Archive for janeiro 2014

DEIXA O MEU CABELO EM PAZ? NEGRITUDE, MASCULINIDADES E CABELOS CRESPOS - PARTE 2

6 Comments »

Enrique La Salle
         Depois de um bom intervalo estou de volta. Vamos continuar nossa conversa sobre cabelos crespos a partir de uma perspectiva masculina. No primeiro post, que pode ser lido AQUI, vimos como há uma percepção generalizada e equivocada que o cabelo em geral, e crespo, em particular, é uma preocupação apenas feminina. Farei hoje uma imersão na temática dos cabelos crespos partindo dos anos 1940 e chegando aos 1990. O pano de fundo para a análise será a cultura popular afro-americana e sua influência no Brasil. 
       Entre os anos 1960 e 1970 o cabelo crespo dos negros foi elevado a símbolo de orgulho racial e resistência por afro-americanos num processo impulsionado por movimentos como o Black Power (Poder Negro) e o Black Panthers Party (Partido dos Panteras Negras). Entretanto, não foi um mudança fácil já que o afro naquele período era visto como um sinalizador de rebeldia e recusa de integração racial, algo à época valorizado e almejado pelas classes média e elites afro-americanas.
         A estética do alisamento ou relaxamento dos cabelos era um procedimento incorporado em boa parte dos negros da diáspora negra. A crítica cultural bell hooks possui um texto muito bonito e interessante descrevendo o papel social do alisamento entre as mulheres negras estadunidenses (leia AQUI). No que diz respeito ao gênero masculino, nunca li nada parecido.  Sim, nós homens alisávamos e ainda alisamos o cabelo apesar desse look estar um pouco ultrapassado nos dias de hoje.
       Dias atrás folheava um catálogo de uma exposição com fotografias da vida do músico de jazz Miles Davis e lá estava ele nos idos dos anos 1940 e 1950 com o cabelo alisado. Malcolm X, em sua época de atividades ilícitas, também alisou. Essa passagem é satirizada pelo cineasta Spike Lee em seu filme sobre a vida do líder negro. X, que naquele período ainda atendida pelo codinome “Red”, está no meio de uma alisamento quando percebe que a água do apartamento havia acabado. Procurando por um lugar para enxaguar o cabelo antes que o produto queimasse seu couro cabeludo, ele enfia a cabeça na privada, único lugar com a água disponível. Nesse mesmo instante a polícia invade o apartamento para prendê-lo.
        Mesmo com as demonstrações de orgulho dos anos 1960 alisar o cabelo não deixou de ser uma prática estranha a homens e mulheres negras nas décadas seguintes. Alguns artistas de renome nunca deixaram de fazê-lo. Um exemplo é o Padrinho do Soul, James Brown. Nos anos 1980, porém, os topetes esticados deixaram de ser tao atraentes e foram substituídos por uma espécie de relaxamento que deixava o cabelo mais leve, encaracolado e com volume. Um visual similar ao cantor Lionel Ritchie no vídeo da canção All Night Long de 1983.
        Um filme que imortalizou uma sátira a esse tipo de cabelo foi Coming to America (Um Príncipe em Nova York), de 1988. O elenco contava com Eddie  Murphy, no papel principal,  Arsenio Hall, Samuel L. Jackson, Cuba Gooding Jr. e Enriq La Salle (foto de abertura do post). Esse último interpretava o papel de Darryl Jenks, namorado de Lisa McDowell (Shari Headley) e filho de um empresário que produz um creme umidificador, o Soul Glo (imagem abaixo). O cabelo de La Salle e o umidificador são alvos de constantes piadas durante todo o filme (assista um trecho divertido AQUI). Esse estilo de cabelo permaneceria até o início dos anos 1990 como um look bastante aprazível para nós homens negros. Basta dar uma olhada para os cantores de soul e  R&B desse período ou lembrar do visual de Ice Cube no clássico Boyz N The Hood, dirigido por John Singleton em 1991 (veja o trailer do filme AQUI).

