Mostrando postagens com marcador crespo. Mostrar todas as postagens

RESENHA SEM SER RESENHA - LINHA TÔ DE CACHO DA SALON LINE

No Comments »

por Tainá Almeida

Foto: Tainá Almeida
      Em Fevereiro, durante o carnaval, fui a uma perfumaria e encontrei toda a linha do #tôdecacho. Eu já tinha olhado aqui nas perfumarias do Rio, mas nunca encontrei o leave-in para o 4C. Depois de mais um dia de praia, decidi usar e depois pensei: PRE CI SO resenhar! Descobri que não sou uma "resenhadora" de produtos de beleza. Quando dei por mim já tinha escrito uma dezena de textos, nenhum deles em forma de resenha, nenhum deles falava de textura do produto, do cheiro, se ele era viscoso demais, pesado demais, leve demais ou quantos day after eu conseguia com ele. Aí comecei a assistir algumas resenhas no Youtube e pensei que não dava pra ser mesmo como essas minas! Elas são sinistras! Realmente falam de tudo sobre o produto, sabem as especificidades da composição de uma forma que eu nunca saberei explicar. Então, para uma resenha decente, fiquem com esse vídeo divo.



     Como não vi nenhuma resenha de menino e meu namorado já tinha experimentado meu creme e a gelatina, resolvi falar da nossa experiência como um casal crespo que divide os cremes. Também não deu certo. Os motivos para não dar certo são os mesmos de eu não saber fazer resenha [risos].

 
      A ideia adormeceu, apesar de a editora do blog sempre ficar me cobrando. Foi então que meu creme de pentear 4C da linha acabou! Fiquei olhando para aquele potinho vazio e me dei conta que é o primeiro leave-in que eu usei até o final. O cheiro não me enjoou, o cabelo não viciou e já penso em comprar outro.
      Meu crespo é tipo 4C, então achar um creme que o hidrate e não fique com aquele monte de poeirinha branca é uma missão bem complicada. Não consigo isso se usar a gelatina. A poeirinha vira uma nuvem a meu redor. Quando li no rótulo aquele monte de óleo e a promessa de deixar meu crespíssimo poderoso, desacreditei na hora. A verdade é que ele foi uma grata surpresa.  Ele realmente ajuda no aspecto de eterno ressecado nas pontinhas, os óleos realmente funcionam e tem a vantagem de ser liberado para no e low poo. Depois de Março meu cabelo começou a ficar muito ressecado, eu resolvi isso adicionando duas tampinhas do óleo Encrespando que o Chad fez especialmente para o Coletivo Meninas Black Power (dá uma olhada na page). 
      Este seria um post-resenha, virou um post-desabafo [risos]. A verdade é que esse creme foi um dos que meu cabelo mais gostou. O outro foi o Vida Intensa, também do Chad 

* Esse post não é um publieditorial 

MBP TESTOU - LINHA CAVALO FORTE DA HASKELL

No Comments »

por Tainá Almeida
      Já conhecem a linha Cavalo Forte da Haskell? De cara esse nome me trouxe lembranças daquele produto que não devemos passar no cabelo e que promete crescimento, força e tudo mais. Para vocês que estão tristes por não poder usar o proibido, podem ficar mais alegrinhas. Esse produto da Haskell vem com essa promessa de cabelo forte! (yay!!!)
       A linha é rica em Biotina, Pantenol e Queratina e aqui no site vocês podem saber mais sobre cada uma dessas substâncias. Eu tenho 4C, Meninas Black Power, vocês entendem que isso quer dizer cabelo com mais necessidade de hidratação, óleos e manteigas. Então na sequência vai minha visão. Segurem aí!
      Sabemos daquele drama de encontrar um shampoo que não resseque o fio ao primeiro contato. Esse realmente não deixa o fio ressecado. Poucos produtos industrializados têm esse efeito no meu cabelo. Os dedos correram como se não tivesse shampoo e os fios ficaram extremamente limpos e macios. É bastante concentrado. No meu processo de limpeza, sempre diluo o shampoo numa proporção de duas partes de água para uma de shampoo. Aprendi que funciona melhor para mim. De tão concentrado que ele é, na segunda vez que usei, diluí na proporção de 4 partes de água e uma de shampoo. Ficou bem ralo, mas limpou muito bem. Não senti agressão depois do enxágue. Foi bem tranquilo mesmo. Só esqueci de contar que essa maravilhosidade tem um brilho dourado, me senti rycah! Eu não faço no ou low poo, então não tive questões com a composição.
     Depois utilizei a máscara de tratamento. Ela precisa de uma dedicação maior e fica para o próximo post. Mas é ótima e casou super bem com a necessidade do meu cabelo, que estava bem ressecado. Finalizei o tratamento com o condicionador, para fechar as cutículas do fio e manter todas as coisas boas dos produtos lá dentro. 


