Archive for setembro 2013

O BIG CHOP E A PACIÊNCIA

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por Jaciana Melquiades
Fonte: Google
       Sabemos todos os caminhos pra ter nossos cabelos lindos e saudáveis... mas se fizemos uso de química, todos os caminhos levam ao Big Chop (corte da parte do cabelo que tem procedimentos químicos de alisamento ou relaxamento). Não tem como escapar. Podemos passar pela transição com tranças, protelar ao máximo com twists, escovar (NÃÃÃÃO!), mas o dia do corte chega. Meu processo foi esse: relaxamento, alisamento, corte; relaxamento, alisamento, corte; relaxamento, alisamento, corte. Percebi que se continuasse assim, um dia nem precisaria mais cortar os cabelos (ficaria careca mesmo!)
      Ter os cabelos bem curtos não seria novidade pra mim, já cortei milhares de vezes. Ter os cabelos naturais era um pesadelo (nem refletia muito sobre isso, só repetia que meu cabelo natural era um pesadelo). Comecei com os twists enquanto minha raiz crescia. Até então eu não tinha certeza se deixaria meus cabelos naturais. Então vi pela primeira vez que meus cabelos faziam micro-cachinhos lindos. Comecei a curtir meu cabelo, a textura, a cor. Tinha medo dele ainda, mas já começávamos a ser apresentados pouco a pouco!
Foto: Jaciana Melquiades
       Os twists já não escondiam mais as pontas gigantescamente alisadas e quebradas do meu cabelo. Mergulhei nas tranças. Adorei! Usei por dois meses e a raiz que aparecia me deixava mais feliz! Saudável, cheia, de um jeito que eu nunca tinha visto (e neste momento eu já tinha certeza que não alisaria mais os cabelos). Mas tranças precisam de manutenção, não podem ser usadas por muito tempo, e meus fios, frágeis que são, começaram a reclamar do peso das tranças.
Foto: Jaciana Melquiades
      Tirei as tranças pensando em lavar, hidratar, dar um descanso aos fios e depois trançar de novo. Quando me olhei no espelho, sem tranças, senti necessidade de tirar aquele fios sem vida de cima dos meus cachinhos tão lindos. Cortei sem nem pensar no tamanho que ficaria o cabelo. Apenas cortei e salvei meus cachinhos… esse era o sentimento. Depois do corte, só conseguia pensar que meu cabelo cresceria. Sem quebrar, sem cair, sem choro. Aos poucos fui tocando meus cabelos e descobrindo como ele é, fui aprendendo a pentear e hidratar, percebendo que meu discurso combina mais com meu cabelo natural. Depois do corte, aprendi a ter paciência. Percebi todo o processo de autoconhecimento pelo qual passei, e mesmo pensando que minha liberdade é um sonho realizado, sou paciente quando ouço uma crítica negativa ao meu cabelo: tive o meu tempo e respeito o tempo do outro; sou paciente comigo quando minha autoestima fica abalada, pois sei o quanto estamos intoxicadas e intoxicados pelo racismo que nos diz que não somos bonitas e bonitos. Sou paciente, mas não tolero falta de respeito (percebam a diferença)! 
      Estou aproveitando o processo de crescimento dos meus cabelos, curtindo ele curtinho, sem pensar muito em amanhã ou depois: gosto dele hoje, cheio de micro-cachinhos e curtinho! Minhas fases para inspirar vocês:

Fotos: Jaciana Melquiades

MÍDIA MBP - INSTA MBP

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       Nós amamos novidades e queremos sempre estar em contato com vocês. É pra continuar desse jeito e manter essa relação linda que temos que existe o InstaMBP. Este é nosso lugar de mostrar fotos, marcar as amigas, trazer novas ideias, boas sugestões e tudo mais que posso exaltar nossa beleza e ampliar conhecimentos coletivos. Se vocês são afrodivas e andam por aí exatamente dessa forma, nos marquem em suas fotos (@meninasblackpower). Quem sabe vocês não aparecem em nosso Insta e na página? Mas vocês podem dizer: "Só um momento, MBP. Eu não tenho Instagram e nem pretendo. Isso quer dizer que não posso ver as fotos?!" Nós respondemos: nããããão, todas podem ver as fotos. O endereço de nossa página por lá é: www.instagram.com/meninasblackpower.