Comercial Soul Glo
         No Brasil, a história não foi muito diferente. Diga-se pelos inúmeros produtos disponíveis no mercado desde a década de 60 como Henê Marú, Alisabel, Nivea e o amaldiçoado Jennifer Black, que teve seu momento de glória no início dos anos 1990.  A propósito, o JB foi responsável nessa época por deixar meus cabelos e os de vários patrícios secos, quebradiços, sem vida e vermelhos sem contar a possibilidade de surgimento de feridas em decorrência de queimaduras causadas pelo produto. Mas a década de 90 não foi apenas de desgraça para nossos cabelos.
          Em 1990, a gravadora Zimbabwe  lançou o álbum Holocausto Urbano do grupo de rap paulistano Racionais MC’s. Para além do conteúdo político das letras dos raps de Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, que versavam sobre violência policial, racismo e outras mazelas sociais, chamava atenção a estética dos rapazes. Na foto de capa do LP todos tinham os cabelos raspados e se vestiam de preto. Os MC’s dos Racionais seguiam uma tendência que já havia se popularizado entre alguns artistas de rap e atletas afro-americanos daquele período, principalmente jogadores de basquete como Charles Barkley, Magic Johnson e Michael Jordan. Mas o uso de cabelos raspados ainda era tabu e algo estigmatizado no Brasil uma vez que ele estava associado à instituições de internamento penal e/ou psiquiátrico.
        A popularidade dos cabelos negros naturais e sem alisamento entre jovens nos Estados Unidos estava associado a ascensão de grupos de rap mais afrocêntricos como A Tribe Called Quest, Jungle Brothers, X Clan, Arrested Development e outros que se vinculavam ao nacionalismo negro como Public Enemy. Os penteados variavam entre as versões negras do flat top, as falhas e entradas feitas com navalha, desenhos e inscrições de nomes e letras no cabelo também produzidos com navalha além dos ainda bastante estigmatizados dreadlocks.

Flat top no rapper Big Daddy Kane (sentado)
         No Brasil, porém, o que mais se popularizou nos anos 1990 foi o cabelo raspado. Algum tempo depois as tranças e os dreadlocks foram incoporados no estilo de jovens mais ousados. A expansão do cabelo raspado por aqui foi tamanha que ele passou a ser apreciado por sambistas, jogadores de futebol e outras personalidades negras masculinas que de forma alguma questionavam o status quo como os MC’s dos Racionais. Defendo o argumento que a popularização e aceitação do cabelo raspado entre esse grupo se dava também por “resolver” o “problema” do cabelo crespo para o grupo masculino.
          Ou seja, diferente da aceitação e exibição do cabelo crespo vistas no flat top e, posteriormente, nos dreadlocks e tranças variadas, raspar o cabelo significava retirar a carapinha da visão pública, domá-la através da sua eliminação periódica. E mesmo os argumentos em favor do cabelo raspado que se baseavam em noções de higiene e praticidade alocavam simbolicamente o cabelo crespo no grupo dos cabelos “sujos” ou “problema”. Nesse sentido, raspar a carapinha significava se render a um certo higienismo simbólico que apagava as marcas de inferioridade e estigma trazidas pelo cabelo crespo, algo que já discutimos no primeiro post. Lembrem-se de nossos queridos patrícios famosos Vin Diesel e Ronaldo Fenômeno novamente.
        Prometi ser sucinto, mas não consegui.  Se você agüentou ler o texto até aqui, fico agradecido. Comentários são bem-vindos. Em nosso terceiro e último post da série veremos a situação atual dos cabelos crespos entre nós homens. Haverá uma surpresa também. Até lá! Muita Paz, Muito Amor!

PS: visitem meu blog, o NewYorKibe, clicando AQUI, e curtam a página do mesmo no Facebook AQUI.

GLOBELEZA

25 Comments »


       Não sou de ver televisão, pois além de sentir a minha inteligência sendo desafiada, me sinto em uma alienação idiota. Vejo um mundo paralelo criado. Um mundo que não vejo nas ruas: um mundo branco em sua maioria, no ápice do seu protagonismo; negros exercendo o seu papel secundário e subserviente, tudo embalado em quadros de humor elitista, onde as mazelas negras são exploradas pra arrancar risos e audiência.
       O nosso lugar sempre é demarcado, os acertos e mudanças são discretos e caminham em passo de tartaruga. O lugar da mulher negra na TV brasileira é na cozinha, na senzala, em discretas cotas no elenco e claro, mostrando o seu corpo, sendo “mulata”. Não que eu não legitime a nossa história e não entenda que o samba é nosso. O problema é que o samba é nosso e foi apropriado pela mídia, que define novamente quem vai ficar com qual papel. E aí, é dado o nosso sonhado protagonismo! E ele é nu, sambando. Mais nu do que sambando, pra falar a verdade! 
      Há pouco tomei conhecimento, que foi eleita, por voto popular a “mulata globeleza”. Vi a vinheta da eleita, um corpo escultural, cheia de brilho e sem samba algum no pé. Fiquei meio surpresa, cheguei a compartilhar nas redes sociais e questionei onde estava o samba ali. Uns concordaram comigo, outros disseram que era culpa da direção, malhamos a emissora e ficamos por aí. Até que surgiu um comentário falando que a Globeleza deveria ter mais bunda. Fiquei estupefata e não acreditei na cobrança. Cheguei a me perguntar: “Mas, meu Deus, como uma pauta perguntando onde estava o samba pode ter um questionamento tão raso e machista desses?”
       Daí percebi que a negra, chamada de mulata, que samba pra fazer a vinheta bonita, é uma vítima. Depois que eu me compadeci, fiquei sabendo que ela ao ser eleita no reality, disse que o sonho de toda mulher negra é ser Globeleza. Senti raiva e pena. E ironicamente, perguntei o que seria de mim, a preta que não sabe sambar e com um biótipo longe do padrão. Ri da ignorância dela, mas tive pena de novo. Pena porque ela pensa como milhares de mulheres e homens negros. Simplesmente, ela só quis o único lugar de protagonismo, que a mídia pode oferecer pra uma mulher negra.