Após o tratamento e finalização
      O resultado foi incrível! Cabelo macio, sem aspecto opaco e senti diferença no meu fator encolhimento. O cabelo ficou bem grandinho.

SER PRETO

No Comments »

por Victor Soares
Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!
      Sou eu mais um exemplo do povo brasileiro: filho de imigrante preto e mãe branca, menos pigmentado, cabelo crespo... Enfim, alguém como a maioria esmagadora da nossa população. No Brasil, ter a pele mais clara possibilita alguns benefícios dos quais poderia usufruir se me identificasse como branco. Somos muitos pretos "facultativos", "pardos" e outras classificações com nomes estranhos que só existem aqui.
      Tenho a pele clara o suficiente para já ter sido chamado de branco na vida, ignorando meus traços, cabelo e origem. A miscigenação trouxe um conflito de identidade no brasileiro que foi educado com a premissa de "branco é bom, preto é ruim". Se você é uma mistura dos dois é enquadrado na bizarra paleta de cores do moreno claro, jambo, mulata (palavra horrível), onde quanto mais escuro você é, mais você vai sofrer.


Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!
      Então, por que me declaro preto? Sou mais claro, poderia simplesmente raspar a cabeça e passar "despercebido". Passei a minha infância de cabelo raspado, afinal, menina crespa alisa e menino crespo raspa, só para atender aos padrões daquela sociedade que transforma maioria em minoria.
       Como a maioria pode ser oprimida? No meu ponto de vista, o motivo é que a maioria preta desse país não se vê como tal. É fundamental a luta dos coletivos (como as maravilhosas MBP), grupos e instituições pelos direitos e o empoderamento dos negros. Eu me declarei homem preto no trabalho e me disseram: 
— Não, você é moreno! Pois na cabeça deles é absurdo alguém escolher ser preto quando teria a opção de não ser.

Foto: Projeto Ah, branco, dá um tempo!

     Chamo a atenção pelo meu cabelo crespo, ouço piadas preconceituosas e insinuações porque não me encaixo nos padrões esperados para um engenheiro numa grande empresa, mas sigo em frente, estou na linha de frente, mais um homem preto em um corporativo e engravatado mundo branco.
       Estamos chegando lá, mano, somos reis e rainhas. Ah, se quiserem cortar meu cabelo, já tenho a resposta na ponta da língua afiada. Agora que descobri ser rei, não venha querer tirar minha coroa. Agora que nos deram voz, não vamos mais nos calar.

Saiba mais sobre o tema: 
Blogueira Negra - Colorismo: quem decide?

* Victor Soares, autor convidado, é um homem preto, formado em Engenharia Civil e pós-graduação em Logística. Jogador de basquete nas horas vagas.

MANTENHA A HIDRATAÇÃO MESMO USANDO PRODUTOS COM SULFATO

No Comments »

por Élida Aquino

Foto: @sylviagphoto
      Já está comprovado que cada cabelo existe do seu próprio jeito. Apesar de sabermos das desvantagens dos "proibidos", como os que contém sulfato ou parabeno, por exemplo, não podemos ignorar que para muitas crespas ou cacheadas é possível levar uma rotina capilar saudável incluindo esses produtos. 
     Importante dizer: em termos técnicos* o Lauril éter sulfato de sódio é um ingrediente de limpeza adicionado aos shampoos e condicionadores, desengordurante eficaz e o responsável pelas bolhas de sabão que vemos. É exatamente por eliminar com tanta intensidade a oleosidade que se torna prejudicial aos fios crespos e cacheados, já carentes de hidratação natural. Apesar desse currículo, sentir-se confortável com algum produto que contenha sulfato não deve ser motivo de pânico. Abaixo vão algumas dicas básicas e úteis para preservar sua hidratação.

