Mostrando postagens com marcador big chop. Mostrar todas as postagens

#FALANDODETRANSIÇÃO: DA QUÍMICA AO NATURAL EM 7 PASSOS

No Comments »

por Élida Aquino

Foto: Nate White
      Usei relaxante a maior parte do tempo em que apliquei químicas. Dos três aos dezoito anos, basicamente. Eu sei, é um passo enorme entrar em transição se seu cabelo é religiosamente quimicado a cada dois ou três meses. Você vê um pouco de raiz crescida e pensa automaticamente que "é hora de fazer o cabelo"; nota a raiz bem maior, congela diante do volume natural, acha que não tem jeito pra "esse cabelo" e a primeira vontade que vem é a de relaxar ou alisar ou qualquer coisa que mude o quadro; resiste, se vira, mas quando dá de cara com a diferença gritante entre as texturas e o medo de perder seu amado comprimento, correr pra química mais próxima parece a primeira opção. Te entendo. Foi assim comigo. Até desisti da transição e comecei com "sustinhos", só para "abrir os cachos". Depois de entender meus motivos para romper com tudo isso e perceber que minha textura natural era idêntica à textura com química, consegui completar o ciclo. Mesmo não sendo simples e pedindo uma nova forma de pensar você como um todo, deixar procedimentos químicos não é uma missão impossível e existem opções que tornam a caminhada mais leve. Esse post é uma mistura das minhas experiências pessoais e coisas que li. Bom ressaltar: não é um ataque a quem usa química, ok? A ideia é auxiliar quem opta pelo natural.
      Bem, existem duas opções básicas para ir da química ao natural: a transição, fazendo cortes eventuais (ou não) enquanto o cabelo natural cresce; o Big Chop, quando toda a química é retirada de vez com o corte, independente do comprimento do cabelo natural. Qual a melhor? Você decide! Não há um jeito certo e o que importa é como você se sente mais confortável, também como seu cabelo estará durante e ao fim do processo. É importante saber que a transição apresenta desafios além dos que citei acima: você pode lidar com pontas duplas, diferença de texturas, talvez quebra entre a parte com química e a natural, etc. Não desista. 

Mais sobre transição:
Você já entendeu que é uma maneira de evitar aquele corte radical e que o processo é eliminam a química enquanto seu cabelo natural cresce, apenas aparando a parte que tem química, certo? Leva um tempo e pede paciência, mas para muitas vale a pena esperar ao invés de sofrer com o corte. Aparar não é obrigatório, mas ajuda a manter a quebra sobre controle e dá ao cabelo uma aparência mais saudável.

Prós da transição:
1. Você tem tempo para aprender bastante sobre as características particulares do seu cabelo.
2. Se você não curte o cabelo curto, pode evitar o desconforto enquanto espera o crescimento do seu cabelo.
3. Durante a transição você pode aperfeiçoar suas habilidades no cuidado com seu cabelo, praticar vários penteados e etc.

Contras da transição:
1. Seu cabelo muito provavelmente vai apresentar texturas diferentes e em alguns momentos esse fator pode ser bastante incômodo. A dica é texturizar com técnicas como twists, dedoliss, bantu knots, flexi rods e por aí vai.
2. Como já disse, o processo de transição leva mais tempo do que partir logo pro BC. 


Foto: Nate White
Agora vamos aos 7 passos práticos que vão te ajudar nesse período?
PASSO 1 - Mantenha seu cabelo hidratado
A maior luta na transição é impedir/controlar a quebra causada pelo ressecamento, danos que o uso de química trouxe... Faça o que puder para manter o cabelo hidratado, estabeleça uma rotina de cuidados saudável e regular (não vire alok do cabelo, viciada em tratamentos, por favor!). 
Olha a dica:
1. Usar óleos vegetais puros como óleo de coco ou azeite extra à noite, antes de dormir. Aplique por mechas, enluve, faça twist ou coquinho ao final (é só uma sugestão, mas vale a pena fazer pra manter a organização dos fios e até reter o produto aplicado). Isso ajuda na reposição de nutrientes que fortalecerão a linha que divide a parte natural e a com química no fio.
2. Antes de aplicar o shampoo, aplique um pouco de condicionador antes, faça umectação usando óleos vegetais (os mesmos procedimentos da dica anterior) ou prepare uma misturinha (pré-poo, como nessa sugestão aqui). Ajuda a proteger os fios das agressões que shampoos promovem. Enquanto limpam, levam a oleosidade boa junto com a sujeira.
3. Escolha bem seu shampoo e prefira os que são sem sulfato, mais hidratantes e etc. Indico o Ox Plants Hidratante (com sulfato, mas achei super suave e uso frequentemente) e Makeda Shampoo Nutritivo*. 

PASSO 2 – Faça tratamentos profundos
Use máscaras e misturinhas mais elaboradas. É legal pensar até em um cronograma simples para organizar seus cuidados de nutrição, hidratação e etc. (só não vire a aficionada por tratamentos!). Tente fazer um tratamento profundo uma vez a cada 7 dias em sua casa ou, se puder, procure um profissional que entenda sua necessidade e faça tratamentos eficazes.
Olha a dica:
1. Use maionese. Sim! Pode parecer estranho, mas ela é excelente na tarefa de promover hidratação (e vale como pré-poo também!). Vocês vão vê-la entre as indicadas entre os tratamentos com proteína. Aplique pura, misturada com uma boa máscara ou óleo vegetal, por exemplo. Deixe agir por cerca de 30 minutos, enxague, condicione. Um bom tutorial aqui.

