Estética, do grego aisthésis: percepção, sensação. Estuda
o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções
pelos fenômenos estéticos[...]. Filosoficamente é isso, mas e quando se trata
do senso comum, o que é esteticamente bonito e/ou aceitável? Partindo
desses pré-supostos, foram implícitos conceitos e padrões onde o que é feio não
é visualmente agradável aos olhos.
Vinícius de Moraes disse: "Que me
perdoem as feias, mas beleza é fundamental!". Mas, vem cá Vini, de que beleza tu falastes, se a
beleza está nos olhos de quem vê?! O padrão de beleza em qualquer lugar do mundo é o mesmo: Pele,
cabelos e olhos claros. Então, qualquer
outro modelo que não se encaixe nesse, deturpa do que é visualmente
satisfatório. Partindo dessa premissa, a imagem da mulher preta está intrinsecamente ligada à
ausência de beleza. Não que seja verdade, mas por estarmos bem distante do que
é considerado belo, passamos a ser consideradas "não belas".
Além disso, a mulher preta também tem a imagem associada à miséria, que
se dá a desfavorável situação a qual sofremos desde a abolição até hoje. As que
têm a pele mais clara e o cabelo menos afro, têm maior aceitação. Assim, uma "sútil" imposição faz com
que quem não está dentro desse padrão, tente de outras formas se aproximar dele
e essa aproximação se inicia pelo cabelo.
Como o assunto primordial do MBP é cabelo e
consequentemente estética, surgiu a necessidade de abordarmos um personagem que
vem ferindo a moral da mulher preta brasileira. A maioria da população que encontra-se em condições de
miserabilidade é sim preta, mas não por vontade própria e sim por consequências
de situações já citadas. Essa condição inspirou um personagem que além de
retratar essa classe de forma preconceituosa e medíocre, reforça a associação
do preto à pobreza e feiura.
A personagem Adelaide do Zorra Total, interpretada por
Rodrigo Sant'anna, não agrada aos de bom senso, com sua caracterização de
mulher preta, desdentada, com prótese de um nariz mais largo e falando errado e
que utiliza um pedaço de palha de aço para fazer menção ao cabelo de sua filha. Rodrigo que é fenotipicamente preto, se
auto-declara pardo e diz que a personagem é inspirada em sua avó (quanto
amor!). Diz também: "Talvez se eu tivesse
uma avó loura, de olhos azuis, não estivesse enfrentando isso... Fico triste,
de verdade. Sempre contei minha história de uma maneira muito aberta, sem ser
panfletário. Falo de gente pobre, humilde, feia, desdentada, analfabeta, com
nariz grande, porque é com esse tipo de gente que eu convivi a minha vida
inteira. Elas são a matéria-prima do meu trabalho. Minha inspiração é minha
família, são os meus amigos. Pessoas das quais eu me orgulho, independentemente
dos defeitos que tenham. Quero homenageá-los do jeito que eu melhor sei, com
humor." Um humor que humilha e degrada
a imagem da mulher preta. Talvez se sua avó fosse loura de olhos azuis, esse
personagem nem existiria, pois não teria graça zombar dessa imagem. Esse personagem mostra muito bem o
filme "A hora do show", de Spike Lee, que aborda o mesmo
tema: Os esteriótipos da imagem dos pretos retratados pela mídia. Delacroix, personagem interpretado
por Damon Wayans (sim, o lindo e musculoso
Michael do "Eu, a patroa e as crianças"), é um roteirista
de uma rede de TV, que em protesto decide criar um show com "black
faces". O black face surgiu em meados do século XX nos
EUA, quando pretos não podiam atuar.
Assim como quando deixou de ser velado o fato de cada filme adolescente hollywoodiano ter um "Chosen" o (único) amigo ou amiga negros, que são obrigatorios no elenco para que a produção atinga a cota para pessoas negras... Estes negros não estão lá porque fariam parte de uma real historia, mas somente porque é "preciso" colocá-los
ResponderExcluirApesar de não concordar com muitos dos seus comentários, por achar que são radicais em alguns aspectos é realmente o que tem nos acontecido atualmente, uma máscara foi criada para disfarçar certos preconceitos. E vale ressaltar que muitos de nós tem essa mesma visão de negro e pobre, pois afinal é o que a sociedade nos ensina desde os tempo da escravidão. O que não significa ser verdade.
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