1 – Invista no pré-poo
Velho conhecido de Meninas Black Power! Se vocês estão partindo pro ritual de lavar o cabelo, adicionem mais uns minutinhos e façam algum tratamento antes da aplicação do shampoo. São boas opções aplicar óleos vegetais, manteigas ou fazer misturinhas a partir da noite anterior ou até 30 minutos antes de lavar. Além de começar a promover a hidratação, esse tipo de tratamento reforça a proteção dos fios e dificulta algum ressecamento que possa ser trazido pelo uso do shampoo.

2 – Usem óleos
Apliquem bons óleos depois do shampoo. Turbinar o brilho, selar a hidratação e facilitar na hora de pentear são efeitos desse cuidado. Escolham algum óleo que o cabelo goste, aplique, enxágue rapidamente e continue para o seu tratamento ou condicionador.

Foto: @sylviagphoto
3 – Hidratação power!
Tentem fazer tratamentos de hidratação intensa nos dias em que lavar com shampoo, ainda com as cutículas abertas e prontas para receber todos os benefícios. Usem máscaras puras ou misturinhas, permita a ação por um tempo razoável sobre os fios. Usar touca térmica e outros aparelhos semelhantes ajuda a potencializar esses efeitos.

4 – Método LOC
A forma de finalizar também é importante e o LOC pode ajudar na missão de reter a hidratação que os tratamentos trouxeram. Pra quem não conhece, o método LOC consiste em aplicar Líquido, Óleo e Creme, exatamente nessa sequência, formando camadas. 


       Não esqueçam que essas dicas são baseadas em uma observação geral de como crespos e cacheados se comportam, ok? Sem generalizar. Testem com carinho, respeitando o que o cabelo sinaliza. Não esqueçam de contar aqui se vocês usam produtos com sulfato e as experiências! Será um prazer saber sobre o que rola nas cabeleiras por aí. Beijos! 
Fontes: Black Hair Information | Wikipedia

NÃO ESTAMOS AFIM

6 Comments »

por Renata Morais

Foto: Renata Morais
      Oi. Hoje não quero passar nada no meu cabelo. Ontem também não quis e talvez não queira por um bom tempo. Não tenho vergonha de dizer que só estou lavando. Só mesmo. Uso shampoo e condicionador. Apenas. 
      Nós dois tivemos uma conversa e resolvemos que ele teria o tempo dele também. Sabemos (eu e ele) que cronograma, óleos e receitinhas são importantes, mas decidimos que isso não ia afetar nossa relação. Ele (o cabelo) está mudando rápido, ficando maduro. Fios brancos estão aparecendo, mas como estamos em uma relação aberta, tingir não é uma escolha só minha. É dele também. Tive que ter essa abertura com ele, porque eu estava sofrendo. Minha vida mudou muito de uns meses para cá e o tempo ficou curto. Ficava triste e com um sentimento de culpa quando não conseguia hidratá-lo. Por isso fui até o espelho e o toquei, abri suas mechas crespas e conversamos. Decidimos que o que é bom pra mim, seria bom pra ele e vice-versa. 
        Há exatamente um mês que não hidrato. Hoje ele está lindo. Vou hidratar? Sim, mas não hoje. Ele precisa de cuidados? Muitos, mas também queremos ser livres. Ele está crescendo? Muito! Nunca cresceu tão rápido. Ainda amamos óleos, babosa e receitinhas caseiras? Sim, mas só usamos quando estamos afim. Minha dica: toque seu cabelo, converse com ele, ame-o. Não simplesmente por vaidade, mas sim por ser corpo, ser parte de você.

4 INGREDIENTES NATURAIS PARA USAR COM ATENÇÃO

3 Comments »

por Grupo de Trabalho Moda e Beleza
       Várias crespas usam produtos ou ingredientes naturais na rotina. Eles estão nas misturinhas do cronograma, na hora da umectação e até quando vamos finalizar. Não temos dúvidas sobre os benefícios deles para a saúde dos cabelos crespos e costumamos indicar vários, já que quando usamos o cabelo reage bem. Mas já entendemos como dosá-los? Em que ponto o uso destes ingredientes pode ser prejudicial à saúde dos fios? Já reparamos como o cabelo reage aos mesmos produtos ou ingredientes naturais ao longo do tempo? Pensando nisso, trouxemos uma conversa lá do BGLH. A ideia é prestarmos mais atenção em como estamos usando estes aliados.

