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NÃO ESTAMOS AFIM

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por Renata Morais

Foto: Renata Morais
      Oi. Hoje não quero passar nada no meu cabelo. Ontem também não quis e talvez não queira por um bom tempo. Não tenho vergonha de dizer que só estou lavando. Só mesmo. Uso shampoo e condicionador. Apenas. 
      Nós dois tivemos uma conversa e resolvemos que ele teria o tempo dele também. Sabemos (eu e ele) que cronograma, óleos e receitinhas são importantes, mas decidimos que isso não ia afetar nossa relação. Ele (o cabelo) está mudando rápido, ficando maduro. Fios brancos estão aparecendo, mas como estamos em uma relação aberta, tingir não é uma escolha só minha. É dele também. Tive que ter essa abertura com ele, porque eu estava sofrendo. Minha vida mudou muito de uns meses para cá e o tempo ficou curto. Ficava triste e com um sentimento de culpa quando não conseguia hidratá-lo. Por isso fui até o espelho e o toquei, abri suas mechas crespas e conversamos. Decidimos que o que é bom pra mim, seria bom pra ele e vice-versa. 
        Há exatamente um mês que não hidrato. Hoje ele está lindo. Vou hidratar? Sim, mas não hoje. Ele precisa de cuidados? Muitos, mas também queremos ser livres. Ele está crescendo? Muito! Nunca cresceu tão rápido. Ainda amamos óleos, babosa e receitinhas caseiras? Sim, mas só usamos quando estamos afim. Minha dica: toque seu cabelo, converse com ele, ame-o. Não simplesmente por vaidade, mas sim por ser corpo, ser parte de você.