PASSO 3 – Evite aplicações de calor
É tentador usar chapinha, escova e por aí vai. Muitas fazem e estão indo bem, mas uma ideia coerente é não aplicar tanto calor nos fios. Essas ferramentas são bem agressivas e podem acelerar a quebra na linha de divisão, onde o fio está mais frágil. Durante a transição evite o uso, e, se necessário, tente usar só uma vez por semana, no máximo. Se você precisa muito e não tem jeito de não usar, reforce ainda mais os tratamentos e vá com cuidado e carinho, tanto na sua linha de divisão quanto sobre sua parte natural que está em crescimento.

PASSO 4 – Modere a lavagem
Isso complementa o cuidado com a hidratação. Lavar o cabelo com muita frequência impede que ele aproveite a oleosidade natural e benéfica. Limite a quantidade de lavagens. Tente lavar uma vez por semana, por exemplo. Assim há tempo suficiente para a oleosidade natural revestir os fios.
Olha a dica:
1. Se liga no co-wash! Essa técnica pode substituir a lavagem total ou parcialmente (aí você entra no mundo do low ou no poo). A ideia é usar o condicionador com composição liberada, que possui agentes de limpeza, no lugar do shampoo. Saiba mais aqui

PASSO 5 – Alimentação balanceada ajuda
A manutenção de vitaminas e minerais é importante para a saúde em geral e faz diferença na saúde dos fios. Verifique se seus níveis de vitamina D e vitamina A estão em dia, consulte uma/um especialista e pratique um estilo de vida. Procure saber sobre o uso de suplementos vitamínicos também. Eles podem fortalecer e até acelerar o crescimento. 

PASSO 6 – Evite produtos químicos
Embora possa parecer um conselho óbvio, tente ficar longe de permanentes, relaxantes e afins no período de transição. Além disso, evite tinturas e descolorantes, já que também causam danos significativos. Busque sempre alternativas o mais naturais possíveis.

PASSO 7 – Inspire-se, liberte-se e divirta-se
Observar casos que deram certo, Meninas que conseguem criar com o próprio cabelo e trocar ideias sobre o assunto, ajuda bastante e te deixa mais segura. Aproveite o momento, toque seu cabelo, teste produtos e penteados, novos acessórios, pergunte bastante. A maioria de nós cresce sem saber como o cabelo se comporta e como ele pode ser maravilhoso (contrariando o que sempre disseram sobre ele). Esse é o seu momento! Se descubra. Com certeza saber seu cabelo abrirá portas muito maiores nesse universo de possibilidades que você é.

PASSO BÔNUS – Não ligue pra quem não pode ajudar
Opiniões negativas disfarçadas de "sugestões" ou conselhos amigáveis vão surgir. Muita gente vai querer saber se você está em depressão, o motivo de "não se cuidar mais" ou suas razões para assumir "esse cabelo". Vão dizer que o liso combina mais com seu rosto ou que preferem te ver desse ou daquele jeito. Lembra do passo anterior? LIBERTE-SE. Inclusive da necessidade da aprovação de outras pessoas. Esteja e caminhe segura. Você decide o que fazer com seu corpo e ninguém pode ter maior poder sobre você mesma. 

É isso aí, Menina! Espero que essas ideias te ajudem. Se quiser compartilhar dúvidas, experiências e dicas também, fique à vontade. Beijos!
* Não é publieditorial.
** Fonte: BlackHairOMG

COISA NOSSA - INGRID SILVA

19 Comments »

por Élida Aquino
GRN Photography - Gustavo Novais
       Não são raros os casos em que, ao perguntamos para uma menina o que ela quer ser quando crescer, a resposta que vem é “uma bailarina!”. Independente da minha vontade de ser uma (e nunca tive o desejo como algumas amigas tiveram), sempre observei atentamente a dança. De um lado desejava ter o corpo magro, ágil, leve e elegante; de outro percebia que é um espaço excludente quando se pensa na quantidade mínima de negros dançando. Sendo raras as meninas que conseguem realizar o sonho, mais raro ainda é realizar o sonho sendo negra... Fato incontestável, minha gente. Basta olhar fotos de companhias famosas e perceberão que não há como desmentir. As desculpas são muitas e vão do "defeituoso" biotipo negro que não se encaixa na dança (já que negros são muito pesados para o ballet) até a cultura negra que não cruza com a leveza eurocêntrica que a atividade exige (afinal, danças africanas são tão brutas, não é?)

