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TEMPO DE SER MULHER NEGRA!

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Normélia de Oliveira Xavier

Em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. O objetivo principal era trazer à tona a invisibilidade das mulheres pretas destas regiões e as opressões vividas nos campos do gênero e das mediações étnico-raciais, de modo a ampliar e fortalecer as organizações e a identidade das mulheres negras, construindo estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo. A data da reunião – 25 de julho – foi tirada como data-símbolo da mulher negra latino americana e caribenha. Para muitos, é apenas uma data para engordar o vasto calendário mundial, que comemora feitos e conquistas de mártires que não nos contempla. Para nós, mulheres pretas forjadas na dor do racismo, o 25 de julho é um marco. Uma forma de nos fazer representadas, e de sermos protagonistas de nossa própria existência.
São muitas as mulheres pretas que nos fazem sentir orgulho de nossa trajetória de luta: Mãe Meninina do Gantois, Tia Ciata, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta. São muitas as que nos fazem ter mais força no combate contra o machismo e o sexismo, que nos impede de tomar posse dos locais sociais que nos são de direito, como o mercado de trabalho e os espaços políticos, por exemplo. São tantas as que nos inspiram a resistência; a força de um corpo que sofre no parto mal feito por uma rede de saúde que pretere a mulher preta. Mas tantas dessas mulheres pretas não estão (d)escritas nas páginas da História. Muitas são anônimas, analfabetas, domésticas, estudantes, mães, mulheres simples da luta diária pelo sobreviver.

Muitas se chamam apenas Normélia de Oliveira Xavier. São pretas. Anônimas. Paulistas. Filhas de marinheiro que morreu na primeira década do novecentos. Muitas ficaram órfãs aos seis anos. Muitas não sabem de quem nasceram. Muitas cresceram na casa de Benjamin Constant, em Santa Teresa, e foram escolhidas entre tantas outras crianças para fazerem companhia às filhas do já citado. Essas Normélias da Vida não foram compradas, mas era como se tivessem sido. Aprenderam as letras, o francês, o piano, e trabalharam em troca de tantos bons cuidados que receberam. E quando já não mais serviam aos caprichos daquela família por terem se tornado adultas, eram convidadas a se retirarem da residência. Normélias eram grandes, eram fortes. Saíram ao despejo sem lamentos. Com mulheres como Normélia, mulheres pretas hoje aprenderam ser grandes. Fortes. Normélias ensinaram que poderíamos ser o que sonhássemos ser.
Maria da Penha, mãe de Fabíola Oliveira
Muitas outras desas pretas se chamam apenas Maria da Penha. São filhas da Osun. São mães. São mulheres. São pretas. Persistem. Resistem à violência. Semeiam fé em almas secas. Socorrem na aflição. São úteros cheios de luz. São leoas ante a covardia. São ventos que bailam a quizomba das vitoriosas que não morreram sob o jugo dos senhores. Que não morreram com os abortos. Que não morreram nas esquinas da prostituição. Que não morreram de fome e frio nas ruas. Que não enlouqueceram. Que sobreviveram. Que ainda choram pelo espelho que se quebrou...
Muitas mulheres pretas são apenas parte de um Coletivo de Meninas que usam Black Power. Meninas mulheres com quem aprendemos no amor ao nosso SER MULHER o que talvez a vida nos fizesse aprender com a dor. Cada uma delas, da mais velha à mais nova, ensina com carinho, "afrodengo" e risadas. Hoje somos amigas, primas, irmãs, tias, mães, tutoras, conselheiras, espelhos, exemplos... Esse é o nosso coletivo de mulheres pretas.
É preciso um olhar cuidadoso pra identificar a violência mascarada de cuidado; o xingamento travestido de gracejo; o bem-querer que camufla o racismo. Naturalizamos há muito tempo o lugar irrelevante que foi destinado à mulher negra na história. Naturalizamos o pouco caso que é feito daquela que é o coração da família. Naturalizamos a desvalorização da tripla jornada de trabalho diário. A mulher preta é mãe, é pai, é educadora, é doméstica, é médica, é irmã, é mulher. Mas mulher preta é, antes de tudo, forte. Todas são mulheres pretas, reflexo de nós!


