesas visíveis", um dos posts mais recentes por aqui, e entendeu que falamos da mesma coisa. Foi uma honra poder receber o carinho das mensagens, perceber como ele compreendeu a ideia. Aliás, o post em questão mostrou o óbvio: mulheres de hoje não esquecem o quanto o sistema lhes privou da possibilidade de se sentirem lindas e meninas de hoje passam pelas mesmas privações. Felizmente continuamos insistindo, apoiando, empoderando, quebrando o sistema, reposicionando a visão.

Dedicatória fofa que está no livro que recebemos!
       Como se não bastasse todo o amor de nos presentear, a obra é emocionante. Minha sensação de reencontro foi impagável. Luiz conseguiu ser objetivo e ao mesmo tempo profundo. Quem conta a história é Stephanie, personagem principal, e a fala dela me cativou, gerou instantaneamente identificação.  "Por que eu não podia ser igual a uma princesa?", questionamento que muitas já fizeram (mesmo que com outras palavras), é o que inicia todo o processo de aceitação, contato com o que ela realmente era e com o que lhe fazia ser como era. Toda a descoberta se dá em seu período de férias na casa da avó, uma mais velha muito sábia. 
       Uma das coisas que mais prendeu minha atenção foi a forma como a família da menina se insere no contexto e o quanto o texto revela o que muitas vezes acontece na realidade. Os pais de Stephanie sempre lhe diziam o quanto ela era linda, mas não olhavam diretamente pra o que lhe fazia sentir indesejável e excluída. Me lembra que é preciso conversar diretamente com as crianças, ainda que de forma lúdica, sobre os efeitos do racismo em nós e em nossos corpos e ao mesmo tempo oferecer subsídios para que a autoimagem se fortaleça. Stephanie se enxergou ao enxergar sua ancestralidade num encontro planejado pela avó. Quando encontra a figura sagrada de Oxum, de mulheres ancestrais, da sua própria avó e outras mulheres reais. Princesas, rainhas, importantes. É o que somos.
Ilustração: Biel Carpenter
       Eu adoraria ter lido na minha fase escolar, então imagino que meninas e meninos que entre os 9 e 14 anos, mais ou menos, vão gostar. As ilustrações lindas são assinadas por Biel Carpenter. Mais informações sobre o livro aqui e aproveitem pra conhecer o outro livro do Luiz, "Minhas contas", que fala sobre amizade, religiosidade e os valores de respeito. Mais uma vez agradeço o carinho. É o tipo de leitura que me faz querer voltar mil vezes e absorver um pouquinho mais de beleza. 
Inspirem-se, Meninas!

REPRESENTAÇÃO: BRINQUEDO AFIRMATIVO E IDENTIDADE

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por Jaciana Melquiades
Venho buscando muitas referências sobre brinquedos afirmativos. Leituras, referências na internet, páginas no Facebook e tudo que seja enriquecedor. O interesse é pessoal (tenho um filho de 3 anos em fase escolar e que precisa conhecer um mundo inteiro), e profissional (eu mesma tenho um empreendimento familiar bem jovem que se aventura na produção de brinquedos afirmativos). Não seria novidade aqui se eu dissesse que em uma vasculhada rápida em sites de busca, com as palavras "brinquedo" ou "brincadeira", é possível encontrar uma infinidade de material, e em pouquíssimas (ou nenhuma) teremos representadas nossas crianças negras.
O brinquedo tem função fundamental na formação do indivíduo e de sua identidade. A identificação positiva permite a construção da autoestima na criança e um bom relacionamento com sua autoimagem. Através da brincadeira é possível que ampliemos a percepção do mundo em que vivemos, é possível que aprendamos sobre o funcionamento da vida cotidiana e que construamos uma série de "verdades" que nos acompanharão pelo resto da vida. Nesse sentido, a representatividade que pode vir agregada ao brinquedo pode ser decisiva na construção de uma autoimagem positiva.
Como mãe, o desafio é ampliar as possibilidades de reconhecimento de meu filho. Obviamente que, mesmo tão pequenos - acho que justamente por isso - ele busca correlação de sua imagem com elementos não negros também, e tendo em vista o que o mercado nos oferece, os elementos não-negros são sempre maioria e estão ao alcance fácil dos olhos. Desenhos animados, super-heróis, livros infantis: todos esses elementos são apresentados a ele e exercem funções didáticas o tempo todo. Somos, como pais, educadores cotidianos, e a cada referência que damos (ou permitimos que tenham) precisamos pensar na forma como tal elemento será assimilado e absorvido pelos nossos pequenos. É bacana que nossos crespinhos e crespinhas curtam o Batman ou a Rapunzel, por exemplo, mas onde estão personagens nos quais elas e eles se enxergam? Quando olham no espelho, com quem se parecem??? Como empreendedora, o desafio é entender este grande buraco que existe no mercado e não me perder nos objetivos da empresa: é muita demanda!