       Vocês perceberão que em nosso perfil sempre lançamos desafios pra movimentar a criatividade de todo mundo e trazer mais inspirações pra vida e pros cabelos. Para comemorar o início da primavera, lançamos o "Setembro Florido" na #missaombp. No próximo mês teremos outro desafio e será ótimo ver a participação de vocês! Também está rolando o look do dia que se chama #hjvoumbp. A cada semana vocês poderão acompanhar o look de uma das meninas da equipe e também podem usar essa hashtag pra que todo mundo possa acompanhar o seu lookNos vemos no próximo post! Afrobeijos!






MÍDIA MBP - BLOG MBP

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    Nós, integrantes do Coletivo Meninas Black Power, estamos comemorando uma ano de nosso blog este mês de setembro. Pouco a pouco faremos mudanças para celebrarmos ela festa com vocês. Sabemos que nosso meio primário de comunicação é por meio da página, mas existem assuntos mais complexos que são escritos aqui. Aqui podemos falar sem medo de que a rapidez da informações na linha do tempo atrapalhe a comunicação. 
         Como vocês já devem ter percebido, por aqui também fazemos tudo coletivamente, por esta razão não existe apenas uma menina que assina os posts. Todas somos responsáveis por estes textos e ainda contamos com outras meninas que se interessam e de vez em sempre aparecem para compartilhar conosco diversos pontos de vista, dicas e pensamentos. Não podemos deixar de agradecer aos que colaboram para o sucesso do Blog MBP. Vocês são muito importantes! Gratidão!


      Queridas e queridos leitores, este espaço é nosso! Por esta razão a Promoção Cultural Nossa História no Blog MBP quer saber mais sobre você e mais sobre essa relação incrível construída junto com o Blog MBPNos próximos dias falaremos mais sobre outras redes sociais onde também marcamos presença. Fiquem ligadas e ligados! Afrobeijos.






COISA NOSSA - JOTA C ANGELO

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     A Snug acaba de nascer, mas já vem mostrando que veio pra ficar. A marca foi idealizada pelo artista plástico Jota C Angelo. Ele nos conta que a ideia de criar a marca já estava há bastante tempo em sua mente, porém precisava de tempo para executá-la. Para poder se dedicar mais ao desenho, saiu de seu emprego e abriu juntamente com uma amiga a loja virtual da Snug. Além das camisetas você também pode conferir outros trabalhos do artista. Segue abaixo uma pequena entrevista com o nosso parceiro e amigo Jota.

MBP: A sua autoafirmação te ajuda a criar?
JCA: Meu trabalho sempre foi estético. Ao longo do tempo percebi que tinha que levantar algum tipo de bandeira, defender alguma causa por meio da minha arte. Foi quando comecei a fazer "meninas black power" com cabelo colorido. Elas representam, através das cores, todo tipo de diversidade: racial, cultural, sexual… Até mesmo a diversidade da natureza, já que seus cabelos podem parecer uma flor ou a copa de uma árvore.

MBP: Como associa a imagem da mulher negra ao seu trabalho?
JCA: Acho que essa associação é algo natural. Eu sempre gostei de desenhar mulheres, mas de um tempo pra cá passei a perceber que a mulher negra era pouco representada na arte e de forma contemporânea também. Sempre vejo a mulher negra representada de forma muito folclórica e queria algo mais moderno.

MBP: Seu cabelo é super natural e nós adoramos! Quando decidiu deixá-lo assim? 
JCA: Eu uso cabelo black desde o ensino médio. Nos anos 2000, quando o Marcelo D2 apareceu na mídia novamente (depois do Planet Hemp, em carreira solo). Aquela imagem ficou marcada pra mim, vi nele alguém que representava a imagem que eu queria ter. Criei coragem e deixei o cabelo crescer natural. Quando entrei para faculdade, criei o blog O Último Black Power, que antes se chamava Eu Vou Assim (Homens). Com o tempo e mais consciência afirmativa, mudei o nome do blog.

MBP: Poderia deixar algumas dicas para os meninos que também usam o cabelo natural?
JCA: Mantenha o cabelo sempre hidratado e limpo, além de usar uma toalha que não deixe bolinhas brancas no cabelo na hora de secar. Para não correr o risco de sair por aí com o cabelo cheio de "bolinhas brancas de cobertor". Aprendi lendo algumas coisas na internet e buscando referências em fotos, mas eu não tenho muitos cuidados especiais. Faço o básico para ele ficar sempre limpo, com cachos definidos e brilhoso.