Por Fabíola Oliveira, Jaciana Melquiades e Jessyca Liris


COISA NOSSA - NESSA FESTA VAI TER ZOEIRA

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   Já diziam os Los Hermanos que "todo carnaval tem seu fim" e nós concordamos, mas não poderíamos deixar passar algo que nos chamou atenção e vale a pena o post. 
     A escola de samba Império da Tijuca foi a campeã da Série A – antigo grupo de acesso - do carnaval carioca de 2013 e conquistou o direito de retornar, no ano que vem, ao grupo Especial, onde esteve pela última vez em 1996. 
      Bem, você deve estar se perguntando: "O que o Meninas Black Power tem a ver com isso?" A gente te responde: TUDO! Esse ano a escola do morro da Formiga veio homenageando as mulheres negras em vários momentos da história. O enredo "Negra, Pérola Mulher", do carnavalesco Junior Pernambucano, além do campeonato pra escola, trouxe muita emoção, beleza e orgulho pra quem viu e participou do desfile. 
    A escola contou das guerreiras africanas, feiticeiras, atrizes, escritoras,  até as personagens marcantes como Mercedes Baptista, que foi a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 
    A comissão de frente, coreografada por Junior Scapin, era formada apenas por mulheres negras, vieram representando guerreiras africanas e além de ganhar aplausos, ganharam premiações pela coreografia marcante e impressionante. Sobre isso, Lais, uma das participantes da comissão de frente, diz: "Foi uma experiência incrível na minha vida profissional. Primeiro por ter sido a primeira comissão de frente que fiz no grupo A, que é de extrema importância no carnaval. Me senti lisonjeada pela oportunidade que Jr. Scapin me deu nesse ano. Além de ter tratado de um enredo simplesmente fabuloso, que sãos as mulheres negras, a escola ainda foi campeã do carnaval 2013. Tem coisa melhor? Tenho sentimento de dever comprido e muito bem feito. Tudo isso é graças ao Jr., sem ele nada seria de grande impacto como foi. Foi extremamente INCRÍVEL!"
       Abaixo o link do desfile para quem não viu:






É A MINHA CARA - SANDRA KELLI “PIXAIM”

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  Um dia, passando pela feirinha cultural da Praça Seca, vi uma barraca muito simpática, com produtos artesanais lindos... Parei para dar aquela olhadinha e me deparei com lindas flores para os cabelos. Fiquei apaixonada! O Manuel (marido da Sandra) foi mega simpático e eu logo perguntei se eles tinham perfil no Facebook , ele disse que sim e me deu um cartão. Chegando em casa entrei rapidinho no Facebook, curti a página e fiz contato com a Sandra, que me respondeu logo em seguida. Marcamos um encontro na barraca e foi amizade à primeira vista.

MBP: Fale um pouco de você!
Sandra Kelli: Sou casada, tenho um filho, sou de São Paulo capital. Estou no Rio de Janeiro há 10 anos. Além de ser artesã, sou também professora de Ciências e Biologia na rede pública de ensino.

MBP: Como nasceu a Pixaim?
SK: A Pixaim nasceu através do meu amor pelo artesanato. O artesanato entrou na minha vida devagarzinho... Na verdade, há um tempo nem me imaginava fazendo artesanato. Primeiro foi o crochê, que aprendi bem pequena com a minha bisavó. Mais tarde parti para bijuteria, fazia somente para meu uso. Passava em algum lugar gostava de um colar, brinco ou pulseira e já era uma ideia para que eu criasse uma peça para mim. Depois foi pintura em gesso e madeira, mosaico, etc. Um belo dia me apaixonei pelas cores do feltro e passei a produzir várias peças como chaveiros, colares, móbiles e assim surgiu o amor pelos tecidos. Descobri um site maravilhoso com fotos de artesanato e lá conheci virtualmente várias amigas e as ideias foram surgindo. Decidi mandar fazer uma logo que me identificasse, pela minha raça, pelo meu cabelo, e assim surgiu o nome e o logo da Pixaim. Um dia decidi comercializar meus produtos, as coisas foram acontecendo e hoje estamos aí.

