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É A MINHA CARA - LUANA RODRIGUES

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Ela desfila pela rede. Sempre cacheada, criativa, autêntica, bem livre e com muita opinião pra dar. É colaboradora do Meninas Black Power e idealizadora do programa Social na Rede, exibido exclusivamente na web. Por essas e outras que a convidamos pra um papo muito construtivo e descontraído que vocês conferem logo abaixo.

O "blackinho de poodle" na infância
MBP: Vamos falar de "cabelón" primeiro. Como você chegou nesses cachos aí?
LR: Desde pequena tive cabelo cacheado, ele nunca foi liso. Eu sempre gostei que ficasse cheio, desde novinha mesmo, e minha mãe cultivava isso. Ela cuidava pra que ele não crescesse muito, pra manter meu "blackinho de poodle". Isso até uns 4 anos. Depois, com a fase de escolinha e piolho, ela passou a usar tiara e isso foi "abaixando" meu volume. O cabelo foi crescendo e os cachos ficando mais abertos, mais soltos. Então, eu passei a usar rabos de cavalo, mas sempre com frizz na raiz e o rabo bem cacheado. Gostava mais dele solto.


MBP: E você nunca quis modificar o natural? Sempre gostou dos cachos?
LR: Eu nunca, mas até hoje recebo forte influência - da família mesmo - pra que eu alise o cabelo. Uma cunhada muito querida já chegou a comprar produtos pra testar no fio dela e usar no meu. Ela tem outro perfil, gosta de tingir de louro e usar chapado, e eu gosto do cabelo cheio. Isso a incomoda. É bem estranho...

MBP: Então você recebe críticas por ter sido sempre assim natural? Além da família essa pressão acontece em outros ambientes?
LR: Apenas minha cunhada se esforça pra que eu alise o cabelo. Nos outros ambientes eu sou bem feliz com meu cabelo e em especial nesse momento. Eu exerço consultoria no âmbito da comunicação para um escritório de advocacia conceituado no RJ e lá eu uso meu cabelo cheio, de trança, de lenço. Eu evidencio o que eu quero ser e como meu cabelo pode traduzir isso.

MBP: Maravilha! Fala mais do trabalho. O que você anda fazendo da vida?
LR: Eu sou comunicóloga. Digo assim porque jornalista ficou pouco. Eu tenho formação em jornalismo, em webwriter, gerencio mídias digitais, exerço assessoria de imprensa, faço produção de eventos e produção em moda também. Trabalho com comunicação desde os 19 anos e hoje tenho 28. A minha mais nova investida é o canal Social na Rede. Temos Fanpage e Twitter também. Apenas duas semanas de trabalho, poucos acessos [na época da entrevista]... Estou no começo. Nesse canal eu convido amigos pra uma social aqui em casa e o que seria só um papo, eu gravo e publico na web. Como eu amo falar e tenho amigos com experiências muito interessantes, pensei em congregar isso e dividir na internet o que quase todo dia acontece aqui em casa.


MBP: E sobre que assuntos você pretende falar? Geral?
LR: Sim! Qualquer assunto que esteja no meio comunicação, na web, na "vida real". Qualquer assunto que possa conceituar o termo "rede social", estando reunida com amigos que produzem nos mais diversos nichos sempre rola um papo rico em informação

MBP: Você contou que pretende falar sobre cabelo crespo num desses papos. Sobre o que exatamente?
LR: Em especial esse assunto me interessa por conta da relevância que tem tomado. Há pessoas falando, há muito sobre a importância de se valorizar o cabelo crespo, há ignorância sobre denominar o cabelo como bom ou ruim, e nisso eu esbarro desde sempre com muita atenção. Sempre achei o preto, o homem e a mulher negros, algo muito especial em específico no nosso país. Sempre busquei uma formação no que diz respeito ao tema por conta de uma questão muito pessoal. Eu sou adotada, não conheço meu pai biológico, e o pouco que sei é que é (ou era) um negro muito bonito e que eu teria duas irmãs lindas, de cabelo bem cheio, bem "juba" mesmo. Me disseram isso e ficou no meu inconsciente de algum modo. Eu sempre valorizo o cabelo crespo e sinto sim que eu faço parte de um grupo de poucos, infelizmente. O fato de o o cabelo, o negro, o reconhecimento do indivíduo em sua origem e formação, me envolver bastante no que diz respeito ao conhecimento, fez com que eu buscasse mais ainda sobre o assunto, mais produtos, mais espaços de beleza especializados... E me dei conta que os que existem não são tão expostos. O que eu quero abordar no episódio em que teremos é como e porque a gente precisa falar de si e porque não ouvimos de nós e o que ouvimos, geralmente, não nos satisfaz.