     Abaixo estão mais algumas fotos do editorial (com a presença e cabelo da Ingrid, MBP da equipe Rio) que foi feito para lançamento da marca. Confiram!



      Gostou? Então corre lá pra garantir a sua! Os produtos estão a venda nos sites abaixo:


IDENTIDADE CRESPA

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       Olá, crespas! Hoje falaremos sobre a importância de dissociar a ideia do cabelo crespo de ser mais um acessório fashion ou algo especial para pessoas ligadas às artes, mídias e afins. Afinal, quem nunca ouviu frases como: "Nossa! Como você é estilosa!", "Black power tá na moda, né?", "Você é atriz? Modelo? Cantora?". Diversas vezes algumas meninas já elogiaram meu cabelo e disseram que não são tão "estilosas" quanto eu e por isso não voltam para o natural, mas quando uma mulher com cabelo liso usa natural e não é tão ligada ao estilo, soa mais normal?
      A grande questão é entender que o seu cabelo faz parte de quem você é, então é impossível isso representar apenas um estilo ou uma tendência, pois estas mesmas  passam. Hoje, o cabelo crespo está realmente sendo mais incorporado, no entanto a falta de aceitação do uso do natural ainda é esmagadora, principalmente em ambientes profissionais.  
       Muitas vezes a questão da negação do cabelo crespo está profundamente relacionada com a vergonha de se apresentar diante de uma sociedade que marginaliza o cabelo do negro. A constante omissão do cabelo crespo se apresenta quando é necessário ir à uma entrevista de emprego ou uma festa social, por exemplo.
    Vamos entender o símbolo do cabelo crespo em outras culturas. Com a palavra, Fabíola , coordenadora do Grupo de Trabalho Histórico-político do coletivo Meninas Black Power e também idealizadora da grife Colares D’Odarah: "Em termos culturais, trazemos dois dados - dentre os infinitos aspectos dos simbolismos culturais africanos - que entendemos como relevantes para o entendimento da vergonha dos cabelos crespos: primeiro, em África, quando um guerreiro era abatido por seu opositor, recebia como punição, dentre tantas, o corte de seus cabelos, uma vez que essa atitude era a pior humilhação que poderia ser passada por um homem. Nos cabelos se concentrava todo um caráter simbólico, como, por exemplo, se identificava pelos tipos de cabelos e penteados o papel social que aquele homem desempenhava - se era militar/guerreiro, se era nobre, se era burocrata. Os cabelos, penteados com tranças, denunciavam qual 'classe social' aquele homem pertencia. Quando seus cabelos eram arrancados, esse homem perdia a identidade, por isso tamanha a  humilhação. Também nas religiões de matriz africana, para o sujeito passar pelo ritual de iniciação, ele precisa ter sua cabeça raspada, ou seja, seus cabelos cortados, como sinal de reverência total às divindades. O cabelo é ofertado como presente por ser a parte do corpo mais valiosa e sensível de uma pessoa; aquela que capta todas as energias do ambiente. Percebem a importância dos nossos cabelos? Por isso ressignificaram negativamente essas noções culturais e continuam nos humilhando, fazendo com que nossos homens pretos raspem a cabeça em sinal de higiene e respeitabilidade, que nossas mulheres pretas alisem a 'vergonha' do volume. Nos humilham diariamente. Vamos engrossar uma campanha em favor da valorização do uso dos nossos cabelos crespos não só pelo ponto de vista estético, mas pelo político-ideológico. Essa valorização da nossa ancestralidade real e majestosa é a cara das Meninas Black Power que, para além da estética, lutam pela emancipação política do povo preto. Tornemos esse movimento legítimo através de nossa adesão. Estejamos juntas, nós por nós!"
       Compreender que o seu crespo está intimamente ligado à sua identidade negra faz com que você consiga ter segurança e convicção. Assim, quando a tendência acabar, você continuará firme no seu posicionamento em relação ao uso do cabelo crespo. Perguntei para algumas crespas como se relacionam com o estilo e o crespo:



"... Dizem que cabelo é a moldura do rosto. Para mim vai muito mais além: é minha identidade, minha marca registrada. Nossa, foi a melhor coisa que fiz me reassumir! Hoje eu me acho linda de qualquer jeito, com qualquer roupa por mais simples que ela seja." - Letícia Martins, estagiária de Marketing, blogueira no Preta Pretinha Blog