DEMOCRACIA DA VERDADE

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Fonte: G1

       Olá, Meninas Black Power. Meu nome é Juliana Luna, todos me chamam de Luna por aqui. Moro em NY há 4 anos e trabalho com moda, dança e arte. Sou tipo uma entrepreneur. Tenho 27 anos e fui convidada pelo MBP para escrever no blog e participar como colaboradora internacional. Fiquei muito lisonjeada pelo convite! Minha história como crespa é longa. Me libertei há uns 10 anos... Escutei muita coisa pelo fato de ter este cabelo, que é um mundo, meu mundo.
       Estou feliz em compartilhar um pouco dessa história com vocês. Let’s go! Hoje foi um dia normal para mim até eu me deparar com as notícias dos protestos na Turquia. Até então eu não sabia o que estava acontecendo, porque a mídia não reporta sobre nada. Navegando por blogs e Facebook, li sobre os protestos e fiquei muito revoltada. A opressão à qual este país sobrevive é surreal. Lembro de ter assistido o filme de um amigo, artista, o JR, Inside out Project, onde ele dá voz a pessoas ao redor do mundo todo, através da arte. O projeto consiste em fazer fotos de pessoas ao redor do mundo. Essas fotos são impressas em posters que são colados em muros, paredes e prédios como forma de expandir a voz do povo, como uma forma de lembrar à sociedade que indivíduos existem e que cada um tem uma história para contar.
      Esse projeto foi feito na Turquia também. Fotógrafos turcos foram às ruas, fotografaram gente normal. Pedestres, feirantes, taxistas, enfermeiras, donas de casa, idosos... pessoas. Vale lembrar que a Turquia esteve sobre regime ditatorial por anos, e agora "não mais". A equipe decidiu colar as fotos de inúmeros cidadãos Turcos no muro mais conhecido da cidade, o muro onde anos atrás esteve a foto do ditador. Decidiram fazer isso como simbolismo de que agora o muro pertence ao povo.
       Mas, assim que o time foi para as ruas colar as fotos, as pessoas queriam saber quem eram esses rostos. Quem eram essas pessoas nas fotos? Qual ideia eles queriam disseminar colocando essas fotos pelos muros? A mentalidade oprimida das cidadãos criou uma tensão desnecessária na colagem das fotos. Pessoas pensando que as fotos eram de algum grupo separatista tentando tomar o poder(?!). Resultado da operação? As fotos foram retiradas. No fim a discussão foi positiva. Em vez de ver o resultado como falha... a equipe viu como um passo à frente. Pelo menos a ação criou debate, instigou os cidadãos a pensarem e se expressarem livremente. Alguns admiraram, outros rasgaram as fotos, outros criticaram, outros acharam interessante, outros gritaram e xingaram. Muitos não entenderam a ideia de que arte pode sim gerar liberdade... principalmente de expressão! Isso é democracia. Cada individuo tem direito de expressar sua opinião e não engolir o sapo.
       Não adianta... a gente só aguenta a opressão até certo ponto. A tensão está sempre presente, até que explode no mais inesperado momento. Semana passada os protestos foram pacíficos. Foram contra a derrubada de árvores e demolição do parque Gezi, para construção de mais um shopping center. Praticantes de yoga, pessoas como eu e você, foram para o parque e acamparam à noite, para na manhã seguinte, tentarem impedir a derrubada das árvores. Mas, esse gesto pacífico, democrata, mostrou que nós temos direito à opinião e voz até a página dois. Estes protestos na Turquia só mostram como nós seres humanos vivemos às sombras de constante tensão que escala, escala, escala...
     Me emocionei ao ver a solidariedade de todos os Turcos cansados de sentir essa tensão diária, escalar, e engolir cada nó na garganta, e viver mais um dia nessa farsa social. Agora todos eles marcham por justiça e verdadeira democracia. Se juntam em uma única voz para dizer que eles querem viver a verdade. Marcham em uma ponte de união e identidade. Como mulher afro-brasileira, me lembro de existir em um ambiente completamente mascarado, onde me expressar é ser "aceito" desde que não interfira na estética alheia. Muita gente me pergunta, seu cabelo é estilo? Não. Meu cabelo sou eu. É personalidade, é afirmação, é resistência. Meu cabelo é parte da minha busca por verdade. Meu cabelo é a minha verdade. Meu cabelo é parte de não engolir mais os nós que estiveram na minha garganta por tanto tempo. Que me fizeram chorar e me sentir inferior por tentar ser alguém que eu não sou, viver na falsa democracia. Meu cabelo é um desabafo e um meio de impedir essa tensão crescente dentro de mim, por eu ser mulher, por eu ser negra, por eu não ser rica, por eu morar no exterior, por eu não ser estereotipada, etc. Tensão! Por todos os lados!
      "Seja você", eles dizem. Até que você vai procurar um emprego, de cabelo black. Ih! Mas aí você não entra nos padrões estéticos da firma... Seja você! Eles dizem. Até que você entra para trabalhar em uma empresa, te colocam na mesa que ninguém quer, te pagam o salário mais baixo e fazem você trabalhar o dobro... por que você é “você”. Seja você! Eles dizem... mas ninguém te dá atenção se você entra na loja para comprar um produto, a não ser que seja o segurança do estabelecimento.  
      Eu sou diferente, sou uma mulher que não tem medo de desafios, sou uma mulher que vê o lado positivo das coisas e sempre faço meu melhor. Sou uma mulher orgulhosa de ser negra, de ter o cabelo que representa minha coragem, acima de qualquer padrão estético. Amo meu visual, amo quando vejo mais e mais meninas marchando em direção a verdadeira democracia. Se libertando. Essa é a nossa ponte. Essa é a nossa busca pela verdade. Como afro-brasileiras, esse é o nosso protesto. Sermos cheias de identidade, personalidade e auto-estima. Buscar a verdadeira democracia.
    Eu me identifiquei com o povo Turco. Não tenho ideia do que seria estar lá, sendo bombardeada com gás lacrimogêneo non stop e rajadas de água, mas tenho ideia do que eles querem, porque eu quero o mesmo. Eu quero viver em verdade. Eu quero ser e existir, sem ter que fingir. Eu quero ser parte de uma comunidade real. Não uma comunidade que é consumista e alienada por shopping centers e TV, que se deixa levar por interesses de uma minoria que quer controlar, abusar, extorquir, roubar e ainda assim achar que é correto usar violência contra seres humanos, a troco de nada. Eu quero ser parte de algo autêntico, maior, mais "rebelde". Assim como meu cabelo.