1. GLICERINA
É comum vermos comentários sobre glicerina vegetal ou bi-destilada. Como a Kassia explica aqui, a vegetal é extraída de óleos vegetais e a bi-destilada, dependendo da origem, pode ser de origem animal. Está aí um ótimo ingrediente hidratante e umectante. Ajuda a reter a umidade no cabelo seco e também ajuda no condicionamento e fortalecimento. O problema é que, dependendo de como está o clima ambiente, a glicerina pode acelerar o ressecamento. Se há pouca umidade no ar, é possível que ela atraia a umidade dos fios para fora e acentue o ressecamento. Vamos prestar atenção antes de usar a glicerina como componente das misturinhas ou usar produtos que a contenham.

2. ÓLEO DE COCO
A maioria de nós usa este óleo. Ele pode ser um grande condicionador e hidratante para o cabelo e conta com uma longa lista de benefícios a seu favor. Mas, ainda assim, alguém pode ter notado que, ao usar quantidades excessivas de óleo de coco, a fragilidade dos fios aumentou. Algumas naturalistas dizem que o óleo de coco penetra no cabelo e aumenta a retenção de proteína. Neste caso, o excesso de proteína pode causar a tal fragilidade.

3. AZEITE EXTRA
Azeite é outro óleo que é pelo grande potencial de hidratação. Além disso ele pode amaciar, condicionar e turbinar o brilho. Mas algumas naturalistas relatam que o excesso no uso do azeite também faz o cabelo apresentar sinais de fragilidade. Como algumas usam azeite em todas as etapas dos tratamentos e de todas as formas possíveis, é bom prestar atenção na possibilidade de saturação.

4. ÓLEO DE RÍCINO
Também muito conhecido pelos benefícios que proporciona, é lembrado principalmente por espessar os fios e estimular o crescimento (quem não ouviu aquela dica de massagear o couro cabeludo com este óleo?) e ser ótimo antifúngico. É bom lembrar que o óleo de rícino é bastante denso e pode pesar muito em alguns tipos de fio.

       Ressaltamos aqui algo que sempre falamos: cada crespo é único e, assim como produtos cosméticos variam os efeitos entre um crespo e outro, pode acontecer o mesmo com os naturais. O essencial é testar e descobrir ao longo do tempo que produto, misturinha, forma de pentear e etc. nos beneficia mais.

E vocês? O que acham desses produtos? Como usam cada um deles e quais efeitos observam? Compartilhem com a gente!

OLHA, EU SOU DA PELE PRETA: GRAÇAS A DEUS!

2 Comments »

por Cecília Oliveira

Foto: Fernando Oliveira
       Há um ano e seis meses, resolvi recomeçar a vida. Balzaquiana, decidi cortar todo o cabelo e me conhecer e reconhecer como mulher negra. Foi resultado de longos estudos sobre identidade, história, negritude. Seria um gran finale de aceitação.
      Foram meses lendo sobre textura, tratamentos, cronogramas capilares etc. Era um mundo que eu não fazia ideia de que existia. Primeiro entrave: como escolher os tratamentos/produtos adequados ao meu cabelo se eu não conhecia meu cabelo? Nas leituras, descobri que existem cabelos de 2A até 4C. Mas qual era o meu tipo? Eu não fazia ideia. Eu precisava saber qual era pra saber como criar meu cronograma capilar e aprender a hidratar, nutrir e reconstruir a massa do cabelo para mantê-lo saudável. E aí, diante da minha decisão, ouvi duas perguntas: “Isso é caro? Vai dar mais trabalho?” Oras! Caras e trabalhosas eram as escovas progressivas para alisar os cabelos!
        Alisei os cabelos pela primeira vez – ao que me lembro – lá pelos 8 ou 9 anos, com a então famosa e maldita "touca de gesso". Lembro de ter me sentido absolutamente ridícula em ficar com cabeça "engessada" por mais de uma hora. Era uma coisa fedida, que deixou meu couro cabeludo vermelho e sensível durante uns dias. Desde então, a cada três meses, lá estava eu de volta, para "domar" aqueles insistentes cabelos que me tiravam o sossego – e a beleza.