       Mas o motivo aqui, pelo menos agora, não é protesto. Recentemente, respondendo mensagens na página do Coletivo, tive o prazer de encontrar Ingrid Silva. O papo era sobre reunir as Meninas em Nova York, mas achei genial conversar com uma bailarina negra. Mais que isso: uma bailarina negra, brasileira, com carreira internacional! Era a raridade falando comigo e eu não podia deixar escapar sem mostrar pra todo mundo. Antes da conversa, quero lembrar de quem tornou meu olhar mais cuidadoso para a questão. Começo com Mercedes Baptista. "Primeira mulher negra a passar no exigente concurso e fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro", criadora do ballet afro, ajudou a colocar dança clássica no carnaval, colocou o negro brasileiro no ballet (vale a pena assistir o documentário "Balé de Pé no Chão - A Dança Afro de Mercedes Baptista"). Michaela DePrince é uma das surpresas do momento. natural de Serra Leoa, órfã por causa da guerra, adotada por um casal americano e alguém que descobriu a vontade de ser bailarina enquanto revirava revistas num orfanato; depois a Misty Copeland, "terceira solista afro-americana na história e a primeira em duas décadas no American Ballet Theatre", que desenvolveu toda técnica em tempo sobrenatural, já que começou os estudos de dança muito tarde diante da maioria. Agora tenho a Ingrid na galeria de inspirações. Segundo as informações que li no site do Dance Theathre of Harlem, onde ela atua agora, a diva começou os estudos de ballet aos 8 anos no Projeto Dançando Para não Dançar, também Escola de Dança Maria Olenewa e de Deborah Colker. Foi para Nova York em 2007 e não parou mais. Currículo lindo, preta linda e com certeza as ricas experiências fazem jus ao que eu esperava encontrar. Agora vocês vão sentir o que foi nosso papo, se inspirar no exemplo e na dança da Ingrid, depois espalhar essa energia por aí. Aproveitem!

Michaela DePrince

Meninas Black Power: Conta pra gente de onde você é?
Ingrid Silva: Eu nasci no Rio de Janeiro, sou carioca da gema.

MBP: Como, onde e quando foi seu primeiro contato com o ballet?
IS: Eu tinha um vizinho que era mestre sala da Mangueira, se chamava Tio Arisio. Ele comentou com a minha mãe sobre uma professora de ballet que havia aberto uma sala e vagas para interessados na Vila Olímpica da Mangueira. Eu já fazia vários esportes e o ballet entrou na minha vida como apenas mais uma atividade. Naquela época eu tinha 8 anos.

MBP: Como era o seu cabelo nesse momento? Como você lidava com ele?
IS: Meu cabelo naquela época era tratado pela minha mãe, em casa. No tempo que se fazia permanente com “bigudinho” pra deixar os cachinhos (na verdade produto químico, que acaba com cabelo da gente). Eu não tinha cabelo comprido o suficiente para fazer uma coque de bailarina de verdade [risos], então comprei um cabelo em forma de “xuxinha” e colocava em volta do meu cabelo preso. Aí conseguia fazer o coque. Foi assim por um bom tempo.
MBP: Agora é a hora da aventura! Como você foi parar nos EUA, como foram os primeiros tempos aí e qual o valor dessa experiência para você?
IS: Quando eu tinha 18 anos, uma professora negra brasileira que recém tinha chegado de Nova York foi dar aula no Projeto Dançando Para Não Dançar. O nome dela era Bethania Gomes, ele havia dançado no Dance Theatre of Harlem, e deu a ideia a Theresa Aguilar, diretora do projeto DPND, que eu fosse fazer audição nesta companhia de ballet americana no verão de 2007. Eu vim para Nova York fazer a audição através do projeto DPND, com a diretora Theresa Aguilar, passei entre 30 candidatos (somente 4 foram escolhidos), retornei em janeiro de 2008, dancei por 4 meses num grupo de pré-profissionais da escola, depois fui escolhida pelo Arthur Mitchell, diretor da companhia, para dançar num grupo jovem que representava a companhia. Se chamava Dance Theatre of Harlem Ensemble. Dancei neste grupo durante 4 anos. Ano passado foi o retorno da Dance Theatre of Harlem Company, que agora tem a direção de Virgínia Johson, um dos maiores ícones da dança clássica na América e uma das primeiras bailarinas negras nos Estados Unidos. A cada dia que passa eu vejo a importância que a minha carreira tem feito na vida de muitas crianças, na vida em geral de quem vem nos assistir nas performances e principalmente na minha vida. Saí do Brasil aos 18 anos para viver um sonho que muitas meninas não têm oportunidade de viver!

MBP: O que é o Dance Theatre of Harlem? Qual é a história?
IS: Que honra dançar em uma companhia que foi fundada em 1969, no Harlem, pelo primeiro bailarino negro que dançou no New York City ballet, Arthur Mitchell! O Dance Theatre of Harlem é conhecido como "a primeira companhia de ballet clássico negra" nos Estados Unidos. A primeira grande companhia de ballet que prioriza dançarinos negros, que agora esta sob a direção de Virgínia Johnson. O Dance Theatre of Harlem tem uma importância de inclusão geral, é uma companhia multirracial, pois estende oportunidades para etnias em geral. Acontece que desde que ballet existe, muitas pessoas acham que negros não são aceitos na dança clássica, por conta de fatores físicos, cor da pele, cultura... Por isso a presença de negros na companhia é mais perceptível, já que há uma abertura muito maior para esses dançarinos. O DTH é uma companhia flexível em todos os sentidos. Nós temos um repertório vasto, tanto clássico quanto contemporâneo, com a missão de promover diversidade no mundo do ballet, e trazer o ballet clássico para todos os níveis sociais.
Do Instagram dela.
MBP: Como é sua rotina enquanto bailarina?
IS: Bom, é regrada de certa forma. Eu acordo todo dia as 08h30, minha aula geralmente começa 10 horas. Chego ao trabalho às 9 horas para me preparar para aula, que consiste em fazer exercícios e preparar o corpo pro dia de trabalho, que consiste em 6 horas de ensaio e 1 hora de folga. Meu dia geralmente termina por volta das 7 horas da noite. É assim o decorrer do ano, dependendo do nosso repertório de dança... Mas eu também tenho vida social! Acredite. [risos] A gente tem que arrumar tempo pra tudo.