"Meu cabelo é a minha identidade. A partir do momento em que assumi o meu cabelo crespo e passei a amá-lo do jeito que ele realmente é, descobri o meu verdadeiro eu. A vontade de zelar, enfeitar, e fazer diversos penteados surge naturalmente, pois trata-se de um cabelo de 1001 possibilidades: o que na maioria das vezes é visto apenas como estilo. Engana-se quem tem esse pensamento, pois creio que o cabelo crespo vai muito além disso, antes de tudo significa: liberdade, força e luta.” - Loana Novaes, integrante do coletivo Meninas Black Power, 
mãe e dona de casa

“É com tristeza e pesar que escrevo este pequeno depoimento. Não, não... Ninguém da minha família morreu. Porém, uma parte de mim vem 'sendo morta' a cada dia... Sou estudante de economia. E a minha futura profissão exige - digamos assim - um visual mais 'formal'. Um cabelo mais 'asseado', mais 'clean'. É com esse tipo de comentário que preciso me deparar todos os dias. As pessoas não avaliam minha competência, meu currículo, mas sim a minha aparência. Ainda assim, com todas as dificuldades, vou manter a minha posição para que mais crespas, economistas ou não, possam ter a liberdade de usar seus cabelos como quiserem, sem que sejam 'zoadas' ou discriminadas.”  - Ingrid da Matta, integrante do coletivo Menina Black Power e estudante de economia

      Assim como as meninas, conte sua história para nós, compartilhe as dificuldades e ajude outras crespas. Lembre-se: crespo não é só estilo, crespo é identidade.

MBP TESTOU - SEDA KERAFORCE ORIGINAL PARA CRESPOS NATURAIS

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por Loana Novaes
    Como todas já sabem, a  Seda Cocriações lançou  novamente a linha Keraforce, mas agora com duas novidades: Keraforce Original Crespos Naturais e Keraforce Crespos com Química. As novas fórmulas contém queratina e óleo de argan, que prometem a revitalização, hidratação e brilho, tanto para os cabelos naturais, quanto para os cabelos quimicamente tratados. Amei o lançamento e resolvi testar no meu cabelo que é do tipo 3c/4a. Estávamos realmente carentes de produtos acessíveis, próprios para os nossos crespinhos, não é? Numa ida ao supermercado encontrei a linha para cabelos naturais e comprei todos os produtos. Inicialmente testei  o creme de tratamento (400g), que custou em torno de 7.00 reais* e o creme para pentear/leave in, (300ml) 5.99 reais*.
      Após lavar os cabelos com meu shampoo de costume (Phytoervas Cacheados Noni e Bambu, sem sal), apliquei  o creme de tratamento, mecha por mecha e deixei agir por  5 minutos em touca de alumínio. A consistência é firme, porém  aquosa, e o cheiro é "ok" (é agradável, mas, infelizmente, não tão bom quanto o cheiro do Seda Cachos, que eu particularmente amo!). Ao enxaguar, notei que os cabelos ficaram macios e com brilho, ponto positivo. Usei o condicionador Pantene Cachos em seguida e para finalizar o creme de pentear Keraforce crespos naturais, que tem textura leve e é pouco concentrado. Apliquei quantidades generosas em todo o cabelo, pois esse negócio de usar o equivalente a uma moeda de cinquenta centavos não rola pra mim, e pra vocês? [risos]

    Preciso confessar que não curti muito no início, com os cabelos ainda úmidos, porque o cabelo ficou um pouco pesado/sem volume. Aproveitei que estava um dia lindo de sol e deixei secar naturalmente. E, pra minha surpresa, amei o resultado quando seco. Deixou o cabelo com muito brilho, hidratado, leve, definido e o "day after"  foi incrível, não precisei fazer nada além de desamassá-los com as mãos pela manhã.
      Alguma crespa já testou? O que vocês acharam? Conta pra gente aqui nos comentários!

* Preço de São Paulo

ESCREVEDORAS DE NÓS!

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       Fico cá pensando sobre nossos receios em relação à leitura e à escrita... Eu poderia tecer milhões de teorias libertárias, falar do papel negligente da escola em nossa formação crítica, etc. Mas vou falar desse bloqueio através do olhar sensível. A escrita é, naturalmente, um reflexo da oralidade. Nós, enquanto mulheres negras descendentes de africanas e africanos, vivemos a experiência da fala no nosso DNA. Nossa ancestralidade nos faz contadoras e contadores de estórias. Então, por que não nos vemos na posição de contadoras da história?! Da nossa história?!