MBP:  Como você comercializa os seus produtos?
SK: Tenho um ateliê que funciona em um cômodo da minha casa, tenho uma loja virtual no site Elo7 e faço feiras. Uma fixa semanal e por enquanto somente uma mensal, mas já tenho outros projetos.

MBP: Seus acessórios para cabelos têm uma boa saída?
SK: Sim, tem bastante saída, pois hoje descobrimos que podemos tornar uma produção incrível com acessórios nos cabelos, seja uma faixa, flor, tiara, laço...

MBP:  Qual a historia do seu cabelo?
SK: Bom, tudo começou com aquelas tranças grossas que minha mãe fazia quando eu era criança. Quando cheguei aos oito anos a vaidade chegou e nada era mais bonito do que um cabelo alisado com "pente de ferro" quente ou chapinha e uma boa vaselina para dar aquele brilho. No final da adolescência o máximo era henê e chapinha. Quem não queria ter um cabelo preto azulado, bem lisinho? Até que um belo dia os fabricantes de cosméticos descobriram que pessoas de cabelo crespo gastavam com produtos, aliás, são as que mais gastam, e nas prateleiras passou a haver uma gama imensa de produtos para cabelos crespos que nem sempre cumprem o que prometem, mas enfim, chegou o relaxamento. Descobrimos que poderíamos não ficar tão escravas do cabelo, que podíamos pegar uma chuva ou entrar no mar ou piscina e ficar com vergonha e nem tão pouco que fugissem de nós pelo cheiro do henê. Usei vários tipos de relaxante, inclusive fui cliente de um famoso salão especializado em cabelos crespos e cacheados aqui no Rio de Janeiro. No momento, dei um tempo no relaxamento e pretendo relaxar somente a raiz, mas não desejo mais ter cabelos alisados.

MBP -  Qual a rotina do seu cabelo?
SK: Eu relaxo os cabelos, porém estou a quase 4 meses sem relaxamento. Tonalizo e faço uso de bons cremes de hidratação, ampolas tipo "power dose" e queratina líquida.

MBP: Hoje muitas mulheres crespas tem aceitado o cabelo, deixando natural. O que você acha disso?
SK: Acho maravilhoso! Até porque é a nossa identidade. Podemos ser ruivas, loiras, ter cabelos alisados, mas a nossa essência é o cabelo crespo e isso ninguém vai mudar. Aceitação é tudo!

MBP: Deixe uma frase ou citação que te inspira para as Meninas Black Power...
SK: "Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade." (Raul Seixas)

DICAS DE PRODUTOS PARA OS NOSSOS CRESPINHOS

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza
Foto: Lulu e Lili Acessórios | Modelo: Elis Cantanhede

     Quando eu era pequena, lembro muito bem da dificuldade da minha mãe em conseguir produtos para o meu cabelo. Naquela época, meados dos anos 80, o mercado não tinha interesse em cabelos crespos. Você tinha poucas opções e algumas delas eram: cortar Joãozinho, alisar (pente quente, henê) ou deixar preso. Bom, a minha mãe escolheu deixar Joãozinho. Eu me lembro até hoje o constrangimento de ser confundida com um menino. Mas hoje os tempos mudaram e temos muita coisa boa e baratinha para as nossas crianças. Aqui vão algumas dicas dos mais vendidos no Brasil:


Johnson’s Crescidinhos, Cabelos Cacheados:

   Para completar o tratamento para os cabelos cacheados da criança que está crescendo, o condicionador contém agentes hidratantes que cuidam dos cachinhos, deixando-os macios, fáceis de pentear e sob controle. A fórmula é consistente, não escorrega das mãos, é fácil de espalhar e enxaguar e evita desperdícios. Com a fórmula "Chega de Nós", o produto facilita na hora de pentear. Possui também a exclusiva fórmula "Chega de Lágrimas", clinicamente testada para não irritar os olhos dos crescidinhos. Indicação: 2 anos.


Philasia, Trá Lá Lá Kids, Redutor de Volume:

   Xampu, condicionador e creme para pentear com fragrância frutada que auxilia no tratamento diário dos cabelos reduzindo o volume e definindo os cachos. Preços sugeridos: R$ 5,40, R$ 6,40, R$ 4,00.