MBP: Você disse que a questão da valorização do natural está crescendo e que, quando ouvimos, quase sempre não nos satisfaz. Acha que a questão está sendo abordada da forma correta? A maioria fala sobre cortes, produtos e etc. como uma coisa transitória que a moda trouxe e não como algo natural, que precisa ser cultivado.
LR: Concordo com a sua afirmação e por isso nego que esteja sendo abordado de forma correta. Ainda se fala muito no cabelo como algo caricato, ainda ficam aquelas referências: o gordo, aquela menina ali de trança, aquele menino ali de cabelo duro pro alto... Ainda não se saiu disso, como se o cabelo fosse algo iconográfico, um rótulo. Acho que a gente pode dar valor a alguém que fala de cabelo crespo quando esse alguém defende o conhecimento, o saber sobre o fio. Parece uma supervalorização mas não é. Um cabelo "liso" é mais aceito e por isso pouco tem por se dizer "em defesa dele". O cabelo crespo quase que precisa de aprovação, e se é assim, precisamos saber que não é certo, que algo está fora da ordem aí, e por conta disso, dar valor ao fio e lembrar: há uma história aqui, há algo que você não sabe sobre mim, eu e meu cabelo podemos contar. Nesse aspecto, o fio deve ser valorizado, os penteados devem ser idealizados. Eu vi recentemente um longa mulheres africanas em que uma das entrevistadas falava sobre o seu penteado. Mas, notem, ela fala sobre o seu penteado apenas no final e declara: "é um penteado de rainha". Eu penso que há muito imbuído nessa opção da edição, de deixar essa fala só pro final. É pra justamente dizer: você com certeza deve ter observando o cabelo desta mulher e deve ter pensando algumas coisas sobre ele, sobre ela, mas, ele tem algo a lhe dizer, e isso foi dito. 

MBP: Então, diante de todos os motivos que você já deu, qual é a importância de ser crespa pra você?
LR: Poder ter comigo desde que nasci a riqueza de uma herança ainda mais, de um país misto que não tem uma história conhecida em sua verdade que mais se aproxima da verdade real... E com isso, ter a obrigação de me reconhecer e com amor - por me amar muito -, poder identificar pros outros que ser crespo é muito lindo, muito valor e muita atitude.

Vocês podem curtir o Social na Rede aqui na Fanpage. Em seguida o pograma falando sobre crespos com os meninos do Trança Nagô* e o trailer do filme "Mulheres Africanas - A Rede Invisível".












É A MINHA CARA - ANA CAROLINA, NEGRA FULÔ

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  Conhecemos o trabalho dela por indicação de uma das Meninas. Negra Fulô é lá de Goiás e está colocando coisas lindas na cabeça e na vida de muitas. Abaixo está a nossa conversa sobre cabelo, cuidados, afirmação e empreendedorismo.

MBP: Começa contando pra nós o que você faz da vida?
AC: Sou Ana Carolina, tenho 24 anos , casada, tenho um casal de filhos. Sou Artesã, educadora ambiental, vitrinista e gestora de eventos. No momento estou trabalhando com produção de eventos culturais na cidade onde moro, Cidade Ocidental - Goiás. Sou ambientalista e trabalho com projetos voltados ao eco turismo da cidade também.

MBP: E como você chegou ao cabelo crespo? Qual é a história do seu cabelo?
AC: Quando era pequena meus pais não sabiam cuidar muito bem dele. Não ficava muito legal, assanhado, sem jeito... Então tinha vergonha! Não por ser afro, mas por não estar cuidado direito. Quando eu mesma comecei a cuidar dele, passava produtos químicos (fazia relaxamento), ele era grande e quando lavava já deixava secar pra deixar no rabão de cavalo. Não sabia usar ele de outra maneira. Isso usando ele até os 17 anos. Chegando aí resolvi deixar ele crescer e usá-lo natural. Arrisquei cortá-lo curto e estou aí até hoje, usando ele naturalíssimo, somente a cor que não é natural. Eu mesma cuido, corto, pinto e faço tudo. Amo meu cabelo e sinto orgulho quando ele está bem volumoso. 

MBP: Qual a razão de cuidar dele sozinha?
AC: Eu tenho um ciúme danado! Também aprendi como cuidar, tenho facilidades em cuidar do cabelo. Sempre procuro saber o que é bom pra ele e mando ver! [risos]

MBP:  E o que você tem usado nele agora?
AC: Pra lavar shampoo e condicionador para cachos da Natura. Não uso creme de pentear, somente o G Gelatina da Capicillin, e faço hidratação nele com uma máscara uma vez na semana. A tintura é Marrom Elegante da Koleston.

