Oi. Hoje não
quero passar nada no meu cabelo. Ontem também não quis e talvez não queira por
um bom tempo. Não tenho vergonha de dizer que só estou lavando. Só mesmo. Uso
shampoo e condicionador. Apenas.
Nós dois tivemos uma conversa e resolvemos que
ele teria o tempo dele também. Sabemos (eu e ele) que cronograma, óleos e
receitinhas são importantes, mas decidimos que isso não ia afetar nossa relação. Ele (o cabelo) está mudando rápido, ficando maduro. Fios brancos
estão aparecendo, mas como estamos em uma relação aberta, tingir não é uma
escolha só minha. É dele também. Tive que ter essa abertura com ele, porque eu
estava sofrendo. Minha vida mudou muito de uns meses para cá e o tempo ficou
curto. Ficava triste e com um sentimento de
culpa quando não conseguia hidratá-lo. Por isso fui até o espelho e o toquei, abri suas mechas crespas e
conversamos. Decidimos que o que é bom pra mim, seria bom pra ele e vice-versa.
Há exatamente um mês que não hidrato. Hoje ele está lindo. Vou
hidratar? Sim, mas não hoje. Ele precisa de cuidados? Muitos, mas também queremos
ser livres. Ele está crescendo? Muito! Nunca cresceu tão rápido. Ainda amamos
óleos, babosa e receitinhas caseiras? Sim, mas só usamos quando estamos afim. Minha dica: toque seu cabelo, converse com ele, ame-o. Não simplesmente por vaidade, mas sim
por ser corpo, ser parte de você.
Olá, Meninas Black Power.Meu nome é Juliana Luna,
todos me chamam de Luna por aqui. Moro em NY há 4 anos e trabalho com moda,
dança e arte. Sou tipo uma entrepreneur. Tenho 27 anos e fui convidada pelo MBP para escrever no blog e participar como colaboradora internacional. Fiquei muito
lisonjeada pelo convite! Minha história como crespa é longa. Me libertei há uns
10 anos... Escutei muita coisa pelo fato de ter este cabelo, que é um mundo, meu
mundo.
Estou feliz em
compartilhar um pouco dessa história com vocês. Let’s go!Hoje foi um dia normal
para mim até eu me deparar com as notícias dos protestos na Turquia.Até então eu não sabia o
que estava acontecendo, porque a mídia não reporta sobre nada. Navegando por
blogs e Facebook, li sobre os protestos e fiquei muito revoltada. A opressão
à qual este país sobrevive é surreal. Lembro de ter assistido o filme de um amigo,
artista, o JR, Inside out Project, onde ele dá voz a pessoas ao redor do mundo
todo, através da arte. O projeto consiste em fazer fotos de pessoas ao redor do
mundo. Essas fotos são impressas em posters que são colados em muros, paredes
e prédios como forma de expandir a voz do povo, como uma forma de lembrar à
sociedade que indivíduos existem e que cada um tem uma história para contar.
Esse projeto foi feito
na Turquia também. Fotógrafos turcos foram às ruas, fotografaram gente
normal. Pedestres, feirantes, taxistas, enfermeiras, donas de casa,
idosos... pessoas. Vale lembrar que a Turquia esteve sobre regime ditatorial por
anos, e agora "não mais". A equipe decidiu colar as fotos de inúmeros cidadãos
Turcos no muro mais conhecido da cidade, o muro onde anos atrás esteve a foto
do ditador. Decidiram fazer isso como simbolismo de que agora o muro pertence
ao povo.
Mas, assim que o time
foi para as ruas colar as fotos, as pessoas queriam saber quem eram esses rostos.
Quem eram essas pessoas nas fotos? Qual ideia eles queriam disseminar colocando
essas fotos pelos muros? A mentalidade oprimida das cidadãos criou uma tensão
desnecessária na colagem das fotos. Pessoas pensando que as fotos eram de algum
grupo separatista tentando tomar o poder(?!). Resultado da operação? As fotos
foram retiradas. No fim a discussão foi positiva. Em vez de ver o resultado
como falha... a equipe viu como um passo à frente. Pelo menos a ação criou debate,
instigou os cidadãos a pensarem e se expressarem livremente. Alguns admiraram,
outros rasgaram as fotos, outros criticaram, outros acharam interessante,
outros gritaram e xingaram. Muitos não entenderam a ideia de que arte pode sim
gerar liberdade... principalmente de expressão! Isso é democracia. Cada
individuo tem direito de expressar sua opinião e não engolir o sapo.