Avora Kids, Cacheados:

   Para crianças de 3 a 10 anos, possui formulação suave com Complexo de Cereais, que hidratam e protegem os fios e proteínas derivadas do leite para nutrir e desembaraçar, deixando os cachinhos definidos e fáceis de pentear. Preço sugerido: R$9,50 (200ml).



Acqua Kids Frutas, Nazca:

    Com cheirinho de mamão Papaya e fórmula biodegradável, para cacheados. A empresa também lançou recentemente a linha Naturals Erva doce com hortelã ou mel e girassol, ambos com ativos orgânicos. Preços sugeridos: R$ 5,80 o xampu e R$ 6,10 o condicionador.

Naturé Tóin óin óin, Natura: 

    "É uma homenagem de Natura Naturé às molinhas do cabelo. Podem ser molinhas pequenininhas, maiorzinhas ou bem grandinhas. Tóin óin óin é um shampoo que limpa todas elas com suavidade, deixando os fios muito macios". Preço sugerido: R$14,00.



Turma da Xuxinha, Xampu:

     Dermatologicamente testado. Controla o volume. Foi elaborado com  ingredientes suaves e hidratantes que proporcionam uma limpeza eficiente e ajudam a controlar o volume dos cachinhos. Deixa os cabelos cheirosos, macios e com um ondulado natural. R$ 4,00


    Lembrando que o uso frequente de gel não é aconselhado porque pode ressecar os fios. Os fios cacheados já têm uma forte tendência ao ressecamento, o que pode piorar com o uso frequente de gel. O ideal é usar um leave in específico para cabelos cacheados. Esse produto ajuda na definição dos cachos. E nada mais barato e fácil que o nosso bom e famoso gel de linhaça.

Fontes: 

CUIDADOS COM A PELE NEGRA

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   Hey, Meninas! Que honra começar o ano com vocês! Bom primeiramente, prazer! Meu nome é Isadora e este ano estarei com vocês para falar sobre uma das coisas que mulher mais ama fazer... E aí? Já imaginaram? Quem pensou em makeup acertou. Sou Makeup Artist e estarei ajudando-as a ficar mais lindas do que são e a destacarem essa beleza da mulher negra!
    O título já é bem sugestivo então não vou fazer "segredo" [risos]. Quantas de vocês já ouviu que pele negra não precisa de protetor solar acima de fator 30? Que pele negra é muito oleosa e não precisa de hidratantePois é, isso tudo é mito e informação errada! Sou negra e também achava o mesmo até ter conhecimento de tais informações... Rápida prévia: A pele negra possui maior resistência ao sol e tem a produção maior de colágeno e melasma, portanto engana-se quem acha que por causa da maior proteção a pele negra não precise de protetor solar! O melasma é o principal responsável pelas manchas roxas ou pretas que aparecem em nossa linda pele com o sol, machucados, acne ou até mesmo picada de pernilongos (como eu os odeio!).

Cuidados necessários:
- Como tenho a pele com algumas acnes eu faço uma limpeza que se chama anti-acne a cada 15 dias e uso protetor solar fator 40, além das manutenções em casa, né?! Porém o que podemos fazer é uma limpeza de pele caseira que também surte efeitos caso você só queira limpar e minimizar acnes. Fica aqui uma receita de limpeza de pele caseira com esfoliação:

Esfoliante com mel e acúçar
- 1 sabonete neutro (indico o Asepxia, mas lembrando de que ele deixa a pele um pouco seca então é sempre bom usar um hidratante logo após); 
- Água; 
- 1 colher de sopa de mel; 
- 2 colheres de sopa de açúcar; 
- Algodão; 
- Toalha;