Capa Super Black Power da Era Uma Vez o Mundo. Foto: Jaciana Melquiades
Fui conversar com Lúcia Makena, uma grande referência que tenho na construção de brinquedos afirmativos. Não só por conta da criatividade na hora de criar suas bonecas, mas por conta do engajamento que ela tem na aplicação da Lei 10639 de ensino de História da África  e Afro-brasileira, da sua trajetória como educadora e disseminadora do uso da boneca preta como elemento educativo (e representativo) para nossas crianças. Para saber um pouco mais sobre seu trabalho, clique aqui

Em uma breve entrevista ela me contou um pouco sobre sua trajetória educativa com brinquedos afirmativos, sobre como eles entraram em sua vida profissional. Ela diz que as bonecas entraram em sua vida através de uma revista de artesanato que viu numa banca de jornal. Ela ficou encantada ao ver uma boneca negra de pano na capa de uma revista. Ela acredita que foi um empurrãozinho dos nossos ancestrais para que se inspirasse e a partir dai cumprisse com sua missão na luta contra o RACISMO. Ela me falou também sobre a importância da boneca negra na infância de uma criança negra, em especial para a menina negra:

Lúcia Makena: Contação de histórias
"As bonecas em geral ajudam no processo de formação de identidade das crianças no caso das 'meninas', e para as meninas negras essa possibilidade foi durante décadas ignorada como se todas as meninas fossem iguais ou bem parecidas [...] As bonecas negras para as meninas negras são um direito que as bonequeiras* negras estão devolvendo a elas e assim contribuindo na sua formação e com sua autoestima."
 Perguntei a ela se boneca era "coisa de menina", e como ela acha ser possível romper essas barreiras entre "brinquedo de menino" e "brinquedo de Menina". Ela me disse que aos poucos, convivendo com diversos tipos de pessoas, participando de muitos eventos, conseguiu entender que as bonecas vão além de ensinar as meninas a ninarem seus futuros filhos e sim que a boneca tem que conviver com o grupo de meninas e meninos. Segundo ela, inserir a boneca no cotidianos também dos meninos não tem sido uma tarefa fácil. A barreira social é grande, mas Lúcia Makena continua dialogando com as mães, buscando a desconstrução de pensamentos machistas. Assistam aqui e aqui a participação dela no programa Pé na África falando sobre a importância das bonecas negras na educação e a representatividade de nossas crianças nos brinquedos afirmativos. Vale a pena conferir esse bate papo!
Boneca Makena. Foto: Lucia Makena.
Pensando somente em brinquedos afirmativos e citando alguns exemplos (usando todos aos quais consegui ter acesso - seja por conhecer pessoalmente, ou por busca no google):
Era uma vez o mundo: Essa é a minha xodó. Para saber mais, clique aqui e aqui. Existimos desde 2008 e tentamos criar brinquedos que sejam referências tanto para meninos quanto para Meninas. Temos livros de pano, bonecas, capa de super-herói ou heroína! Temos oficinas para alunos ou professores e apresentamos nossos brinquedos afirmativos e educativos como ferramentas na construção da autoestima, representatividade, além de servirem como material didático às instituições de ensino.
Um dos livros de pano da Era uma vez o Mundo. Foto reprodução do site.


Preta Pretinha Bonecas: Uma loja de muito sucesso, conhecida e existente em muitos estados brasileiros e até fora do país, que nasceu da vontade de três irmãs de se verem representadas em seus brinquedos, mais especificamente as bonecas que ganhavam. Você pode saber mais sobre a loja aqui. Hoje as irmãs são especializadas em brinquedos inclusivos.
Bonecas inclusivas da Preta Pretinha. Foto reprodução do site.


Negafulô & Cia: Tem um ateliê lindinho em São Paulo e produz bonecas negras maravillhosas, brinquedos e acessórios desde 1998. Você pode conhecer melhor aqui. Esta empresa apresenta também palestras a educadores inserindo suas bonecas na Lei 10.639 de ensino de História da Africa e Afro-brasileira.
Bonecos e bonecas Negafulô. foto reprodução da Fan page.
Temos uma caminhada muito grande pela frente no que diz respeito à construção de representatividade aos nossos pequenos, mas seguimos tentando e cada vez mais em maior número. Sempre é bom lembrar: juntos somos mais fortes, e só é possível a criação de espelhos positivos, se nos virmos desde cedo nos símbolos que nos cercam.

*Bonequeira: Mulher que confecciona bonecas e bonecos de pano.