É A MINHA CARA - PRISCILA REZENDE

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  Graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard - UEMG, com habilitação em Fotografia e Cerâmica, a também atriz Priscila Rezende, apresenta trabalhos ligados à relação estabelecida entre o indivíduo e a sociedade contemporânea, questões acerca das posições raciais e de gênero.
   Dentre eles, está a performance “Bombril”, realizada na tarde do último sábado (16) em frente ao Memorial Minas Vale. A performance critica a condição dos negros no contexto social. Durante a ação a artista ariou 40 utensílios metálicos – entre panelas e colheres – com o próprio cabelo.
     Com o propósito de entender melhor o trabalho, o MBP encarregou-se de entrevistá-la.

MBP: De onde e como surgiu a ideia dessa intervenção?
PR: O trabalho é uma reflexão sobre a condição do negro no meio social. Essa reflexão surgiu na verdade, há quase 10 anos atrás. Estava com uma amiga (negra) num aeroporto de Belo Horizonte, e estávamos procurando informação. Fomos passando pelos balcões e observei as moças que estavam trabalhando, todas muito elegantes e super arrumadas. Eu comentei com a minha colega e ela completou dizendo que não via nenhuma atendente negra no local. Eu não tinha reparado, observei e vi que ela realmente tinha razão. Tinha uma única recepcionista negra no local. A partir daí foi automático, praticamente em todos os locais que eu vou eu observo isso. Sempre sofri preconceito, desde criança. Antes eu não era tão observadora com relação a isso, mas passei a observar. Vejo uma pessoa negra trabalhando, observo o que ela está fazendo, qual local ela está.
    Alguns locais que são óbvios. Se você lê uma revista, raramente você vê modelo negro, na televisão é a mesma coisa... é muito difícil você ver o negro nessa posição. A partir de situações das quais eu já passei de preconceito e em relação a ter o cabelo como ponta e foco de agressão. Criei essa relação do cabelo como sendo referência pejorativa e muitas vezes, apelidado como cabelo  “Bombril” .
    Como a ideia era exatamente questionar essa colocação e a posição do negro  no meio social. Eu criei essa relação do cabelo e os nomes pejorativos que as pessoas utilizam pra se referir ao negro. Geralmente o negro está numa posição pejorativa. Por isso, a performance foi pensando nessa posição que a nossa sociedade não considera privilegiada, mas que são posições (profissionais) que a gente precisa. As pessoas que servem outras. Em muitos locais observei que geralmente o negro está em posição operacional. Por isso, a performance aconteceu no chão, ariando a panela, representando o negro que serve ao outro.

MBP: Como foi chegar num nome para a performance (Bombril) ?
PR: O nome foi mais fácil. Foi um dos primeiros que me veio na cabeça justamente por conta dessa condição da mulher negra, como aquela que serve e que geralmente trabalha nas casas, e o apelido, referindo-se ao cabelo. Veio mais fácil o nome, é uma marca. As pessoas transformaram em outra coisa. Pra mim a palavra Bombril nem me remente a marca, quando alguém fala eu penso muito na referência do cabelo negro.