      Beleza: tá aí uma coisa que "nunca tive". Sempre me achei muito feia. Magra, "cabelo duro", espinhas, "moreninha". Tudo pra ser preterida. E assim foi por muito tempo. Lembro com clareza de quando chegou a época da formatura da oitava série e precisavam ser formados pares para a cerimônia (não vou entrar no mérito dessa convenção social machista agora). Lembro que eu tinha um grupo de amigos, e nenhum deles quis entrar comigo na tal cerimônia. Ouvi um deles falando: "prefiro a Eduarda. Mais bonita". Eduarda, com seus longuíssimos cabelos lisos e branquinha, era mais bonita. Claro. Hoje entendo a beleza de Eduarda. E a minha. Lembro ainda uma outra vez em que eu estava varrendo a varanda de casa e uma pessoa, procurando por minha mãe – que é branca e viúva de um negro – perguntou se "a dona da casa estava". Cada qual no seu lugar, certo? Errado.

ANTES "MORENINHA". AGORA, NEGRA E…. GAY?
       Pixaim, palha de aço, Bombril, vassoura, leoa, sarará, cabelo duro, cabelo ruim, piaçava. Ouvi isso a vida inteira, mesmo depois de alisar o cabelo, já que ele, mesmo alisado, não tinha a aparência adequada, de naturalmente liso. Mas, aleluia, um dia chegou o dia do Big Chop ("BC" para os íntimos), a hora de cortar tudo. Eu estava tão ansiosa que não aguentaria passar pela transição, forma como muitas meninas conseguem manter o cabelo alisado até ter o tamanho suficiente de cabelo natural pra não precisar cortar "Joãozinho".

Foto: Anderson França
      Pois eu cortei "Joãozinho". E ganhei mais um rótulo imediatamente. Passei a receber olhares, questionamentos sobre minha sexualidade e até vivenciei a homofobia, quando um homem bradou: “isso é uma pouca vergonha! É culpa do Lula e do politicamente correto a gente ter que ver isso!”. Eu estava tomando um suco com uma amiga – também de cabelos curtos – numa lanchonete perto de casa. Peguei uma cadeira para “educa-lo”, mas fui contida. Melhor assim.

ACEITAÇÃO: UM ATO POLÍTICO.
     "Será que você consegue um namorado agora, com esse cabelo?", "será que consegue um emprego?", "sua criança vai sofrer bullying na escola?". Não vou dizer que não pensei nestas coisas. Mas vou dizer que pensei mais nas respostas. Eu gostaria de me relacionar com alguém que me avaliasse e me desejasse de acordo com meu cabelo? Eu gostaria de trabalhar num lugar em que a capacidade das pessoas fosse medida pelo cabelo? Eu matricularia minha criança em uma escola que mandasse cortar o cabelo, como um uniforme? Eu me submeteria ao racismo? Eu realmente quero me retirar destes debates e me recolher ou quero lutar com as pessoas pela garantia de direitos de todos e pela mudança desse cenário medíocre e criminoso?
       As respostas a essas perguntas são políticas. Somos seres políticos. Existir é um ato político. Existir como mulher negra é um duplo exercício de luta pela cidadania e plenitude de direitos. Deixar seu cabelo pro alto, no lugar onde você decidiu que ele deve estar, é uma afronta. Uma afronta à “ordem natural das coisas”, onde o negro tem seu lugar muito bem delineado – um lugar num cantinho, mais ao lado, mais na cozinha, um segundo lugar. Uma afronta ao Estado Brasileiro, que teve uma política oficial de branqueamento de seu povo, focando na miscigenação e no estabelecimento de uma população morena. Negra não. Esta coisa ruim tinha que ser apagada.

Foto: Fernando Oliveira
       Aceitar-se é uma afronta a um Estado cuja polícia federal exige que se prenda os cabelos para ter direito a tirar um documento. Afronta a um Estado que mata majoritariamente negros. Afronta a um Estado cujos cargos de chefia são ocupados em sua esmagadora maioria por homens brancos, que ganham 36% mais que os homens negros e 47,8% mais que as mulheres negras. Eu nasci pra afrontar esse Estado, pois nascer e viver sob esse Estado é uma afronta.