      Mais pena fiquei hoje, quando me deparei com “memes” no Facebook, a comparando com o personagem Zé Pequeno, de Cidade de Deus. E o quadro não foi só esse: muitos comentários falando da falta de bunda, falando sobre a falta de peito : “Que ridículo esse peito infantil!”. Falando dos traços grosseiros de seu rosto (Me pergunto que ignorância os traços dela fizeram com esse povo, além de aparecer na TV.). A pergunta que não me calava: “Onde está o samba no pé, gente? Na vinheta e no meio desses comentários?” O que eu pude constatar, é que a emissora dita ou sabe o que o povo procura e nesse caso não era samba no pé. Constatei também que ser mulher-objeto é péssimo, mas ser mulher-objeto-negra é pior ainda, a negritude incomoda: desde os cabelos (que já fizeram questão de relaxar!) até os traços, que mostram sua ancestralidade. E uma negra precisa ter bunda e peito. O povo clama: Cadê as carnes?
        Me pergunto que se dentro do hall de negros na TV, ela tenha similaridade só com o personagem bandido de Cidade de Deus. Seria falta de elenco afrodescendente ou apenas uma forma subliminar que o pseudo humorista teve de dizer o lugar que ele acha que ela tem que ocupar, depois que passar o carnaval? Fica o questionamento!

O GALHO É DE QUEM?

6 Comments »

         A normalidade está em, no meio de polêmicas racistas, a pessoa branquinha, que paga seus impostos, se vestir de bananaSim, claro, é super normal. Até porque, hoje em dia, é super normal ter pessoas fantasiadas nos programas de televisão, é quase uma regra! Como peça central e superior, a pessoa se veste de, pasmem, banana. Sim, claro, isso é normal, mais uma vez. Como alguém pode reclamar se uma pessoa quer se vestir de banana e for "disputada" por macacos? A cena foi perversa, o momento foi perverso. 
       Este foi um recado a todos aqueles que reclamaram da escolha e mais ainda da explicação desnecessária que foi dada. Será que essa apresentação foi arquitetada para que ela estivesse em evidência? Uma propaganda para valorizar o passe dela e que, mais uma vez, fossemos chamados de macacos por não conseguir entender que é "apenas uma música"O mais triste e revoltante é ver os macacos, que a desejam, serem enxotados. Não, eles não são dignos da beleza e superioridade da banana.
      E ainda há quem diga: "parem com essa coisa de raça, somos todos da raça humana". É mesmo verdade? Ou será que ainda estão pensando que nós, negras e negros, estamos com o pensamento estagnado no mesmo processo evolutivo dos primatas. Não, eu não desejo a banana!
* A postagem não contém imagens, pois a autora prefere não ter a referida banana ilustrando o texto.



TOP 10 MBP #2 - BATONS ALARANJADOS

4 Comments »

Do Instagram, com o 06 da Natura
      
      Meninas! Primeiro post de 2014 e já vamos começar aquecendo o blog com um Top 10 arrasante, escrito por dezenas de mãos. O tema hoje são batons alaranjados, uma super aposta pras diversas pigmentações que mulheres negras possuem. Combina muito com esse tempo quente do verão e pode compor diferentes makes, das básicas até as mais trabalhadas. Pensamos nessa listinha depois de publicarmos uma foto lá na página. A ideia era inspirar Meninas que ainda não estão confortáveis com novas cores na maquiagem e, além disso, trocar inspirações fornecidas pelas que já estão se divertindo com os testes. 

Nossa inspiração!

        Foi um sucesso nossa troca! Algumas das indicações foram citadas várias vezes e são elas que ocupam o topo da lista. Acompanhem abaixo os mais queridos e todas as outras opções, ok? Queremos que sirva de inspiração para colocar em prática essa liberdade linda de se colorir sempre. Ainda em tempo: esta que vos fala é uma entusiasta de batons alaranjados  pra vida (assim como a maioria das Meninas do Coletivo) e não dispensa o 06 da Natura, como vocês podem conferir na foto lá em cima. Convoquei Salisa Barbosa e Rosangela José, negras lindíssimas e que arrasam batons da lista, pra inspirarem junto comigo. 

1. Morange  MAC


2. Cor 06 (Coral) – Natura Aquarela
3. Cor 04 (Batom líquido) – Natura Aquarela
4. Sunny Citrus – Mary Kay
5. Cor 59  Vult6. Astral - Natura

7. Mango – Eudora
8. Apricot   Linha Make B., O Boticário
9. Cor M03 – Addcos
10. Coleção Gabriela Mel e Pimenta - Quem disse Berenice?