MBP: O que você diria sobre as suas vivências como mulher negra e crespa assumida?
PR: Parar de alisar o cabelo foi uma liberdade pra mim. Eu alisava porque minha mãe alisava quando eu era criança. Sempre cuidou do meu cabelo. Meu e da minha irmã. Por volta dos 8 anos eu comecei a alisar o cabelo. Eu fazia porque ela (mãe) falava, era o que ela queria. Em determinado momento eu parei. Quando tinha 12 anos por conta da natação cortei bem curtinho e depois eu falei que não queria mais alisar. Falei: ”Não, eu não quero alisar mais não”, fiquei um tempo [risos]. Meu cabelo foi crescendo e foi virando um black, e um dia ela decidiu cortar meu cabelo. Eu com 12 anos, não ía discutir.
Quando eu tinha 18 anos passei por uma situação que eu me senti ridícula. Era uma época de chuva e eu estava com o cabelo alisado. Meu cabelo nem molhou, era só umidade. Estava num shopping, me olhei no espelho e meu cabelo estava um terror. Eu falei: "Ah, gente! Eu não acredito! Não vou mais passar por isso." É uma escravidão que você passa e eu não me sentia bem de forma nenhuma. Não estava me achando bonita e não me sentia bem comigo mesma. Foi uma liberdade!
     Era uma escravidão, todos os procedimentos que eu tinha que passar pra fazer o cabelo ficar liso, ficar enrolando o cabelo na hora de dormir, secar. Eu não me sentia bem. Quando penteava o cabelo ele nunca ficava do jeito que eu queria. No fim das contas eu não me sentia bem comigo mesma.
   Comecei a trançar o cabelo na época, fiquei muitos anos trançando e usando cores nas tranças. Geralmente trançava num dia, no dia seguinte trançava de novo. Hoje sinto uma liberdade. Liberdade em todos os sentidos. Eu não tenho que ficar fazendo todos aqueles procedimentos e nem seguir padrões. Eu faço o que eu quero. Pretendo depois deixar meu cabelo de novo, fazer um black, tranças, permanente...
    Quando eu era criança estudei em colégio particular. Praticamente não tinham alunos negros na escola. Tinham muitos preconceitos e um padrão completamente diferente do que a gente é.
       Eu vejo a minha irmã e minha mãe que ainda alisam o cabelo. E quando eu olho, eu penso: “Nossa gente, elas precisam se libertar disso” [risos]. Foi uma liberdade. Agora que eu raspei a cabeça também, mais ainda [risos].

MBP: Como é a história do seu cabelo e a importância de ser crespa pra você?
PR: Me deu liberdade. A partir disso, eu me senti firme pra assumir o que eu sou, do jeito que eu sou. Não me importo se estou dentro de um padrão ou não. Eu que tenho que me sentir bem. Quem tem que me achar bonita sou eu. Se o cabelo está legal pra mim é o que vale. 
    Eu passei a ter uma identificação maior com a cultura negra. Toda essa questão da cultura negra e da raiz disso sempre foi muito afastada pra mim. Num determinado momento eu reparei que eu nunca tive uma aproximação com essa raiz. E aí eu passei a procurar e a tentar conhecer melhor.  Me assumir foi principalmente procurar me conhecer melhor, aceitar, me admirar do jeito que eu sou independente de estar dentro ou fora de padrões.
    Quando eu decidi raspar o cabelo, nossa! Comecei a reparar a questão de gênero, ser mulher. Eu comecei a reparar isso também, Como uma cabelo é uma questão tão emblemática, tão simbólica. Mulher tem que ter cabelo grande. Mulher que tem cabelo curto, se raspa a cabeça, já muda. Não duvido que achem que eu sou lésbica, ou que eu fiquei louca (risos). Comecei a reparar como a questão do cabelo e da aparência é determinante pra figura feminina. Não só ser negra e reassumir o cabelo crespo. Mas, a mulher tem muito a questão da vaidade, como que dão tanto valor e como isso determina a ideia que as pessoas tem do que você é.     

MBP: Acha possível as pessoas refletirem sobre ou se abrirem para a temática apresentada a partir da performance realizada no último dia 16? O que foi observado enquanto estava atuando?
PR: Eu já tinha feito o trabalho uma outra vez num local fechado. Dentro de uma faculdade. Na primeira vez foi bem impactante. Dessa eu imaginei que seria tão impactante quanto ou mais por ter sido na rua. Algumas pessoas que já conheciam meu trabalho foram, outras que já tinham ouvido falar mas não conseguiram estar presentes na primeira vez. Quis que fosse na rua exatamente pra que tivesse esse impacto, essa surpresa de quem estivesse passando. Até eu fiquei surpresa quando vi algumas fotos. No momento do trabalho eu estou no chão, numa posição extremamente desconfortável lavando as panelas com meu próprio cabelo.  Pra eu conseguir fazer isso, tenho que me contorcer. Tem um sofrimento durante o ato. No momento do trabalho, percebi que boa parte das pessoas ficaram chocadas, fotografando. Quando passava algum ônibus as pessoas que estavam dentro faziam uma expressão de susto. Espero que a partir disso as pessoas questionem. Embora o trabalho não seja algo tão óbvio, eu acho que é possível fazerem essa ligação. Eu sou uma pessoa, mas ali o meu cabelo está sendo um objeto, dá pra refletir. Dá pra fazer uma reflexão na nossa sociedade que durante muito tempo viu o negro como objeto de trabalho.