RACISMO SEM FIM
     Como esperar que uma criança não reproduza o racismo ou se acostume a sofrê-lo se ela não reconhece ao seu redor negros em posição que não seja subalterna? Como isso é possível sem que sequer haja bonecas negras pra brincar, bonecas com sua cor, seu cabelo, sua boca e nariz, sua identidade e que mostrem à criança que ela é bela e merece ser copiada?
     Como ser negro pode ser algo bom, não depreciativo, se pessoas da sua cor sequer aparecem no cinema, se não têm representatividade? Quantos negros protagonizam novelas que se passam no Leblon, são ricos, patrões, tem casas bonitas na beira do mar (protagonistas de senzala, em novelas de época não contam)?  Mulheres negras no cinema praticamente não existem, mesmo que nós sejamos 52% da população feminina do país.
NÃO PASSARÃO!
    Nós, mulheres e homens negros, construímos este e outros países. Carregamos o Brasil nas costas ainda hoje, mesmo ganhando bem menos pra isso e morrendo mais cedo e em maior número. Mas aprendemos a resistir e, a cada dia, aprendemos a peitar aqueles que acham que aqui não é nosso lugar. Nós vamos lutar para viver mais e melhor e vamos ensinar nossos filhos que nosso cabelo, nosso nariz, nossa pele são as características da liberdade e da resistência e que temos, sim, direito a um lugar ao sol.
Cabral, o retrato da desinteligência nacional
   Nós, mulheres negras, vamos continuar procriando, mesmo que governadores brancos nos chamem de "parideiras de marginais". Nós vamos afrontar este Estado e mostrar que nosso lugar não é na cozinha.

(O título do texto é uma alusão à música de Cabelo Pixaim, de Jorge Aragão.)

Cecília Oliveira é Jornalista e pesquisadora, com especialização em Criminalidade e Segurança Pública pela UFMG, é coordenadora de comunicação do Law Enforcement Against Prohibition – LEAP Brasil. Indicou o texto, originalmente postado no site Ano Zero, para ser postado no blog MBP. 

ENCRESPANDO - 2ª EDIÇÃO

No Comments »

por Equipe MBP
Arte: Era Uma Vez o Mundo
      Há um ano colocamos em prática um dos projetos pelos quais o Coletivo Meninas Black Power existe: promover um evento no mês da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha para reunir as melhores conversas sobre cultura e beleza negra, reflexões sociopolíticas e encontros entre iguais, onde tod@s possam ser espelhos. Uma verdadeira celebração! Nós conseguimos, chamamos de Encrespando, e pela segunda vez estamos juntas, fazendo este momento incrível acontecer. 
     Encrespando é o evento oficial do Coletivo Meninas Black Power, acontecerá pela segunda vez no Rio de Janeiro e estamos trabalhando para que em breve se espalhe nos outros Estados onde também estamos representadas. Nossa primeira edição aconteceu em 20 de Julho de 2013, no SINDSPREV, Rio de Janeiro. Confiram abaixo um pouco do que vivemos por lá:
      Desta vez temos o privilégio de estar no Renascença Clube, espaço de referência para a resistência cultural negra carioca, que zela por manter a tradição sempre viva. Preparamos com carinho uma programação repleta de diálogos e momentos que vão promover conhecimento de nossa história, quem nós somos enquanto mulheres e homens negros. 
      Começaremos com a oficina de turbantes ministrada pela Colares D'Odarah, ícone importantíssimo na arte e educação que emanam das amarrações de um turbante. Esta oficina tem vagas limitadas e a inscrição deve ser feita através do email encrespandombp@gmail.com. Em seguida vamos ouvir a palestra trazida pela A.M.A.R sobre "A autoestima da mulher preta". O workshop sobre cabelo crespo é provavelmente o momento mais aguardado. Numa conversa conduzida pelo Coletivo MBP, vamos dialogar sobre vivências, cuidados e possibilidade de nossos cabelos crespos. O próprio Coletivo conduz na sequência a conversa "Lynch e seus reflexos na sociedade negra contemporânea", dialogando sobre a Carta de Willy Lynch e seus reflexos atuais.
        Também vamos nos deleitar com a dança do grupo Femme e da bailarina Valéria Moña, curtir o som do grupo de pagode composto por mulheres da A.M.A.R, o rap contagiante de Mr. Ronney e, fechando nosso dia com muita grooveria, o som da Banda Consciência Tranquila, que embala todo mundo nos encontros incríveis do Baile Black BomNo Encrespando Kids, nosso espaço infantil que estará aberto para receber crespinhas e crespinhos durante o evento e é uma grande novidade, haverão atividades conduzidas pela recreadora Natália Regina, contação de histórias afirmativas com Kemla Baptista e uma brinquedoteca recheada de diversão e assinada pelos parceiros da Era Uma vez o Mundo. O Bazar Encrespando, nosso espaço de afronegócios, conta com A Quixotesca, Colares D’Odarah, D'Negro, Era Uma Vez o Mundo, Lulu e Lili Acessórios, Makeda Cosméticos, NBlack, O Alquimista de Chad, Pixaim Acessórios, Soul Bamba e Trançando Ideias
       Ah! Quem passar pelo Encrespando também vai conhecer a carinha de todas as integrantes do Coletivo na exposição “Bonec@ Pret@ é identidade”, assinadas pela alta costura de Srta. Chris e as bonecas lindas de Era Uma Vez o Mundo.
Arte: Era Uma Vez o Mundo
      Desejamos muito ver vocês na próxima Sexta-feira, fazendo história junto com o Meninas Black Power e compartilhando muito amor. O Encrespando é nossa casa e queremos que quem passar por lá possa desfrutar de um entretenimento saudável, conscientizador, que reflita toda beleza e resistência de nossa negritude. Venham com a gente!