MBP: Vamos falar de Negra Fulô? Como começou?
AC: Sim! desde os 14 anos sempre fui de produzir minha bijuterias. Nada muito bem feito, mas com o tempo fui aprimorando algumas peças. Nunca fiz nenhum curso de pedraria, montagem ou algo do tipo. Quatro anos depois resolvi melhorar o negócio, até porque as pessoas me questionavam das peças que eu usava e queria comprar de mim. Até aí não tinha uma marca fixa e usava o nome de Anartesã, mas achava muito fraco! [risos] O nome da marca não tem muita história, queria algo simples que me representasse e ao mesmo tempo todas as mulheres, crianças, meninas, etc. O negra veio de mim, e o fulô , que acho muito bonito, representa flor no sotaque nordestino, representa as mulheres flores! [risos] Agora a logo que é a boneca foi simplesmente uma pintura que fiz em bolsa, que eu mesmo criei, depois vi a foto e fiz um efeito. Ficou a bonequinha bem destacada que tem tudo a ver com o nome da marca! 

MBP: Onde você se inspira pra criar as peças?
AC: Eu busco conhecer as tendências, o que está sendo usado na internet e
algumas revistas... Mas engraçado que algumas peças surgem da criatividade mesmo. Busco reutilizar diversos tipos de materiais; tento não usar muito material industrializado, como ferros, correntes, plásticos. Quando uso são só alguns detalhes! Mas procuro aproveitar o material que tenho, evitando de ficar comprando coisas que talvez eu não use. As peças são uma mistura de estilo. Gosto muito de fazer peças afro mais modernizadas. Já trabalhei muito só com sementes e madeiras. Eu mesmo acabei enjoando e com vontade de usar outros materiais. As peças variam pra que gosta do afro, sofisticado, simples ao exagerado. Gosto da diversidade de estilos, mas nada muito comum.

MBP: Como é a relação das meninas crespas com seus acessórios?
AC: Elas adoram! Geralmente elas compram, encomendam flores para os cabelos. Quando posto fotos minhas ou outras inspirações, ajuda muito na questão de ousar e comprar das produtos.

MBP: E você tem percebido mudança nessa relação da mulher crespa com o próprio cabelo?
AC: Sim! Hoje em dia muitas delas estão vendo outras que assumem seu cabelo do jeito que é e toma atitude também. É visível por muito lugares onde vou, apesar de conhecer muitas que não deixam a chapinha por nada.

MBP: Pra terminar: na sua opinião, qual a importância de ser crespa?
AC: 
Acho que estamos vivendo um momento de recuperar a autoestima, e isso é importante para as mulheres negras, que tanto sofrem com o preconceito e o tipo de cabelo (padrão) que muitos da sociedade impõem. Importante manter essa posição de mulheres confiantes, orgulhosas e felizes. Se aceitar primeiramente, apesar do preconceito que muitas sofrem.

Para saber mais é só curtir a fanpage: www.facebook.com/fulonegra.



É A MINHA CARA - JUN ALCANTARA

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   Um máximo "olá" para todos os crespos e crespas do Brasil e do mundo. É com muito gosto que eu trago a vocês uma pequena ideia que troquei com o Jun Alcantara, autor do blog Ubora, alguém com quem aprendo muito acompanhando o trabalho, e aprendi muito mais durante esse tempo da conversa. "Ubora" é um blog/fanpage que tem se destacado por sua simplicidade e sofisticação, simultaneamente. Ele é dirigido por Jun Alcantara, 24 anos, no ar há 3 anos. Com estilo "retrô" e "contemporâneo" traz uma vasta inspiração a nós crespos, com muito orgulho, e experiências que poderão mudar conceitos em nossas vidas. Vejam como foi nossa conversa: 

Christyan Dhort: Salve, mano! Em primeiro lugar eu quero agradecer a atenção e dizer que sou um grande apreciador de seu trabalho. Acompanho fielmente a página e o blog.
Jun Alcantara: Obrigado. E sou eu que agradeço o convite e suas visitas.

C: Bem, ao estudar um pouco do seu trabalho, eu percebi que você tem um conceito de moda muito forte, quando começou seu interesse pela mesma?
J: Quando estava no meio da minha adolescência, o lance de querer ser diferente e ao mesmo tempo buscar o pertencimento a um grupo. Lá pelos 12 anos, curtia muitas bandas de rock e comecei a usar tênis all-star, pulseiras, bandanas. Mas passei a me interessar de verdade por roupas no final dos 17 anos. Foi quando comecei selecionar roupas com um caimento melhor, a escolher camisetas com temas que eu gostava e mandar calças para a costureira.

C: Você concordaria se eu afirmasse que o rock influenciou na sua forma de vestir, ou suas roupas são independentes de um estilo típico de "tribo"?
J: Influenciou no início. Era a forma como eu queria ser na adolescência. Meu ídolo era o Slash, guitarrista do Guns n’Roses. Hoje talvez influencie, mas de forma indireta. Não é onde busco minhas referências e nem o contexto que estou hoje. Além do quê, hoje em dia não ouço muito rock.