Não adianta... a gente só
aguenta a opressão até certo ponto. A tensão está sempre presente, até que
explode no mais inesperado momento. Semana passada os protestos foram
pacíficos. Foram contra a derrubada de árvores e demolição do parque Gezi, para
construção de mais um shopping center. Praticantes de yoga, pessoas como eu e
você, foram para o parque e acamparam à noite, para na manhã seguinte, tentarem
impedir a derrubada das árvores. Mas, esse gesto pacífico, democrata, mostrou
que nós temos direito à opinião e voz até a página dois. Estes protestos na
Turquia só mostram como nós seres humanos vivemos às sombras de constante
tensão que escala, escala, escala...
Me emocionei ao ver a
solidariedade de todos os Turcos cansados de sentir essa tensão diária,
escalar, e engolir cada nó na garganta, e viver mais um dia nessa farsa social.
Agora todos eles marcham por justiça e verdadeira democracia. Se juntam em uma
única voz para dizer que eles querem viver a verdade. Marcham em uma ponte de
união e identidade.Como mulher afro-brasileira, me lembro de existir em um ambiente completamente mascarado,
onde me expressar é ser "aceito" desde que não interfira na estética alheia.
Muita gente me pergunta, seu cabelo é estilo? Não. Meu cabelo sou eu. É
personalidade, é afirmação, é resistência. Meu cabelo é parte da minha busca
por verdade. Meu cabelo é a minha verdade. Meu cabelo é parte de não engolir mais
os nós que estiveram na minha garganta por tanto tempo. Que me fizeram chorar e
me sentir inferior por tentar ser alguém que eu não sou, viver na falsa
democracia. Meu cabelo é um desabafo e um meio de impedir essa tensão crescente
dentro de mim, por eu ser mulher, por eu ser negra, por eu não ser rica, por eu
morar no exterior, por eu não ser estereotipada, etc. Tensão! Por todos os
lados!
"Seja você", eles
dizem. Até que você vai procurar um emprego, de cabelo black. Ih! Mas aí você não entra nos padrões estéticos da firma... Seja você! Eles dizem. Até que
você entra para trabalhar em uma empresa, te colocam na mesa que ninguém quer,
te pagam o salário mais baixo e fazem você trabalhar o dobro... por que você é
“você”. Seja você! Eles dizem... mas ninguém te dá atenção se você entra na loja
para comprar um produto, a não ser que seja o segurança do estabelecimento.
Eu sou diferente, sou
uma mulher que não tem medo de desafios, sou uma mulher que vê o lado positivo
das coisas e sempre faço meu melhor. Sou uma mulher orgulhosa de ser negra, de ter o cabelo que representa minha coragem, acima de qualquer padrão
estético. Amo meu visual, amo quando vejo mais e mais meninas marchando em
direção a verdadeira democracia. Se libertando. Essa é a nossa ponte. Essa é a
nossa busca pela verdade. Como afro-brasileiras, esse é o nosso protesto.
Sermos cheias de identidade, personalidade e auto-estima. Buscar a verdadeira
democracia.
Eu me identifiquei com o
povo Turco. Não tenho ideia do que seria estar lá, sendo bombardeada com gás
lacrimogêneo non stop e rajadas de água, mas tenho ideia do que eles querem,
porque eu quero o mesmo. Eu quero viver em verdade. Eu quero ser e existir, sem
ter que fingir. Eu quero ser parte de uma comunidade real. Não uma comunidade
que é consumista e alienada por shopping centers e TV, que se deixa levar por
interesses de uma minoria que quer controlar, abusar, extorquir, roubar e ainda
assim achar que é correto usar violência contra seres humanos, a troco de nada. Eu quero ser parte de
algo autêntico, maior, mais "rebelde". Assim como meu cabelo.
Graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard - UEMG, com
habilitação em Fotografia e Cerâmica, a também atriz Priscila Rezende, apresenta
trabalhos ligados à relação estabelecida entre o indivíduo e a sociedade contemporânea,
questões acerca das posições raciais e de gênero.
Dentre eles, está a performance “Bombril”, realizada na tarde
do último sábado (16) em frente ao Memorial Minas Vale. A performance critica a
condição dos negros no contexto social. Durante a ação a
artista ariou 40 utensílios metálicos – entre panelas e colheres – com o
próprio cabelo.
Com o propósito de entender melhor o trabalho, o MBP
encarregou-se de entrevistá-la.
MBP:De onde e como surgiu a ideia dessa
intervenção?
PR: O trabalho é uma
reflexão sobre a condição do negro no meio social. Essa reflexão surgiu na
verdade, há quase 10 anos atrás. Estava com uma amiga (negra) num aeroporto de
Belo Horizonte, e estávamos procurando informação. Fomos passando pelos balcões
e observei as moças que estavam trabalhando, todas muito elegantes e super arrumadas.
Eu comentei com a minha colega e ela completou dizendo que não via nenhuma
atendente negra no local. Eu não tinha reparado, observei e vi que ela
realmente tinha razão. Tinha uma única recepcionista negra no local. A partir
daí foi automático, praticamente em todos os locais que eu vou eu observo isso.
Sempre sofri preconceito, desde criança. Antes eu não era tão observadora com
relação a isso, mas passei a observar. Vejo uma pessoa negra trabalhando, observo
o que ela está fazendo, qual local ela está.
Alguns
locais que são óbvios. Se você lê uma revista, raramente você vê modelo negro,
na televisão é a mesma coisa... é muito difícil você ver o negro nessa posição.
A partir de situações das quais eu já passei de preconceito e em relação a ter
o cabelo como ponta e foco de agressão. Criei essa relação do cabelo como sendo
referência pejorativa e muitas vezes, apelidado como cabelo “Bombril” .
Como
a ideia era exatamente questionar essa colocação e a posição do negro no meio
social. Eu criei essa relação do cabelo e os nomes pejorativos que as pessoas utilizam
pra se referir ao negro. Geralmente o negro está numa posição pejorativa. Por
isso, a performance foi pensando nessa posição que a nossa sociedade não
considera privilegiada, mas que são posições (profissionais) que a gente
precisa. As pessoas que servem outras. Em muitos locais observei que geralmente
o negro está em posição operacional. Por isso, a performance aconteceu no chão,
ariando a panela, representando o negro que serve ao outro.
MBP: Como foi chegar num nome para a
performance (Bombril) ?
PR: O nome foi mais
fácil. Foi um dos primeiros que me veio na cabeça justamente por conta dessa
condição da mulher negra, como aquela que serve e que geralmente trabalha nas
casas, e o apelido, referindo-se ao cabelo. Veio mais fácil o nome, é uma marca.
As pessoas transformaram em outra coisa. Pra
mim a palavra Bombril nem me remente a
marca, quando alguém fala eu penso muito na referência do cabelo negro.
MBP: O que você diria sobre as suas
vivências como mulher negra e crespa assumida?
PR: Parar de alisar o
cabelo foi uma liberdade pra mim. Eu alisava porque minha mãe alisava quando eu
era criança. Sempre cuidou do meu cabelo. Meu e da minha irmã. Por volta dos 8
anos eu comecei a alisar o cabelo. Eu fazia porque ela (mãe) falava, era o que ela
queria. Em determinado momento eu parei. Quando tinha 12 anos por conta da
natação cortei bem curtinho e depois eu falei que não queria mais alisar. Falei:
”Não, eu não quero alisar mais não”, fiquei um tempo [risos]. Meu cabelo foi
crescendo e foi virando um black, e um dia ela decidiu cortar meu cabelo. Eu
com 12 anos, não ía discutir.