Incrições*: 
http://goo.gl/0QGr1E

Programação completa:
16:00 às 16:30 - Abertura dos portões
16:30 às 17:00 - Abertura e oficina de turbantes com Colares D'Odarah
17:00 às 17:40 - Palestra A.M.A.R - "A autoestima da mulher preta"
17:50 às 18:20 - Workshop MBP - perguntas e respostas sobre cabelos crespos, dicas de cuidados e penteados
18:30 às 19:10 - Conversa Crespa com o Coletivo MBP - "Lynch e seus reflexos na sociedade negra contemporânea"
19:10 às 19:20 - Apresentação do grupo de dança Femme
19:30 às 19:40 - Apresentação de dança afro com Valéria Monã
19:50 às 20:20 - Apresentação do grupo de pagode A.M.A.R
20:30 às 20:40 - Apresentação do grupo de dança Femme
20:40 às 21:00 - Apresentação do rapper Mr. Ronney
21:00 às 22:00 - Apresentação da Banda Consciência Tranquila 

Programação do Encrespando Kids:
17:10 às 17:30 - Workshop "Como cuidar do crespinho" com Renata Morais (idealizadora da Lulu e Lili Acessórios e integrante do Coletivo MBP) - dicas de cuidados e penteados para cabelos infantis
17:40 às 18:30 - Contação de histórias 
18:40 às 19:20 - Hora do alongamento - Preparando o corpinho pra se movimentar 
19:20 às 20:00 - Vamos Dançar? 

* A entrada é franca, mas as incrições devem ser efetuadas para fins de controle e inclusão nas promoções que acontecerão no decorrer do evento. As inscrições estarão disponíveis até 24/07, às 12h.

“AH. . . MAS O MEU CABELO NÃO É ASSIM!”

49 Comments »

por Élida Aquino 



         Pra começar, compartilho com vocês a reflexão abaixo, exposta pela Kelsey Janae. Olhem:
"Antes de retornar ao natural nunca tinha ouvido falar da classificação dos tipos de cabelo. Todo mundo que eu conhecia usava alisantes e nossos cabelos se comportavam praticamente do mesmo jeito: quando molhados, eram fios rígidos e retos na extensão e inchados na raiz, indicando a hora de um novo relaxante. Quando decidi ser natural, vi uma lista sobre os diferentes tipos de cabelo num site. Começava com o 2A (totalmente liso) e ia até o 4C (muito crespo). Também foram listados diferentes tipos de produtos para o cuidado de cada tipo de cabelo. No início da minha jornada a lista dos tipos de cabelo parecia bastante útil no que diz respeito ao desenvolvimento de meu próprio "regime de cuidados" e, depois que observei isto, não refleti novamente. Em seguida, comecei a perceber que eu tinha três tipos de cabelo diferentes. Além disso, aprendi que não é só porque alguém com um tipo semelhante ao meu usa determinado produto que o mesmo irá ter efeito igual em mim. Conforme o tempo passava, notei uma divisão subjacente entre "as naturais" em relação aos diferentes tipos de cabelo. Tenho observado que as que não são naturais, mas desejam ser, muitas vezes hesitam em fazê-lo por causa do medo de ter um tipo de cabelo "menos desejado". Eu acho que partir para o natural é abraçar quem você é e amar sua textura. Parece que ainda existem certos padrões de beleza, mesmo dentro da “comunidade de cabelo natural”, que estão ligados aos tipos de cabelo.”

