Em março aconteceu a primeira
edição de um evento muito bacana aqui na "cidade maravilhosa". A primeira Mostra de Cultura Afro Brasileira, no Senac. O evento foi público, mas era necessário fazer inscrição,
que infelizmente, ou melhor, felizmente, se esgotaram rapidamente.
Uma mostra que visa ensinar o
significado do sangue que corre em nossas veias. Quando vi o cartaz do evento
fui tomada por um sentimento. Esse sentimento me fez postar o cartaz em minha
página, com o seguinte texto: "Quem sabe um dia nos aceitaremos
como somos! Negros e não mulatos. Crespos e não quimicamente tratados. Quem
sabe um dia as correntes que amarram nossas mentes realmente caiam! Livres, enfim! 'Bora' firme nessa luta... #MBP Team." Esse foi meu desabafo, porque vejo
essa mostra como um desabafo coletivo. Como o desabafo do MBP, das que estão em
transição, e de todas que já entenderam que libertaram os nossos pulsos, mas
acorrentaram nossas mentes.
É notável que hoje vemos mais e
mais mulheres e também homens assumindo seus crespos, mas sabemos que esse
caminho ainda não é fácil de se trilhar. Não é somente a transição de um
cabelo, mas do pensamento, do corpo e da alma. É a aceitação da sua essência,
do seu "eu" real. É difícil explicar e também entender que não é uma questão de estilo.
O que muitos veem apenas como estilo, em nós já provocou choro, e do choro a força, e na força, firmeza para
aceitação. E quando entendemos o real significado de tudo isso, o orgulho. Hoje posso pentear meu cabelo e
sair firme com ele assim, não permitindo que os olhares me afetem; mas, se hoje
posso, é porque aprendi e porque encontrei força aqui.
Às vezes percebo que
há quem julgue nosso grito como "blá, blá, blá". Pode até parecer, mas para quem vive
ou viveu a prisão de uma química, que como no meu caso, queimava o couro
cabeludo, ardia e machucava, não só minha cabeça como minha auto-estima, digo: não é "blá, blá, blá". Hoje experimento a verdadeira
liberdade. Aprendi com Fabíola Oliveira
a ver meu cabelo como minha coroa, a coroa de meus ancestrais.
Essa primeira mostra é um grito e eu
espero e torço para que seja o primeiro de muitos, e não só no Rio como em todo
Brasil, até que todos tenhamos a oportunidade de conhecer a história e cultura
de nossos ancestrais.
Boa reflexão!! Assumir os cabelos crespos é um ato político, mesmo para aquelas que acham que é só uma questão de estética. O corpo fala por si.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
Obrigada, Rebeca!
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