Modo de aplicar:
1 - Limpando a pele: Pegue um pedaço de algodão, umedeça na água, passe no sabão neutro e em seguida na  pele esfregando um pouco, mas não faça muito forte para não machucar a pele. Repita esse procedimento até que o algodão pare de ficar sujo. Se caso você tiver loção para limpeza da pele também pode usar.
2 - Esfoliação: Misture o açúcar e o mel, passe no rosto fazendo movimentos circulares, dando preferência às áreas do rosto com mais cravos.
3 - Deixe o esfoliante agir por uns 5 minutos e logo em seguida enxágue.
4 - Seque bem o rosto com a toalha e passe para a próxima sequência.
5 - Finalização: Agora com a pele limpa, você pode aplicar o hidratante de costume, (eu indico o hidratante da Neutrogena que é mega em conta e o filtro solar da Espectabran que deixa nossa pele bem sequinha, uma delícia. No protetor o preço não é o dos mais em conta porém se comparado aos outros oferecidos para  nosso tipo de pele ele sem sombra de dúvida é o melhor). Observação: Este esfoliante é indicado para pele com acnes ou cravos, não é indicado para pele sensível pois pode causar vermelhidão. O mel é cicatrizante porque contém própolis que é um antibiótico natural.

Produtos informados e os valores médios:
Hidratante Neutrogena (Oil free) - R$31,50 
Protetor solar Espectraban - R$ 42,00 à 62,00

   Crespas, espero ter ajudado a melhorarem os cuidados com a pele. Logo menos eu volto para passar mais dicas e começar enfim as dicas de make. Mandem sugestões! Beijinhos crespos.

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É A MINHA CARA - LUANA RODRIGUES

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Ela desfila pela rede. Sempre cacheada, criativa, autêntica, bem livre e com muita opinião pra dar. É colaboradora do Meninas Black Power e idealizadora do programa Social na Rede, exibido exclusivamente na web. Por essas e outras que a convidamos pra um papo muito construtivo e descontraído que vocês conferem logo abaixo.

O "blackinho de poodle" na infância
MBP: Vamos falar de "cabelón" primeiro. Como você chegou nesses cachos aí?
LR: Desde pequena tive cabelo cacheado, ele nunca foi liso. Eu sempre gostei que ficasse cheio, desde novinha mesmo, e minha mãe cultivava isso. Ela cuidava pra que ele não crescesse muito, pra manter meu "blackinho de poodle". Isso até uns 4 anos. Depois, com a fase de escolinha e piolho, ela passou a usar tiara e isso foi "abaixando" meu volume. O cabelo foi crescendo e os cachos ficando mais abertos, mais soltos. Então, eu passei a usar rabos de cavalo, mas sempre com frizz na raiz e o rabo bem cacheado. Gostava mais dele solto.


MBP: E você nunca quis modificar o natural? Sempre gostou dos cachos?
LR: Eu nunca, mas até hoje recebo forte influência - da família mesmo - pra que eu alise o cabelo. Uma cunhada muito querida já chegou a comprar produtos pra testar no fio dela e usar no meu. Ela tem outro perfil, gosta de tingir de louro e usar chapado, e eu gosto do cabelo cheio. Isso a incomoda. É bem estranho...

MBP: Então você recebe críticas por ter sido sempre assim natural? Além da família essa pressão acontece em outros ambientes?
LR: Apenas minha cunhada se esforça pra que eu alise o cabelo. Nos outros ambientes eu sou bem feliz com meu cabelo e em especial nesse momento. Eu exerço consultoria no âmbito da comunicação para um escritório de advocacia conceituado no RJ e lá eu uso meu cabelo cheio, de trança, de lenço. Eu evidencio o que eu quero ser e como meu cabelo pode traduzir isso.

MBP: Maravilha! Fala mais do trabalho. O que você anda fazendo da vida?
LR: Eu sou comunicóloga. Digo assim porque jornalista ficou pouco. Eu tenho formação em jornalismo, em webwriter, gerencio mídias digitais, exerço assessoria de imprensa, faço produção de eventos e produção em moda também. Trabalho com comunicação desde os 19 anos e hoje tenho 28. A minha mais nova investida é o canal Social na Rede. Temos Fanpage e Twitter também. Apenas duas semanas de trabalho, poucos acessos [na época da entrevista]... Estou no começo. Nesse canal eu convido amigos pra uma social aqui em casa e o que seria só um papo, eu gravo e publico na web. Como eu amo falar e tenho amigos com experiências muito interessantes, pensei em congregar isso e dividir na internet o que quase todo dia acontece aqui em casa.


