Olá, me chamo Laís Reverte, faço parte da equipe MBP e vim
aqui falar sobre algo meio polêmico, mas de uma forma mais leve, mostrando a
minha experiência. Quando eu entrei na página do “Meninas”, que foi fruto de uma
pesquisa aleatória no Facebook em busca de páginas que tivessem fotos de negras
com cabelos crespos e cacheados, me identifiquei de cara. Vi tantas fotos de
negras MARAVILHOSAS, e
todas elas acessíveis, perto de mim, do RJ, de SP, e até daqui do ES, e
acabei vendo que é
possível sim ser crespa e conquistar meu espaço. Mas, como a maioria,
eu usava química no cabelo, relaxava a raiz com o Salon Line (vocês devem
conhecer, de hidróxido de sódio) e, como eu usava ele só para dar uma
“abaixadinha na raiz”, considerava meu cabelo natural, 100%.
Então, num post da
página, encontrei algo que me intrigou muito. Era um relato de uma negra (linda
e, como eu, confusa) dizendo que se sentia Black Power mesmo usando química para
soltar os cachos. De cara fui curtindo e partilhando da mesma ideia, dizendo
que não sou menos Black Power do que aquelas que não relaxam a raiz e não fazem
nada no cabelo. Então me responderam algo que mudou tudo aquilo que pensava de
mim e toda a minha concepção de ser negra, disseram que o intuito da página é mostrar o valor que o crespo tem,
e que toda e qualquer alteração que se dá ao fio crespo, seja para torná-lo
cacheado, seja para só dar um pouco de leveza, ou para delinear o cacho, não o deixa mais natural. A princípio
me senti ofendida, até cheguei a pensar que foi um pouco rude da parte da
equipe, me excluir de um grupo que eu me considerava incluída, e como uma
representante e tanto, quase uma ativista! Mas depois de ler várias vezes
aquela resposta, comecei a pensar de onde partiu a ofensa, será que foi
realmente delas, que apenas disseram a verdade, ou minha, que me escondi atrás
de uma figura supostamente "100% Black Power natural",
mas que tinha vergonha do meu
cabelo natural, crespinho, mini "tóin óin óin"? Vi que me escondia atrás de uma
máscara, de um pote de relaxamento que não me deixava realmente gritar a
liberdade, aquela que eu tanto pregava e vibrava mostrar, ainda mais quando eu
ouvia elogios do tipo: "Nossa, seu cabelo está lindo assim, cacheadinho”. Mas
ele NÃO É cacheadinho, ele é CRESPINHO, e também é lindo. Faltava eu dizer isso
para mim mesma, e não só disse, como GRITEI! [Risos].
Agora estou aqui, a mais
nova "crespinha" da onda, com minha transição lenta e charmosa, caminhando pro
100% natural
de verdade. Mas já deixo dito: Você, que está na nossa página e
relaxa a raiz, alisa o cabelão, usa mega hair, trança e qualquer outra coisa
que altere o que já nasce contigo, VOCÊ
É BLACK POWER! Porque ser
Black Power vai muito além do crespo em transição, do "blackão" natural, da
trança que delineia o rosto negro, do mega que valoriza, é uma questão de
aceitação, de inserção e (re)conhecimento do que você é e honra de onde
veio. Mas não podemos
deixar de lado o nosso foco principal, que é mostrar que o que você já tem
também é lindo e pode te valorizar, te fazer feliz e bela. Deixa de lado essa
ideia de que você só se torna linda a cada três meses, quando você
bate o cartão fielmente no salão que te alisa e te altera. Você é linda do jeito que é,
e o seu black ninguém vai tirar. Deixa ele falar um pouquinho, vai?
Observação: Se, mesmo assim, você optar por continuar com seu cabelo
alisado e alterado, ainda será bem-vinda do nosso lado da força,
sendo muito mais do que crespo, mas sim mulher negra pensante.