C:  Então, o que te influência hoje?
J: Como eu sempre falo: as roupas são só parte de um monte de coisas que fazem parte da minha personalidade. Tudo gira da mesma forma e ao mesmo tempo. É o que eu ouço, o que eu como, o que converso, aonde vou, o que visto. Eu gosto de coisas antigas... Estética antiga, música antiga, filmes antigos. Mas falando de forma mais objetiva, na questão do estilo mesmo, a forma como os músicos de Reggae das décadas de 1970 e 1980 se vestiam me inspira demais. Também gosto muito da forma com os skinheads originais, da década de 1960, se vestiam. Hoje, com os blogs e o Tumblr, as referências ficam um pouco mais "espalhadas". Me inspiro bastante nas fotos que aparecem por lá, de homens bem-vestidos em várias décadas.

C: Nós sabemos que ser "bem vestido", não está atrelado ao estilo. Como você definiria estilo?
J: É um modo particular de se vestir. Mesmo que um sujeito estiloso esteja ligado a um grupo de pessoas que se veste de forma parecida, esse é um modo particular de expressar o seu modo de vida. Ter estilo é ter uma estética interessante e saber ser seletivo. É escolher uma calça pelo corte, pelo tecido, pela forma como ela cai no corpo, pelo modo como ela vai "interagir" com o resto das suas roupas. Saber escolher um xadrez interessante, saber escolher acessórios interessantes. Não se guiar pelas tendências, escolher por escolher ou consumir por consumir. É selecionar e combinar elementos que tenham a ver com sua forma física e a forma como você leva sua vida, os lugares que frequenta, a música que ouve, o que você lê.

C:  O Ubora tem um toque simples e sofisticado. O que inspirou e como inspirou você a criar?
J: Antes, em 2009, eu tinha um blog chamado Vidudu, fruto de uma parceria entre eu e uma amiga. Mas como só eu postava, terminei o blog. Pouquíssimo tempo depois, resolvi fazer um blog só meu, onde eu postaria só o que me interessa e inspira. Minhas grandes inspirações são negras - acho importante que as inspirações visuais sejam majoritariamente compostas por pessoas parecidas com você - e resolvi juntar isso ao fato de existirem poucos lugares onde jovens negros pudessem buscar inspiração, sair do clichê imposto aos que buscam uma identidade visual ligada à negritude. Foi dessa ideia que saiu a primeira descrição do blog: "Somos mais do que calça larga e cabelo black power". Apesar de eu não mais usar essa descrição oficialmente, ela ainda tem tudo a ver com o espírito do Ubora, mesmo com as transformações que ele sofreu ao longo destes 3 anos.

C: Um fato curioso é que você afirma que não é muito ligado à tecnologia, então o que impulsionou você a criar o blog e a página no Facebook?
J: Eu gosto bastante de internet. Gosto da facilidade na comunicação, das músicas que encontro, das coisas que leio. O Ubora é exatamente sobre isso: informação. Criei a página com o intuito de facilitar o acesso dos visitantes às atualizações, para que pudessem interagir entre si e para que eu pudesse passar informações que, apesar de interessantes, eu não publicaria no blog.
Não sou chegado em iPads, aparelhos supermodernos, celulares com milhares de funções, esse tipo de tecnologia. Não gosto da ideia de acessar facebook/twitter e outras redes sociais na rua, por exemplo. Quando eu estou na rua, prefiro realmente estar na rua. Hoje, muitas pessoas vão a shows e, ao invés de se emocionar e dançar, ficam filmando pelo celular. Estão preocupados em filmar, somente. Vão a eventos legais e ficam mandando tweets sobre o que está acontecendo, ao invés de apreciarem o que está acontecendo. Não suporto gente que fica mexendo no celular enquanto conversa comigo.