MBP: E sobre que assuntos você pretende falar? Geral?
LR: Sim! Qualquer assunto que esteja no meio comunicação, na web, na "vida real". Qualquer assunto que possa conceituar o termo "rede social", estando reunida com amigos que produzem nos mais diversos nichos sempre rola um papo rico em informação

MBP: Você contou que pretende falar sobre cabelo crespo num desses papos. Sobre o que exatamente?
LR: Em especial esse assunto me interessa por conta da relevância que tem tomado. Há pessoas falando, há muito sobre a importância de se valorizar o cabelo crespo, há ignorância sobre denominar o cabelo como bom ou ruim, e nisso eu esbarro desde sempre com muita atenção. Sempre achei o preto, o homem e a mulher negros, algo muito especial em específico no nosso país. Sempre busquei uma formação no que diz respeito ao tema por conta de uma questão muito pessoal. Eu sou adotada, não conheço meu pai biológico, e o pouco que sei é que é (ou era) um negro muito bonito e que eu teria duas irmãs lindas, de cabelo bem cheio, bem "juba" mesmo. Me disseram isso e ficou no meu inconsciente de algum modo. Eu sempre valorizo o cabelo crespo e sinto sim que eu faço parte de um grupo de poucos, infelizmente. O fato de o o cabelo, o negro, o reconhecimento do indivíduo em sua origem e formação, me envolver bastante no que diz respeito ao conhecimento, fez com que eu buscasse mais ainda sobre o assunto, mais produtos, mais espaços de beleza especializados... E me dei conta que os que existem não são tão expostos. O que eu quero abordar no episódio em que teremos é como e porque a gente precisa falar de si e porque não ouvimos de nós e o que ouvimos, geralmente, não nos satisfaz.

MBP: Você disse que a questão da valorização do natural está crescendo e que, quando ouvimos, quase sempre não nos satisfaz. Acha que a questão está sendo abordada da forma correta? A maioria fala sobre cortes, produtos e etc. como uma coisa transitória que a moda trouxe e não como algo natural, que precisa ser cultivado.
LR: Concordo com a sua afirmação e por isso nego que esteja sendo abordado de forma correta. Ainda se fala muito no cabelo como algo caricato, ainda ficam aquelas referências: o gordo, aquela menina ali de trança, aquele menino ali de cabelo duro pro alto... Ainda não se saiu disso, como se o cabelo fosse algo iconográfico, um rótulo. Acho que a gente pode dar valor a alguém que fala de cabelo crespo quando esse alguém defende o conhecimento, o saber sobre o fio. Parece uma supervalorização mas não é. Um cabelo "liso" é mais aceito e por isso pouco tem por se dizer "em defesa dele". O cabelo crespo quase que precisa de aprovação, e se é assim, precisamos saber que não é certo, que algo está fora da ordem aí, e por conta disso, dar valor ao fio e lembrar: há uma história aqui, há algo que você não sabe sobre mim, eu e meu cabelo podemos contar. Nesse aspecto, o fio deve ser valorizado, os penteados devem ser idealizados. Eu vi recentemente um longa mulheres africanas em que uma das entrevistadas falava sobre o seu penteado. Mas, notem, ela fala sobre o seu penteado apenas no final e declara: "é um penteado de rainha". Eu penso que há muito imbuído nessa opção da edição, de deixar essa fala só pro final. É pra justamente dizer: você com certeza deve ter observando o cabelo desta mulher e deve ter pensando algumas coisas sobre ele, sobre ela, mas, ele tem algo a lhe dizer, e isso foi dito. 

MBP: Então, diante de todos os motivos que você já deu, qual é a importância de ser crespa pra você?
LR: Poder ter comigo desde que nasci a riqueza de uma herança ainda mais, de um país misto que não tem uma história conhecida em sua verdade que mais se aproxima da verdade real... E com isso, ter a obrigação de me reconhecer e com amor - por me amar muito -, poder identificar pros outros que ser crespo é muito lindo, muito valor e muita atitude.

Vocês podem curtir o Social na Rede aqui na Fanpage. Em seguida o pograma falando sobre crespos com os meninos do Trança Nagô* e o trailer do filme "Mulheres Africanas - A Rede Invisível".