MBP: Com certeza! E como é a “pressão psicológica” de ser uma bailarina? 
IS: Olha, na verdade a pressão psicológica é bem forte. Você tem que ser bem seguro do que quer. Acho que "foco" é a palavra chave. Pro bailarino é muito difícil aceitar um erro. Quando é cometido, ele se julga o tempo inteiro, e a vida toda dança de frente pra um espelho. Acho que sempre tentar e nunca desistir é essencial. Ballet não é fácil e não é pra qualquer um. De certa forma você tem que ser persistente em todo dos sentidos e jamais desistir!

MBP: Conta a história de como decidiu voltar ao cabelo natural?
Depois do BC, divando no salão Miss Jessie's
IS: Há 2 anos atrás eu estava conversando com meu namorado, quando, por uma ideia dele, concluímos que eu ficaria muito mais bonita com cabelo natural do que com cabelo liso. Além disso, a agressão que o produto químico fazia ao meu cabelo era péssima. Eu ia ao salão todo mês, pagava 80 dólares pra ter o cabelo liso por 1 mês, e todo mês era a mesma coisa. Um dia cansei, não achei que isso era mais pra min, e entrei no processo de transição, que foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. É quando seu cabelo não está nem natural e nem sem o produto químico. A transição durou um tempo, decidi um belo dia ir a um salão chamado Miss Jessie’s, especializado em cabelos naturais, e aí tive o big chop, como dizem. Adeus cabelo com produtos químicos e que seja bem-vindo um cabelo natural e saudável.

MBP: Incrível! E como foi a reação das pessoas ao redor? Muitas declarações de reprovação ou dúvida sobre ser uma bailarina com cabelo naturalmente crespo?
IS: Olha, a reação de algumas pessoas ao meu redor não foi boa. Muitos não gostaram, incluindo minha mãe. Outros simplesmente amaram. Com minha mãe, por ela estar no Brasil e aí quase não há pessoas que usam cabelos naturais, dá até pra entender. Todo mundo acha que se você não for ao Beleza Natural ou não usar permanente, seu cabelo é duro! Este é um termo erradíssimo, mal usado e de péssimo gosto. Por favor, mudem de conceito. Cabelo natural é lindo, dá trabalho (como qualquer outro cabelo), mas é seu. Não use o cabelo natural por estar na moda e sim para construir sua própria identidade. Hoje em dia a minha mãe, que não entendia sobre o cabelo natural, adora e ela mesma mudou e aceitou o cabelo natural através da minha iniciativa. Achei isso super importante e legal. Quando eu fui ao Brasil, em agosto desse ano, estava no metrô e percebi que muitas pessoas estavam me olhando, tentando entender o meu cabelo [risos]. Eu achei engraçado e até quase perguntei pra uma senhora o motivo, mas depois pensei bem e achei melhor não. Na verdade meu cabelo é comum como qualquer outro e as pessoas tem que ser mais abertas mentalmente e mudar seus conceitos!

MBP: Quais produtos você usa aí e como é o acesso aos produtos e serviços para cabelos naturalmente crespos?
IS: Como fiz minha transição e todo o processo no salão Miss Jessie’s, uso os produtos de lá. São ótimos, mas um pouco caros. Aqui é bem mais fácil achar qualquer produto para cabelo natural. O mercado é bastante vasto e tem variedades para todos os tipos. Eu uso Baby Butter Cream ou Curly Merengue, cremes de pentear da Miss Jessie’s. Uso Cantu Shea Butter com bastante azeite de oliva misturado como creme de hidratação. Para desembaraçar o cabelo debaixo do chuveiro, uso o Monoi Repair Mask, da Carol's Daughter. Também uso Super Slip Sudsy Shampoo e Jelly Software Curls, da Miss Jessie’s, como se fosse um gel uso quando faço coque de ballet e para finalizar com um brilho.
Ela é uma fofa e fotografou os produtos, gente!

MBP: Como é a relação das mulheres negras com o próprio cabelo aí? Há muitas assumindo o cabelo natural? Como elas se comportam?
IS: Acho que de uns tempos pra cá muitas mulheres começaram assumir seu cabelo natural. Elas têm blogs, sites e Instagram com todas as informações para quem faz transição, sobre que tipos de produtos usar, penteados. Há até grupos de pessoas que fazem reuniões e trocam ideias de como cuidar do cabelo...

MBP: Quais seus planos pro futuro?
IS: Na verdade vivo um dia de cada vez. Planos pro futuro ainda não tenho. Só quero dançar bastante... Também penso em estudar psicologia na área da dança. Acho muito importante.

MBP: Queria saber que dicas você daria para mães negras que tenham filhas que querem ser bailarinas e para as que já tenham filhas no ballet
IS: Acho que o mais importante é que a criança aproveite a fase de ser criança e que ela tenha o ballet como uma atividade e não profissão desde de cedo. Assim caberá a ela decidir se é disso que ela gosta ou não. Acho que o incentivo é super importante vindo da família. Sempre apoiar os sonhos dos filhos, por mais difíceis que sejam. Ballet é bem difícil, então o apoio da família e disciplina é essencial.