Quando
eu tinha 18 anos passei por uma situação que eu me senti ridícula. Era uma
época de chuva e eu estava com o cabelo alisado. Meu cabelo nem molhou, era só
umidade. Estava num shopping, me olhei no espelho e meu cabelo estava um
terror. Eu falei: "Ah, gente! Eu não acredito! Não vou mais passar por isso." É uma
escravidão que você passa e eu não me sentia bem de forma nenhuma. Não estava
me achando bonita e não me sentia bem comigo mesma. Foi uma liberdade!
Era uma escravidão, todos os procedimentos que eu tinha que passar pra fazer o
cabelo ficar liso, ficar enrolando o cabelo na hora de dormir, secar. Eu não me
sentia bem. Quando penteava o cabelo ele nunca ficava do jeito que eu queria.
No fim das contas eu não me sentia bem comigo mesma.
Comecei
a trançar o cabelo na época, fiquei muitos anos trançando e usando cores nas
tranças. Geralmente
trançava num dia, no dia seguinte trançava de novo. Hoje sinto uma liberdade.
Liberdade em todos os sentidos. Eu não tenho que ficar fazendo todos aqueles
procedimentos e nem seguir padrões. Eu faço o que eu quero. Pretendo depois
deixar meu cabelo de novo, fazer um black, tranças, permanente...
Quando
eu era criança estudei em colégio particular. Praticamente não tinham alunos
negros na escola. Tinham muitos preconceitos e um padrão completamente
diferente do que a gente é.
Eu
vejo a minha irmã e minha mãe que ainda alisam o cabelo. E quando eu olho, eu
penso: “Nossa gente, elas precisam se libertar disso” [risos]. Foi
uma liberdade. Agora que eu raspei a cabeça também, mais ainda [risos].
MBP: Como é a história do seu cabelo e a
importância de ser crespa pra você?
PR: Me deu liberdade. A partir disso, eu me senti firme pra
assumir o que eu sou, do jeito que eu sou. Não me importo se estou dentro de um
padrão ou não. Eu que tenho que me sentir bem. Quem tem que me achar bonita sou
eu. Se o cabelo está legal pra mim é o que vale.
Eu
passei a ter uma identificação maior com a cultura negra. Toda essa questão da
cultura negra e da raiz disso sempre foi muito afastada pra mim. Num determinado
momento eu reparei que eu nunca tive uma aproximação com essa raiz. E aí eu
passei a procurar e a tentar conhecer melhor. Me assumir foi principalmente procurar me
conhecer melhor, aceitar, me admirar do jeito que eu sou independente de estar
dentro ou fora de padrões.
Quando
eu decidi raspar o cabelo, nossa! Comecei a reparar a questão de gênero, ser
mulher. Eu comecei a reparar isso também, Como uma cabelo é uma questão tão
emblemática, tão simbólica. Mulher tem que ter cabelo grande. Mulher que tem
cabelo curto, se raspa a cabeça, já muda. Não duvido que achem que eu sou
lésbica, ou que eu fiquei louca (risos). Comecei a reparar como a questão do
cabelo e da aparência é determinante pra figura feminina. Não só ser negra e
reassumir o cabelo crespo. Mas, a mulher tem muito a questão da vaidade, como
que dão tanto valor e como isso determina a ideia que as pessoas tem do que
você é.
MBP: Acha possível as pessoas refletirem
sobre ou se abrirem para a temática apresentada a partir da performance realizada
no último dia 16? O que foi observado enquanto estava atuando?
PR: Eu já tinha feito o
trabalho uma outra vez num local fechado. Dentro de uma faculdade. Na primeira
vez foi bem impactante. Dessa eu imaginei que seria tão impactante quanto ou
mais por ter sido na rua. Algumas pessoas que já conheciam meu trabalho foram, outras
que já tinham ouvido falar mas não conseguiram estar presentes na primeira vez.