C: O "movimento crespo" está em ascensão, está passando por uma grande revolução. Tem alguma opinião sobre isso?
J: Sim. Sou fruto disso, também. Quando mais novo, tinha vergonha do meu cabelo. Nunca tive vergonha de ser negro, mas o cabelo no contexto da negritude sempre foi algo problemático. Aos 13 anos, alisei o cabelo pra usar arrepiado, que era o tipo da moda. Usei por um mês, até cortar. Me senti muito mal. Continuava não gostando do meu cabelo, mas sabia que o que eu estava fazendo não era certo. Passei a maior parte da vida com cabelos naturais no tamanho médio, mas passava gel ou creme para "consertar". Depois, passei a rapar, por pura questão de estilo. Nessa época - aos 19, 20 - eu já estava muito ligado às questões da negritude, política e estética. Quando cansei de rapar, comecei a deixar o cabelo crescer e as pessoas me perguntavam o tempo todo se eu estava querendo fazer tranças. Eu não podia, simplesmente, deixar o meu cabelo crescer? Então, comecei a compreender ainda melhor a questão do cabelo negro. O racismo leva as pessoas a separarem o cabelo do resto do corpo. O cabelo crespo é uma característica tão minha quanto o meu nariz, a cor da minha pele ou meu sorriso. O cabelo não é um acessório. Apesar de não ser uma mudança irreversível e drástica como uma cirurgia plástica, por exemplo, ainda sim a mudança química da textura do cabelo tem como significado o disfarce de uma característica sua, algo que você quer esconder. Me perguntam se meus dreadlocks são uma questão de estilo, se uso para ser diferente. Não é questão de estilo e nem de ser diferente. Não é militância, apesar de eu compreender e gostar do fato deles representarem um símbolo de orgulho e resistência. É, simplesmente, meu cabelo. É como meu cabelo fica quando eu enrolo e não penteio. É a forma que gosto que ele fique.

C: E sua opinião sobre as meninas que já são adeptas do cabelo crespo natural e as que estão em transição?
J: Acho lindas. Com cabelos naturais ficam mais bonitas e mais seguras. O nosso cabelo natural é o que mais combina com a gente, sempre. As que estão em fase de transição devem se manter firmes na ideia. E acho que rapar é uma boa, porque mulheres carecas são um charme.

C: Fale algumas palavras para os crespos, que são adeptos e os que estão se descobrindo agora.
J: Temos que buscar o aperfeiçoamento físico e intelectual. Melhorar sem fugir do que somos naturalmente. Ame a sua cultura, sua família e as pessoas boas. Viver de verdade é viver para os outros.

C: Obrigado pelas palavras e pelo tempo, a Equipe MBP se sente honrada.
J: Eu agradeço! Foi o maior prazer!

Ubora e Jun na mídia: 
Blog
Facebook - Página



É A MINHA CARA - ROSANGELA JOSÉ DA SILVA

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 Ainda são poucas as referências nacionais quando o assunto é cabelo crespo, beleza da mulher negra e etc. Não podemos negar. Mas, para nossa alegria, estamos nos tornando mais fortes e as influências nacionais que recebemos não são fracas, hein?! Hoje o blog das MBP se sente honrado em poder divulgar uma conversa com a Rosangela, aka Rosa, autora do blog Negra Rosa, Rosa Negra. Através de seus posts sobre vivências cotidianas com o cabelo natural que cultivado com todo amor do mundo, indicações dos produtos que experimenta, sugestões de makes e vídeos que mais parecem conversas com "comadres", transformou a visão de muitas por aí. Ainda não teve o prazer de conhecê-la? Dá uma olhada nosso papo e depois corre pra clicar no blog e no canal do YT

MBP: É perceptível nos materiais que você divulga o amor que tem pelo cabelo. Como você descreve o processo de aprender a curtir o cabelo que tem, como ele é, sem alterações?
R: Meninas, foi uma sensação incrível quando eu fiz o big chop e comecei a sentir a textura do meu cabelo. A cada mês , conforme o cabelo crescia, eu me encantava e buscava formas de deixá-lo mais bonito sem precisar de química, sem precisar dar um "susto na raiz". A cada dia, a cada aplicação de produtos eu aprendi do que ele gostava ou o que não ficava legal. Aprendi que quando mais molhado eu aplico o creme, mais definido ele fica. O mais legal é que esse aprendizado vai ser contínuo, porque conforme o cabelo vai crescendo, ele vai se transformando e eu vou buscar forma de deixá-lo sempre bonito.

MBP: Tanto você quanto nós aqui no Meninas e mais algumas outras plataformas de informação utilizamos a discussão da beleza negra através da aceitação do cabelo. Você acha que sua atividade se mistura com as questões de política negra? Como?
R: Infelizmente eu não sou tão politizada como eu gostaria, mas acredito que ao assumir meu cabelo natural, eu passo a ser viste de outra forma pelas pessoas, digamos que agora eu sou completamente negra. E ao mostrar que o cabelo de um negro pode sim ser lindo sem sofrer alterações químicas, estou ajudando de alguma forma.