MBP: Sua palavra de incentivo enquanto mulher negra, natural, bem sucedida e brilhante para mulheres negras brasileiras.
IS: Desde de que mundo é mundo, nós mulheres aprendemos a cozinhar, lavar, passar, ter filhos, cuidar da casa e ser sustentadas pelos maridos. Só que os anos passaram e nós queremos igualdade. Temos que ser independentes, confiantes, com bastante disciplina e foco. Existirão muito impedimentos no caminho que vão tentar desviar da meta, mas aí entra sua responsabilidade de lutar pelo que quer e acreditar em você mesma. Não deixe se abalar pela cor da sua pele ou pelo seu cabelo. Você é guerreira e poderosa.
       Abaixo vocês podem ver um vídeo especial feito pela Ingrid, ensinando como fazer o coque de bailarina num cabelo crespo natural, outras fotos (lindas!).
                    
No anúncio, Ashley, também bailarina da companhia

Meninas da escola. Foto: DTH

Arthur Mitchell, fundador da DTH. Foto: DTH 

Foto: GRN Photography - Gustavo Novais


Foto: Ingrid


Foto: GRN photography - Gustavo Novais


Foto: GRN Photography - Gustavo Novais


Foto: GRN Photography - Gustavo Novais

O BIG CHOP E A PACIÊNCIA

39 Comments »

por Jaciana Melquiades
Fonte: Google
       Sabemos todos os caminhos pra ter nossos cabelos lindos e saudáveis... mas se fizemos uso de química, todos os caminhos levam ao Big Chop (corte da parte do cabelo que tem procedimentos químicos de alisamento ou relaxamento). Não tem como escapar. Podemos passar pela transição com tranças, protelar ao máximo com twists, escovar (NÃÃÃÃO!), mas o dia do corte chega. Meu processo foi esse: relaxamento, alisamento, corte; relaxamento, alisamento, corte; relaxamento, alisamento, corte. Percebi que se continuasse assim, um dia nem precisaria mais cortar os cabelos (ficaria careca mesmo!)
      Ter os cabelos bem curtos não seria novidade pra mim, já cortei milhares de vezes. Ter os cabelos naturais era um pesadelo (nem refletia muito sobre isso, só repetia que meu cabelo natural era um pesadelo). Comecei com os twists enquanto minha raiz crescia. Até então eu não tinha certeza se deixaria meus cabelos naturais. Então vi pela primeira vez que meus cabelos faziam micro-cachinhos lindos. Comecei a curtir meu cabelo, a textura, a cor. Tinha medo dele ainda, mas já começávamos a ser apresentados pouco a pouco!
Foto: Jaciana Melquiades
       Os twists já não escondiam mais as pontas gigantescamente alisadas e quebradas do meu cabelo. Mergulhei nas tranças. Adorei! Usei por dois meses e a raiz que aparecia me deixava mais feliz! Saudável, cheia, de um jeito que eu nunca tinha visto (e neste momento eu já tinha certeza que não alisaria mais os cabelos). Mas tranças precisam de manutenção, não podem ser usadas por muito tempo, e meus fios, frágeis que são, começaram a reclamar do peso das tranças.
Foto: Jaciana Melquiades
      Tirei as tranças pensando em lavar, hidratar, dar um descanso aos fios e depois trançar de novo. Quando me olhei no espelho, sem tranças, senti necessidade de tirar aquele fios sem vida de cima dos meus cachinhos tão lindos. Cortei sem nem pensar no tamanho que ficaria o cabelo. Apenas cortei e salvei meus cachinhos… esse era o sentimento. Depois do corte, só conseguia pensar que meu cabelo cresceria. Sem quebrar, sem cair, sem choro. Aos poucos fui tocando meus cabelos e descobrindo como ele é, fui aprendendo a pentear e hidratar, percebendo que meu discurso combina mais com meu cabelo natural. Depois do corte, aprendi a ter paciência. Percebi todo o processo de autoconhecimento pelo qual passei, e mesmo pensando que minha liberdade é um sonho realizado, sou paciente quando ouço uma crítica negativa ao meu cabelo: tive o meu tempo e respeito o tempo do outro; sou paciente comigo quando minha autoestima fica abalada, pois sei o quanto estamos intoxicadas e intoxicados pelo racismo que nos diz que não somos bonitas e bonitos. Sou paciente, mas não tolero falta de respeito (percebam a diferença)! 
      Estou aproveitando o processo de crescimento dos meus cabelos, curtindo ele curtinho, sem pensar muito em amanhã ou depois: gosto dele hoje, cheio de micro-cachinhos e curtinho! Minhas fases para inspirar vocês:

Fotos: Jaciana Melquiades

COISA NOSSA - MÃES

7 Comments »


       Minha mãe tem 50 anos e faz um mês que ela fez big chop. O cabelo dela estava detonado por conta de uma escova progressiva, daí ela resolveu cortar para ir num salão famoso que faz relaxamento aqui no Rio. Aproveitei a oportunidade para falar sobre cabelo natural. Já havia tentado conversar antes mas ela sempre me levava na brincadeira. Perguntei se lembrava da primeira vez que usou química e como era seu cabelo natural (eu nunca vi nem tinha ideia de como era). Pra minha surpresa ela ficou nervosa, ficou com gagueira, riu, mas um riso diferente, nada  engraçado, era como se ela estivesse tentando puxar da memória algo que ela já tinha deletado fazia anos, o riso era sua defesa, era um tipo de "nem ligo pra isso... faz tanto tempo!"
        Durante a conversa me revelou coisas que nunca havia imaginado que ela tinha passado. Coisas dolorosas para uma criança de 10 anos, que fizeram ela  orgulhar-se em ser uma mulher, casada com branco e ter uma filha "morena", de traços finos. Ela sempre dizia isso como se a herança genética do meu pai fosse o maior presente que ela me deu. Não fazia por maldade... Ela realmente achava que estava me fazendo bem.
        Aos dez anos de idade ela usou pente quente oficialmente pela primeira vez. Disse que desde os 8, 9 anos, esperava por esse momento, pois isso significava que não era mais criança. Abandonaria as tranças. Mulher adulta não usava tranças, tinha cabelos lisos. Foi um momento divino segundo ela e que saiu balançando as madeixas que voavam pela primeira vez
       Antes disso já havia alisado com as amiguinhas (escondida da mãe). Elas se reuniam no quarto para alisar, queimavam suas orelhas, testa, e saiam felizes. Tadinhas! Eram meninas... Isso me doeu muito. Doeu mais ao ouvir minha mãe falar, sem notar a gravidade, como se fosse algo normal, uma traquinagem de criança. Ela lembrou de um episódio em que o pente em brasa soltou do cabo e caiu nas costas da menina de 8 anos e a deixou  com feridas em carne viva.
       Perguntei sobre sua juventude. Ela disse que foi sempre de cabelos alisados: pente quente, tesoura Marcel, etc. A única vez que usou natural foi na época em que black power era moda, mas depois voltou as químicas. Desta vez usou a famosa pasta.
       Ouvi tudo isso com uma tristeza no peito. Por que só nós mulheres pretas temos que nos descaracterizar para ser aceitas? Por que temos que sofrer tão novas? Hoje mesmo eu a ajudei a fazer twist nos seus cabelos e apesar das brincadeiras de mau gosto de algumas pessoas da família, até mesmo do meu pai, ela continuará firme e eu segurarei na sua mão e juntas reconstruiremos essa história.

           Disse para ela que uma nova geração de mulheres esta se levantando e que esta geração  mostrará o que é ser bonita e feliz de verdade sem se anular, sendo feliz como Deus nos fez, e que isso tudo é herança da militância de anos de nossas irmãs pretas  e que daremos continuidade COM MUITO, MAIS MUITO AMOR.


VAMOS FALAR DE TRANSIÇÃO?

52 Comments »



    Toda pessoa no período de transição necessita de muito apoio. O dia é longo, "fulana" trabalha, estuda, faz muitas coisas, e assim desfila com seu cabelo metade natural/metade química por diversos lugares. Ao chegar em casa, muitas dessas escutam repreensões de seus familiares e até de seus companheiros. O sentimento é ruim, a vontade de desistir só aumenta. Mas onde está a força? Em você! Transição é um processo difícil, não é à toa que tem esse nome, desde quando mudar foi fácil? Escute você mesma. No seu interior há uma certeza de que é essa a sua decisão. Então segure as pontas (ops, as corte!) e tenha força! Sua identidade está em jogo...
    Tape os ouvidos para as críticas desconstrutivas e enxergue o que te motivará. Não é fácil, principalmente na família. Explique seus motivos pra quem deve explicação e permaneça. Podem não te incentivar, mas, te amando, respeitarão. O resultado irá te surpreender. Se tiver dúvidas disso procure na internet vídeos, depoimentos e outras formas nas quais meninas exibiram suas transições, como cuidaram e como estão felizes  agora, completamente naturais. Nada como olhar no espelho e ver-se inteiramente bela, com essência. Você vai se orgulhar e de inspirada passará a inspirar outras pessoas! Contudo, não desista. Pense antes de responder às críticas, ou não responda. E quando elas vierem de pessoas importantes explique à elas o que sente, transpareça. Seja firme, seja forte! Você é bela, à sua maneira! Abaixo estão exemplos de sucesso. As Meninas da equipe contam seus casos de transição ou deixam dicas. Falam sobre como passaram por essa fase, como os relacionamentos (especialmente os amorosos) influenciaram e como estão agora. Se elas chegaram, você chega também. Acredita.

"A transição do meu mega cabelo alisado, maltratado pela famosa "agressiva" (proguessiva) foi bem difícil. No começo não houve apoio da família, todos achavam de extrema loucura eu cortar o meu, até então, enorme cabelo para poder deixa-lo crescer naturalmente e enfim ficar crespo (LIIIINDO!). O único que se dizia fiel à causa e apoiava, na época, era o meu ex boyfriend. Conversávamos sobre o assunto e o apoio era total, isso me motivava demais. Nos três primeiros meses, quando a situação fica bem crítica, aquela parte chatinha de transição onde tudo fica feio, ele continuo ali, me achando linda (isso era o que ele dizia pra mim). Mais alguns meses se passaram e ele terminou comigo, sem motivo algum. Depois de um tempo, conversando com amigo que temos em comum, ele me revelou que meu ex odiava a ideia de eu querer assumir o meu crespo, detestava meu atual cabelo. Poucas semanas após o término ele apareceu namorando uma menina de cabelo mega liso, liso no estilo "japinha" sabe?! Fiquei mega triste, sofri com aquilo tudo, pois não esperava sofrer preconceito de uma pessoa que era tão próxima de mim. Depois de todo esse caos, percebi que, por mais "vadio" que ele tenha sido, o falso apoio dele foi muito importante pra mim, pude perceber que o que nós tínhamos não era amor (já que espero que a pessoa que me ame, me queira por perto do jeito que sou: CRESPA!). Então é isso, minhas lindas. Entre alisar o cabelo e ter o gato de volta, prefiro ser eu! Me amar, me olhar no espelho me sentindo linda com a autoestima lá em cima, isso é essencial." 
- Estephani Peçanha