Quis que fosse na rua exatamente pra que tivesse esse impacto, essa surpresa de
quem estivesse passando. Até eu fiquei surpresa quando vi algumas fotos. No
momento do trabalho eu estou no chão, numa posição extremamente desconfortável
lavando as panelas com meu próprio cabelo. Pra eu conseguir fazer isso, tenho que me
contorcer. Tem um sofrimento durante o ato. No momento do trabalho, percebi que
boa parte das pessoas ficaram chocadas, fotografando. Quando passava algum
ônibus as pessoas que estavam dentro faziam uma expressão de susto. Espero que
a partir disso as pessoas questionem. Embora o trabalho não seja algo tão óbvio,
eu acho que é possível fazerem essa ligação. Eu sou uma pessoa, mas ali o meu
cabelo está sendo um objeto, dá pra refletir. Dá pra fazer uma reflexão na
nossa sociedade que durante muito tempo viu o negro como objeto de trabalho.
MBP: O grupo MBP é um coletivo de
mulheres que tem como foco principal incentivar o uso do cabelo natural. O que
você pensa a respeito desses grupos de incentivo que viabilizam projetos para o
público negro?
PR: Acho interessante.
Apesar de nunca ter participado de nenhum grupo acho que é legal, temos que
pensar em nos apoiar e nos colocar na sociedade. Fazer isso para o negro, mas
que isso vá além. Pensando em igualdade,
se queremos nos mostrar como igual, que busquemos mostrar também a igualdade.
Que fique claro que somos iguais. Temos que buscar a igualdade e não nos vermos
como superiores ou melhores. Existe ainda muito grande uma imposição social
a respeito do negro. A primeira vez que eu fiz o trabalho uma colega minha me
questionou sobre o por que não falar sobre os negros que conquistaram uma
posição importante e que venceram. Uma vez, assisti um jornal e tinha uma
repórter negra. Achei o máximo, mas a moça estava lá com o cabelo alisado. Fico
me perguntando, será que foi uma imposição? Ela tá lá mais está enquadrada
dentro daquele padrão que é o que costumam aceitar na tevê. Então fico me
perguntando: será que isso é mesmo um respeito? Uma conquista? Uma inserção? O
ideal é que façamos um trabalho pra nossa valorização, mas de forma a mostrar
que somos iguais e que isso seja aberto pra todos.
Na escola aprendi que somos todos iguais. Aprendi que somos
regidos por um documento que nos assegura o direito de sermos livres. Mas no
carnaval sempre escuto canções que buscam uma liberdade desconhecida. Vejo nos
olhos e nos cantos de meus semelhantes, grilhões tão enraizados que a tinta da
Princesa Isabel não conseguiu libertar até hoje. Vejo pessoas que são levadas a
acreditar que o(a) negro(a) pertence ao gueto e que só pode sair de lá em época
de carnaval. Só podem se mostrar naqueles poucos dias, mas depois que passa a
festa do carnaval cada um é obrigado a ocupar o lugar que lhe é imposto. O mundo que descrevo poderia ser o de 1988 quando os compositores da
Mangueira (Hélio Turco, Jurandir e Alvinho) compuseram“Cem anos de liberdade, realidade e
ilusão”, escarnecendo feridas tão
ocultas do negro, negro este que construiu o país. Negro(a) este(a) que não é
reconhecido(a). Negro(a) que questiona onde está a liberdade que foi assinada. Este mundo descrito poderia ser apenas uma explicação da ficção que
podemos ver emLado a
Lado, novela da Globo. Quando os(as)
negros(as) só podiam se divertir nos cordões de carnaval ou em suas festas
internas e escondidas. Mas esta novela pode ser chamada de ficção? Podemos
chamar de ficção quando um(a) negro(a) é impedido(a) de entrar em um clube de
classe média independente de sua situação financeira? Podemos chamar de ficção
quando o(a) negro(a) é varrido para as margens da sociedade e para as favelas,
como se lá fosse seu lugar? Podemos chamar de ficção quando um(a) negro(a), ao
entrar em uma loja. atrai instintivamente todos os olhares? Onde está a
liberdade assinada? Onde fica a liberdade quando ensinam que o lugar do(a)
negro(a) não é nos carros luxuosos, nas confeitarias requintadas, no quiosque
de classe alta? Como ficam as crianças quando são enxotadas de locais como
esses? Como cuidar dos futuros negros e negras do nosso Brasil? Como assegurar
que em 100 anos não cantemos as mesmas músicas buscando liberdade?