MBP: V
ocê usa muitos produtos nos posts e vídeos, tanto pra cabelo quanto pra maquiagem. Acha que, principalmente falando de tratamentos pra cabelo crespo, há acessibilidade aos bons produtos?
R: Eu acho que o Brasil ainda está muito fraco na questão de cabelo afro natural. Infelizmente  ainda não está preparando para as necessidades das negras de cabelos naturais. Nós vamos nos adaptando aos produtos existentes no mercado. Falo isso em relação ao mercado americano. É impressionante como chegam novos produtos para o chamado cabelo kinky curl e no Brasil nada! Todos os meus produtos brasileiros são para cabelos cacheados e a textura do cabelo cacheado é bem diferente do meu cabelo. O meu cabelo precisa de produtos mais emolientes, mais hidratantes. Eu não acredito que esses produtos são testados em cabelos afros naturais. Eu sou uma pessoa positiva e tenho esperanças que isso mude de forma mais rápida, pois vemos que houve um aumento na oferta de produtos para cabelos cacheados. Os produtos que tenho para cabelos afro, tipo os pra fazer twist out, são importados. Esses produtos não são vendidos no Brasil e quando encontramos alguém que venda, os preços são bem altos.

MBP: Quais são os teus favoritos? 
R: Pro cabelo: G Gelatina, Relaxante Natural, Máscara Metamorfose SOS, Máscara Absolut Repair, Eco Styler Gel, Curling Custard, Curl Enhancing Smoothie, Gel Nylooks, Óleos Vegetais, Azeite Extra Virgem entre outros hahahaha, eu tenho muito produtos. Make: Pó Mineralize skinfinish Natural cor Dark (MAC), Corretor (Bobbi brown), Corretivo Studio finish(MAC), Amo todos os meus batons, não dá pra escolher um, Base Face&Body cor C7 (MAC), Base HD cor 173 (Make Up For Ever), blush Taj Mahal(NARS), Blush Dolce Vita (NARS), Lápis Kajal preto (Natura), Iluminador Olhos e Rosto (Natura) , vou parar por aqui [risos].

MBP: Os makes que você faz são um tanto ousados pros padrões que sempre divulgaram sobre maquiagem negra. A gente percebe que você sai sem nenhuma dificuldade das cores habituais (dourado e etc.) pra super inovações. Quando você se libertou nesse sentido?
R: Quando eu comecei a me interessar realmente em aprender a me maquiar, eu vi que não existe cor pra branco e cor pra preto, todo mundo pode usar todas as cores, a questão é você achar o tom certo para sua pele. Por exemplo, um azul claro não fica legal em mim, já um azul mais forte fica. Fui aprendendo, fazendo testes com as cores, hoje eu conheço mais o meu rosto, consigo comprar mais produtos que funcionam realmente na minha pele. 

MBP: Segue alguma regra na hora de criar makes?
R: Eu analiso algumas coisas ao montar uma make. Por exemplo, se eu quero dar destaque aos olhos ou se vou focar no batom. Se eu usar uma sombra super vibrante, dou uma maneirada no batom e não precisa ser um batom nude. Eu faço testes com as minhas makes pra saber o que vai funcionar ou não em mim.

MBP: Como funciona sua rotina de cuidados com o cabelo atualmente?
R: Atualmente eu estou fazendo a rotina no/low poo, que consiste em abolir o uso de sulfatos, petrolados e silicones. Lavo meu cabelo duas vezes na semana e sempre faço hidratação. Quando falo hidratação entra nutrição, reconstrução e hidratação. Gosto de finalizar meu cabelo com um óleo vegetal, depois creme de pentear e um ativador de cachos ou gel.

MBP: Algum projeto futuro pro blog?
R: Eu gostaria de atualizar mais vezes o blog, mas tenho um trabalho que me consome tempo e tenho que dar prioridade, já que é ele que me permite comprar as coisinhas que mostro no blog. E o meu projeto e continuar com ele por muitos mais anos mostrando dicas para cabelos e maquiagens para negras.

É A MINHA CARA - CHARLENE BICALHO

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  Marcamos de conversar pelo Skype e assim que a janela abriu vi logo aquele cabelão todo, lindo e vivo. Sorriso cativamente, voz simpática e coesão nas ideias só acompanham a coroa florida que ela carrega sobre os pensamentos férteis. Creio que o cabelo dessa guerreira seja o reflexo deles, florindo o rosto, o país, outras cabeças... O papo não foi rápido, viu? Quase uma aula, sendo mais sincera. Como não conversar com alguém que pensa que precisamos de autenticidade pra viver e não querer absorver cada palavra? Charlene surgiu, emergiu e transformou, com a ajuda de quem apoia o trabalho, os cérebros de muitos. Transformar o cabelo é só a consequência. Desde quando os ramos nascem antes da raiz? Abaixo a história toda e muita inspiração pra quem quiser.