"Parece que tudo que nos faz bem ou não nos incomode, aos olhos de uns e outros parece um desgosto. Nosso cabelo é um desses fatores. Tem gente que ri, tem nojo e não entende o porquê de você não alisar ou prender esse cabelo "rim", "duro". O mais engraçado é que não consigo entender o motivo de tanta preocupação e até neura com quem se assume do jeito que é, está muito bem assim (e agora não falo só de cabelos, mas de corpo, estilo... enfim). Tem gente que aceita ou finge aceitar e tem gente que não entende por questões de ignorância. Sinceramente alguns caras são desses que assemelham cachos ou crespos, com descuido, coisa de mente pequena. O melhor a fazer é continuar sendo quem é, do seu jeito, e se não agrada ele, questione se ele gosta do seu cabelo alisado ou de você, aliás ele já não sabia que ele não era liso? Não se mostre fraca, nem triste diante disso; pelo contrário, mostre a ele o quanto você se acha e é bonita e quantas pessoas também acham isso, inclusive opiniões masculinas [risos]. Ah! Se ainda assim ele não ligar e reclamar do seu cabelo, dê uma peruca lisa pra ele e procure novos ares. Viva, livre, leve e solta!
- Manuela B. Silva

"Eu, graças a Deus, tenho total apoio da família... Meu marido até diz como ele quer, qual acessório gosta. Ele só não curte muito quando eu deixo cheio e sem cachos. Minha filha mais velha tem maior orgulho e a mais nova arruma o "blackinho" dela na frente do espelho. Só quem faz piadinhas às vezes é o meu pai, mas nada que vá me abalar; afinal, se tenho um black é por culpa dele. Acho que sou abençoada!" 
- Renata Morais

"Estou em transição há mais ou menos dois anos. Faço relaxamento nos cabelos desde os meus sete anos de idade, hoje tenho vinte e cinco. Fui escrava por dezesseis anos e um belo dia surgiu a curiosidade "como é o MEU cabelo?" Não fazia ideia. Eu imaginava um cabelo cheio, ressecado, feio, sem forma, sem jeito... olha só quantos adjetivos. E eu me surpreendi! A raiz alta não me incomodava, pois eu nunca fiz relaxamento para alisar, era apenas para estragar, digo, soltar os cachos. E a coisa foi indo, cada dia, mês que passava eu sentia mais orgulho da minha decisão e, enquanto isso acontecia, a minha família arrumava mais adjetivos para a minha "muafa", como alguns o chamam. Nesse meio tempo conheci o meu namorado e ele junto com os meus amigos são os maiores incentivadores. Até num bad hair day ele elogia o meu cabelão. Hoje eu aprendi a respeitar o meu cabelo e não há nada nem ninguém nesse mundo que me fará mudar de ideia. Não tive coragem de cortar tudo, mas assumir e enfrentar já é um grande passo. Eu até tento entender os mais velhos, afinal a ditadura da beleza castiga e acaba ditando muitas regras que ainda bem que 
estamos aqui para tentar derrubá-las."
- Dani Miranda

"Comecei minha transição por causa do erro de uma cabeleireira. Um salão tosco, relaxamento mais forte e já era um cabelão. Perdi quase tudo. Só por essa perda de cabelos eu já enfrentei reprovações. Encontrei MBP numa comunidade, conversei muito sobre cabelo crespo e tudo que lia e aprendia se misturava com a vontade de ter um cabelo meu. Toda vez que eu dizia "um dia quero ter cabelo black" alguém respondia: "acho que não vai dar", "tem certeza?". Pra eles era impossível ver alguém que usava prancha todo dia sendo crespa. Mas... eu sempre fui crespa do cabelo cheio, gente! O tempo passou, os motivos mudaram, entendi que era uma revolução de dentro pra fora e não um caso de estilo. Um dia, na escola, minha amiga cortou com tesoura de papel. Sim, de papel! No fim das aulas estava basicamente sem cabelo e com vergonha de pegar o ônibus. Minhas amigas riram, se assustaram, me emprestaram um casaco com capuz. Cheguei em casa e me escondi. No dia seguinte minha mãe e minha irmã riram de mim e pensei que meu cabelo nunca mais cresceria. Só que ao mesmo tempo sentia "o meu cabelo" de volta, sabe? Corri pra fazer tranças, usei por quase nove meses e toda vez que trocava ele estava um pouco maior. Quando resolvi ficar só com meu cabelo a casa caiu. Até dinheiro me ofereceram pra alisar de novo! Tive que encarar minha vó e ela era a pior inimiga do meu crespo. Nesse mesmo período conheci um cara que amou meu cabelo também (e olha que era só um blackinho diante do que se tornou). Tempos depois ele deixou o cabelo crescer, fez dreads... fomos um casal bem crespo. Só o fato de ele dizer que curtia meu cabelo já era mais um motivo pra encarar o máximo possível as ideias contrárias e junto com isso eu amadureci meus propósitos. Ele ficava com "raiva" quando eu cortava (e eu sou "a maníaca" da tesoura) ou desfazia os cachos, não curtiu tanto quando eu escureci novamente, mas nunca deixou de respeitar a identidade que eu carrego. De tudo isso eu entendo que vale muito mais ser autêntica. Uma hora sua família vai ter que engolir e o cara... Se ele não quiser, há quem queira."
- Élida Aquino