MBP: O grupo MBP é um coletivo de mulheres que tem como foco principal incentivar o uso do cabelo natural. O que você pensa a respeito desses grupos de incentivo que viabilizam projetos para o público negro?
PR: Acho interessante. Apesar de nunca ter participado de nenhum grupo acho que é legal, temos que pensar em nos apoiar e nos colocar na sociedade. Fazer isso para o negro, mas que isso vá além. Pensando em igualdade, se queremos nos mostrar como igual, que busquemos mostrar também a igualdade. Que fique claro que somos iguais. Temos que buscar a igualdade e não nos vermos como superiores ou melhores. Existe ainda muito grande uma imposição social a respeito do negro. A primeira vez que eu fiz o trabalho uma colega minha me questionou sobre o por que não falar sobre os negros que conquistaram uma posição importante e que venceram. Uma vez, assisti um jornal e tinha uma repórter negra. Achei o máximo, mas a moça estava lá com o cabelo alisado. Fico me perguntando, será que foi uma imposição? Ela tá lá mais está enquadrada dentro daquele padrão que é o que costumam aceitar na tevê. Então fico me perguntando: será que isso é mesmo um respeito? Uma conquista? Uma inserção? O ideal é que façamos um trabalho pra nossa valorização, mas de forma a mostrar que somos iguais e que isso seja aberto pra todos. 

Fotos: Natalie Matos



PÓS-FOLIA MBP - LIBERDADE

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     Na escola aprendi que somos todos iguais. Aprendi que somos regidos por um documento que nos assegura o direito de sermos livres. Mas no carnaval sempre escuto canções que buscam uma liberdade desconhecida. Vejo nos olhos e nos cantos de meus semelhantes, grilhões tão enraizados que a tinta da Princesa Isabel não conseguiu libertar até hoje. Vejo pessoas que são levadas a acreditar que o(a) negro(a) pertence ao gueto e que só pode sair de lá em época de carnaval. Só podem se mostrar naqueles poucos dias, mas depois que passa a festa do carnaval cada um é obrigado a ocupar o lugar que lhe é imposto.
        O mundo que descrevo poderia ser o de 1988 quando os compositores da Mangueira (Hélio Turco, Jurandir e Alvinho) compuseram “Cem anos de liberdade, realidade e ilusão”escarnecendo feridas tão ocultas do negro, negro este que construiu o país. Negro(a) este(a) que não é reconhecido(a). Negro(a) que questiona onde está a liberdade que foi assinada.
       Este mundo descrito poderia ser apenas uma explicação da ficção que podemos ver em Lado a Lado, novela da Globo. Quando os(as) negros(as) só podiam se divertir nos cordões de carnaval ou em suas festas internas e escondidas. Mas esta novela pode ser chamada de ficção? Podemos chamar de ficção quando um(a) negro(a) é impedido(a) de entrar em um clube de classe média independente de sua situação financeira? Podemos chamar de ficção quando o(a) negro(a) é varrido para as margens da sociedade e para as favelas, como se lá fosse seu lugar? Podemos chamar de ficção quando um(a) negro(a), ao entrar em uma loja. atrai instintivamente todos os olhares? Onde está a liberdade assinada? Onde fica a liberdade quando ensinam que o lugar do(a) negro(a) não é nos carros luxuosos, nas confeitarias requintadas, no quiosque de classe alta? Como ficam as crianças quando são enxotadas de locais como esses? Como cuidar dos futuros negros e negras do nosso Brasil? Como assegurar que em 100 anos não cantemos as mesmas músicas buscando liberdade?