MBP: Como surgiu a ideia do projeto Raiz Forte?
CB: A ideia surgiu após 29 anos de pesquisa com minhas vivências com os cabelos crespos. Na infância andava sempre com as tranças que minha mãe fazia com carinho, mas eu detestava. Quando entrei para escolinha os puxões para trançar e destrançar os cabelos intensificaram, porque eu não podia nem pensar em pegar piolho. Na adolescência tanto eu como minha mãe vimos o alisamento como a salvação do meu problema, com os cabelo liso poderia usá-lo solto, ficaria livre das tranças, poderia até ter franjinha como a maioria das minhas amigas. Mero engano... Me tornei escrava dos "tratamentos" químicos, dos rolinhos, das tocas, dos secadores e depois das escovinhas. Utilizava um tipo de produto duas vezes e o cabelo logo começava a quebrar ou cair mesmo. Troquei diversas vezes de produtos químicos e salões de beleza, gastava uma fortuna para alisar e depois uma fortuna para hidratar e recuperar os fios danificados pela própria química. Nunca estava satisfeita com o resultado dos alisamentos, pois não ficava como os cabelos da maioria das minhas amigas, liso. 
     Aos 26 anos de idade fui surpreendida pelo seguinte questionamento do meu namorado na época: "como é seu cabelo?". Não me recordo muito bem o que respondi, mas foi algo do tipo "eu sei como ele é e aliso porque gosto". Quando cheguei em casa fiquei me olhando no espelho tentando me lembrar como era meu cabelo, comecei a procurar fotos da infância quando ainda não alisava o cabelo e ainda não conseguia visualizar aquele cabelo. Comecei então a perguntar para as cabelereiras dos salões que eu frequentava como eu poderia fazer para deixar o cabelo natural. Todas me respondiam que isso não ia dar certo porque meu cabelo tinha várias texturas, não iria encaracolava, era muito seco, e por ai vai... Não satisfeita com as respostas (na minha opinião, sem fundamento) decidi então usar tranças soltas com jumbo. Essa foi a forma que encontrei de esconder os fios alisados enquanto a raiz crescia. Fiquei um ano nesse processo até ter cerca de cinco dedos de cabelo virgem. Então procurei um salão especializado em cabelos afro, contei minha estória e pedi para cortar. Nem dormi aquele dia! Tinha chegado a hora de descobrir como era meu cabelo. Depois que a cabelereira molhou meu cabelo após o corte me vi com o cabelo bem curto e todo cacheadinho.  Nos primeiros dias achei muito estranho, não me achava bonita, mas com o passar do tempo o cabelo cresceu e ficou cada vez mais bonito. Entretanto, caí na besteira de usar química novamente com o propósito de alongar os cachos e meu cabelo quebrou todo. Esse episódio me marcou muito porque tive que cortar o cabelo bem curtinho e deixar ele crescer novamente, o que demorou cerca de seis meses, período em que me senti sem forças, me culpando por me auto sabotar.
    Cerca de um ano após esse corte tipo Joãozinho, comecei a ser abordada por mulheres negras, em ambientes que eu frequentava, perguntando o que eu fazia para meu cabelo ficar daquela forma. As abordagens aumentavam a medida que o meu cabelo crescia e isso começou a mexer comigo porque eu me via naquelas mulheres, via nelas meu cabelo de anos atrás.  Comecei então a pensar algum projeto cultural onde pudesse abordar essa temática, no intuito de mostrar para essas mulheres que existem alternativas para tratar dos cabelos diferentes das que geralmente são ensinadas no âmbito familiar. Dessas reflexões surgiu o projeto RAIZ FORTE!

MBP: Como é a seleção das meninas que participam?
CB: As entrevistadas são selecionadas a partir de suas histórias de vida. Após indicações de amigos, pesquisas via internet ou a partir de estórias já conhecidas faço o contato via Facebook ou telefone e marco as entrevistas.

MBP: Quais as experiências mais marcantes dentro do projeto?
CB: Os lugares para onde as entrevistadas me levam são muito marcantes. É como se tudo o que já vivi estivesse guardado em um quarto escuro e cada uma dessas mulheres que entrevisto ilumina com uma mini lanterna cenas do vivido a partir de suas estórias de vida. A última entrevistada me comoveu contando que as festas de fim de ano já tinham lhe gerado muito sofrimento porque ela não se sentia bonita, por vezes não queria ir às festas... Sua fala me levou imediatamente as festas de Natal da minha família onde por mais que estivesse com o cabelo escovado, roupa nova, não me sentia bonita, faltava alguma coisa.

MBP: Como tem sido o financiamento do projeto?
CB: Raiz Forte é um projeto incentivado pelo Programa Rede Cultura Jovem. Fruto de uma colaboração entre a pesquisadora e fotógrafa Charlene Bicalho, o artista multimídia Msensorial, o diretor de arte Pedro Ribeiro e em parceria com o coletivo Compatilhe Ou Nada! E Blog Garganta.

MBP: Quais são os projetos futuros?
CB: Buscar meios, parcerias e formas de distribuições para o web documentário Raiz Forte, no intuito de colocar o tema em discussão em pontos de cultura e escolas do Brasil ou até mesmo de outros países.