"Desde que me entendo por gente tenho cabelo crespo. Meu cabelo na escola era como o do Michael Jackson, bem black. Minha mãe não tinha grana para passar produtos em mim. Era bem sofrido aguentar todos os preconceitos em relação ao cabelo. No início do ensino médio, minha mãe começou a usar produtos como Hair Life. Foi quando descobri que era alérgica. O cabelo relaxado não durava nem seis meses. Vinha tudo abaixo. A dificuldade em comprar os produtos adequados também era um problema. Até que um dia minha mãe começou a usar Hair Life com creme para minimizar o efeito agressivo no couro cabeludo. Deu certo. Meu cabelo era um pouco relaxado e um pouco crespo. Em 2005 fui morar na Amazônia e, antes de ir, cortei todo o meu cabelo. Durante o tempo que fiquei por lá, tomei muito banho de rio. Impressionantemente a água do rio encrespa cabelo. Quando voltei pra casa meu cabelo estava numa textura diferente, bem crespo. Foi o máximo! Depois disso, assumi de vez o crespão. Claro que tive recaídas com o Hair Life com creme, mas foram poucas vezes. Quando isso acontecia, ficava com raiva e trançava o cabelo, mas depois o black voltava. Nessas idas e vindas o black ficou de vez e de todas as formas: com trança, estilo couve-flor, estilo diva e estilo curtinho. Só sei que há anos amo meu cabelo natural, mas principalmente porque eu aprendi a cuidar dele e a buscar referências. Nesse processo todo, sempre tive muito apoio das pessoas que eu amo, 
o que deu mais segurança."
- Mary Marques

"Desde os quinze anos fazia relaxamento, sempre gostei muito do volume, mas tinha que fazer a raiz pra domá-lo. Só que resolvi entrar para o mundo das progressivas e esse foi meu erro. Comecei a fazer, e os cachos indo embora. e o cabelo muito comprido... Não sabia mais o que fazer. Ou cortava tudo ou continuava na escravidão da chapinha e alisamentos. Cortar os cabelos nem pensar! Então continuei, alisando e pranchando. Nunca ficava satisfeita com ele liso, mas era o jeito. Sempre mostrei minha insatisfação. Apesar de todos acharem bonito o meu cabelo liso, eu não achava. Meu marido sempre gostou do meu cabelo crespo, foi uma das primeiras coisas que ele observou em mim, ele diz isso sempre [risos]. Quando falei em cortar o cabelo todo, ele na hora disse que eu podia cortar se eu estava certa disso, podia fazer sim. Sempre me apoiou, a família e amigos não, eles não me apoiaram, falaram que eu estava louca querendo ter aquela cabeleira de novo. Porque isso e aquilo, blá, blá! Depois que viram que não tinha jeito mesmo, aceitaram na boa. A minha própria opinião  e o apoio do marido veio direto com o primeiro corte, primeiro até os ombros e na segunda semana abaixo das orelhas e daí pra cá curtinhos, já indo para o sexto mês e com força total! Atitude, meninas! Só assim seremos completas."
- Suzy Carvalho

"Escovas, pranchas, alisamentos... E onde fica minha liberdade nisso tudo?! Esse foi o pensamento que me levou a dar uma basta no liso. Um liso falso, fabricado, lindo, mas que não era meu. A decisão estava tomada, mas foi duro, foi com muitas lágrimas. Comecei o processo de transição abolindo a escova,  prancha, química e com um primeiro corte. Esse foi o período mais chato, cabelo sem forma, não enrolava e nem alisava. Depois de três meses, fiz um segundo corte, fiquei com dois dedos de raiz, parecia um "menininho". Esse foi o período do choque e de suportar os comentários de que eu  estava louca e tudo mais. Ao longo do processo o cabelo ia crescendo e ficando mais cheio. Nesse momento pesquisava muito e via muitas fotos, pois ainda precisava me afirmar. Reformular a mente é complicado, aceitar que seu cabelo é crespo e é lindo assim, mais ainda. O preconceito existe... É fato! Quando vou me preparar para festas, casamentos, sempre me perguntam se não vou alisar, sempre. Mas a resposta é sempre a mesma: porque eu faria isso? Estou tentando abandonar a química, dando intervalos bem longos, mas sempre tem alguém pra falar: "você precisa fazer o cabelo", "precisa se cuidar", "está casada agora". Ignorar os comentários e os olhares é difícil demais pra quem esta começando. Eu sempre achava que se estavam rindo e olhando era do meu cabelo. Hoje não ligo, o cabelo é meu. Para quem está em transição a mensagem é: seja firme agora e depois, não se renda as opiniões pré-concebidas. Seja livre e muita força no black. 
Mudar é possível e preciso."
- Cintia Masa

    Agradecemos aos familiares, amigos e amores que conseguem compreender e dar suporte nos momentos de transição. Se você é dos que não conseguem aceitar e ajudar, reflita um pouco e pense o quanto essa ajuda é preciosa. E você, crespa linda? Quer mais inspiração? Então venha com Raquel e Toni. Esse casal "é massa" e entende do assunto.