Traduzindo livremente: "Discriminação de texturas? 10.375 liks e 3.101 compartilhamentos vs. 3.796 likes e 295 compartilhamentos. Ambos são sobre twist out de três mechas."
       Quem nos acompanha sabe que sempre privilegiamos todas as texturas, exatamente pra que todas se encontrem. Enquanto compartilhamos tantas inspirações, é visível a existência de um "cabelo ideal". Minha preocupação com este padrão, mesmo após permitirmos nossos cabelos, veio ao perceber que cabelos do tipo "cachos perfeitos" são os mais cobiçados e há gente fazendo de tudo pra chegar neles. Também há gente ensinando como caçá-los loucamente. Parece que quanto mais fake o cacho, mas desejado ele se torna. É bizarra a frequência de declarações do tipo "eu queria tanto meu cabelo assim!", "o cabelo dela é tão incrível!", "eu nunca vou ter esse cabelo..." e etc. Todos sempre muito cheios de lamento, sabem? Como se ter um fio mais crespo fosse a maldição do século. Não é uma simples admiração. 
      Repartimos sempre em Coletivo estas observações. Todas nós notamos como é comum encontrar um "preciso de um cabelo desses" sendo dito por aí. Às vezes ele é dito até por quem já passou pela transição, mas ainda pensa em alcançar a "perfeição". Ressalto que a questão aqui não é liberdade de escolha, mas a constante busca por ser "melhor" do que se é. Uma das razões para a existência do Meninas Black Power é gerar o olhar cuidadoso sobre nós mesmas. Não aprendemos isso naturalmente por conta de todo desprivilégio que impera. Ora, se quem nos lê diariamente continua inferiorizando sua própria imagem, querendo trocar por outra, não cumprimos nossa missão! Nos esforçamos para falar aos mais de 40.000 cérebros que não adianta muito cultivar o cabelo, passar pelo Big Chop ou todos os outros processos de transição, e depois olhar fotos numa página qualquer e querer ser aquilo que está na tela, se inspirar exclusivamente num espelho que não lhes reflete. É preciso haver uma transição de mentalidade enquanto o cabelo muda. 

         Pensem bem: será que esses cachos tão queridos dos editoriais de moda não passaram por nenhuma adaptação? Será que as atrizes não passam um tempão sentadas em cadeiras de algum super hair stylist fazendo babyliss fio por fio? Estamos falando do esforço midiático em influenciar pessoas, da ideia de que só assim seremos aceitas. Além disso, o que faz com que aqueles cabelos tipo 3 (com cachos super abertos), com bastante definição e volume, sejam mais belos que um 4C? Será que um 4C não tem beleza e vantagens? Eu mesma respondo: está tudo errado. Há beleza em todo lugar. Está na hora de sermos mulheres diferentes, que admiram a beleza da outra, mas compreendem o valor da beleza que está no próprio corpo.
         Fico feliz quando perguntam como é meu cronograma ou as receitas que gosto de fazer, mas tudo acaba no momento do "meu cabelo nunca vai ser bonito como o seu". Depois de algum tempo sendo "conselheira crespa" por aí, entendo que a insegurança na transição, por exemplo, é normal. Passar pela transição é um processo de desconstruir padrões e se reaprender. É preciso crescer com esta experiência e se libertar das imposições. Não estamos aqui por moda, não estamos buscando o título de "a mais style do baile", não queremos ter o cabelo mais bonito pra oprimir nossas iguais. O ponto principal é identidade. Ela se manifestará na resistência e posicionamento diante de um mundo racista, que pensa que precisamos obedecer regras para sobreviver. Por isso, se vocês que estão lendo acreditam que um "cabelo black" é apenas estilo, sugiro que revejam o conceito. Faço também a pergunta que a Juliana Barauna deixou: o que vocês vão fazer com o black quando a moda acabar?  


       Somos todas rainhas. Todas nós estamos sendo refeitas, nos levantando dos processos que nos quebraram por anos, curando o coração enquanto cicatrizamos as feridas de nosso couro cabeludo. Toda essa mudança dá trabalho, às vezes é dolorosa, mas é vital para abrir os olhos e a mente. Para entender de vez que o mais importante não é nosso tipo de cabelo, mas o quanto de amor temos por ele. Vamos ostentar cada cabelo como coroas na prática! Vocês sabem: existem coroas diferentes, mas todas sempre preciosas. Desejo para nós este mesmo brilho e liberdade.

Fonte: BGLH