MBP: Quem é você?
CB: A mais difícil fica por último ne? [risos] Bem, sou fruto de um amor "café com leite"... Fui criada no seio das Minas e das Gerais em uma cidade do interior chamada Nova Era, onde morei até os vinte anos de idade, quando me mudei para Coronel Fabriciano/MG em busca de novos rumos. Não satisfeita com os caminhos até então percorridos joguei o tudo recheado de nada para o alto, em busca de novas identidades no Espírito Santo.  Hoje moro em Regência Augusta/ES, onde atuo como pesquisadora, fotógrafa, agente cultural e o que mais me desafia pela frente. Acho que sou uma mulher movida por tudo aquilo que a princípio parece ser uma loucura. 


É A MINHA CARA - LUANA NASCIMENTO

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  Loo, se preferirem. Amora convicta, looks inspiradores, fotos emocionantes, camaleoa no cabelão, irmã da Luma, cria da Bahia, idealizadora do Dresscoração e muito mais conteúdo pra contar. É "tudo isso" de preta que trocou ideia com a gente e o resultado vocês acompanham nas próximas linhas. Inspirem-se.

MBP: O Dresscoração é lindo, muito bem comentado e recomendado. Como nasceu a ideia e quais eram os objetivos que você tinha em mente no início?
LN: O Dresscoração foi um cantinho que criei primeiro no meu computador para guardar moda e decoração, depois passei ele pro blogspot. Meu desejo era compartilhar com as minhas amigas as coisas que eu encontrava pela net e ter um lugar online pra guardar todas essas referências. Nada mais fácil que fazer isso no Facebook. Mas ele deu um "boom" que me deixou feliz em compartilhar e influenciar outras Amoras.

MBP: Você também está ligada ao movimento das Amoras. Fala um pouco sobre elas?
LN: Sim!!! O clã das Amoras!!! Tenho umas amigas bapho, com quem sempre conversava sobre tudo o que existe no planeta, e numa dessas a gente resolveu que tinha que passar adiante os pensamentos e conclusões, e trocar com outras meninas o que era de comum interesse. Assim surgiu o clã, pra ser um espaço para meninas e mulheres da pele preta e mente esperta se conhecerem, trocarem opiniões e, principalmente, tratar da nossa autoestima enquanto mulheres negras no Brasil.

MBP: Como é a tua relação com a moda?
LN: Genty! Eu amo roupa! Desde sempre! Desde que me entendo por ser humano vivo, sempre foi assim. Não sou vítima das tendências, nem do modismo. Sempre me apego ao que acho bonito, interessante e original. Acho que se vestir é uma expressão muito pessoal, mesmo usando as mesmas coisas, as pessoas podem se "decorar" de forma totalmente diferente e única! Me fascina. Maria Consumista assumida!!! (Leia aqui um post da Loo falando de moda.)

MBP: Quem te "acompanha" nas redes sociais percebe o quanto você muda de cabelo. Desde quando você costuma ousar assim?
LN:  Isso desde de criança. A gente era meio boneca de mainha. Ela adorava "inventar arte" com o cabelo da gente. Com 15 anos raspei a cabeça e deixei ele crescer natural...  Depois que comecei a modelar fiquei uns anos presa a um perfil de cabelo e desde que parei não paro de mudar, experimentar, variar... São tantas possibilidades de mudança. É incrível! E depois ele cresce e você pode pirar de novo. [risos]

MBP: Qual das experiências mas te agradou?
LN: Ser careca e as tranças. Amo a praticidade! Já tive cabelo liso, de permanente, aplique, black power e a gente sabe que todos exigem uma certa atenção, mas ser careca foi o melhor. Tão fresco!

MBP: Atualmente está trançada, né? Se inspirou em alguém ou alguma coisa? Como é a rotina?
LN: Sim! Super me inspirei nas pesquisas que fiz nos blogs gringos. Fiz até um post no Dress sobre a menina que mais influenciou minhas últimas artes, o undercut e as tranças. Acordo linda, sempre pronta e penteada, ganho tempo, elas nunca bagunçam, economia master nos cremes de cabelo e gasto blaster em shampoo, mas vale muito a pena.

MBP: Alguma dica pra Meninas que querem trançar agora?
LN: Se joguem! Amoras, as tranças te dão infinitas possibilidades de penteados, vocês podem unir elas a um corte legal, mais grossas, mais finas, curtas, super longas, mescladas. É só pesquisar o que mais tem sua personalidade.

MBP: Pra terminar: define pra gente a importância de ser crespa.
LN: Pra mim ser crespa é importante quando condiz com o que você sente  e como você se sente em relação a si mesma. A importância vem de se auto conhecer e externar o seu bem estar através do  seu cabelo, independente de como ele seja, ou esteja, faz parte de um amadurecimento pessoal.