    Reafirmando que a escrita é reflexo da fala, penso que nossa dificuldade em produzir textos vem do silêncio que o racismo nos impôs. Nossa fala foi calada com a mesma violência que os corpos de nossos ancestrais escravizados foram agredidos e feridos. O silêncio era a garantia da sobrevivência, afinal "se gritar, apanha mais!".
     Sendo assim, essa escrita, até rasgar a fronteira que existe entre a tinta e o papel, se esconde. Essa escrita demora a chegar. Essa escrita ainda se cala diante do receio. Essa escrita ainda não veio...
      Enquanto mulheres pretas, já temos textos internos capazes de alimentar blogues e páginas por mais de 500 anos, com postagens diárias! Enquanto mulheres pretas na construção do empoderamento, temos a capacidade de compartilhar nossos pensamentos de forma orgânica e humanizada.
    Não se sintam constrangidas: vamos nos compartilhar e nos ensinar e nos aprender! O Grupo de Trabalho Histórico e Político do Coletivo Meninas Black Power não é o Grupo de Trabalho mais acadêmico, como pode às vezes parecer por conta do imponente nome! Ele é - e deve ser! - o Grupo de Trabalho que cumpre a função de contar nossa própria história por nós mesmas!
    Por isto convido à todas que usem as letras, as palavras, frases e textos como arma contra os nossos cativeiros particulares. Que cada fonema escrito quebre um elo dessa corrente invisível que nos prende e machuca diariamente. Que nossa escrita surja e insurja! Que possamos contaminar mais mulheres pretas com nossa força e amor. Escrevam-se! Beijos carinhosos de Fabíola Oliveira, coordenadora do GT HEP e escrevedora de mim.


CRESPAS PLUS SIZE - PARTE 3

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza
Foto: Collective for us all
      Para encerrar este especial, vamos acompanhar uma entrevista e o depoimento de mais uma linda crespas plus size. Hoje é a vez de Gisella Francisca, blogueira, autora do blog Collective for us all, e Thays.

MBP - Como você começou com o Collective for us all??
Gisella Francisca - O blog começou como uma extensão virtual dos meus sketch books, mas bem menos autoral. Era como uma coleção de imagens e outros tipos de conteúdo que eu achava na internet e queria compartilhar ou reunir num só lugar. Depois eu fui incluindo conteúdo próprio, como meus textos e reflexões, por exemplo. Depois vieram as fotos próprias. Quando comecei a namorar meu atual namorado, eu passei a levar fotografia mais a sério, a investir em equipamento e workshops profissionais e a coisa foi evoluindo e meu blog foi virando o meu canal de lifestyle com bastante conteúdo de estilo e beleza – que são dois assuntos que estão amplamente presentes na minha rotina.  

MBP - Sempre gostou de moda? Quando seu interesse surgiu? 
GF - Eu sempre gostei de estilo, não necessariamente de moda. Desde criança sempre fui chegada a me vestir bem. Acredito que por influência da minha avó, mãe e das minhas tias. Uma delas morava na Europa e todas as vezes que vinha trazia uma novidade pra eu me inspirar. Eram os anos 80, então tinha bastante novidade chegando aqui no Brasil. Eu era novinha pra assimilar aquilo como tendência, mas fazia a minha leitura e escolhia as minhas peças. Fazia minhas próprias combinações, sob supervisão, claro. Mas o fato de sempre ter sido livre pra me vestir como queria e de ter influências dentro de casa contribuíram pra que eu desenvolvesse a consciência do estilo, por assim dizer. E sim, eu gosto de moda, claro. Mas estilo é bem mais a minha praia. Há algumas semanas li uma entrevista do estilista Erdem na revista AnOther e a frase resumia exatamente o que eu penso sobre moda e estilo: Moda é algo projetado, criado, imaginado. Estilo é instintivo. Ponto! 

MBP - De onde surgem e quais são as suas influências de moda? 
GF - Não me considero uma pessoa exatamente influenciada "pelas modas". Até porque tenho muito de cultura vintage no meu estilo. Se fosse influência de moda, eu estaria meio last season [risos]. Mas claro que tenho a minha interpretação das páginas da Vogue do mês, por exemplo. Minhas influências são uma coleção de experiências que já tive na vida, lugares que fui, coisas que vi, senti. Mas, ao colocar isso tudo em prática, na forma como me visto, é o que eu chamo de estilo. Essas minhas experiências somadas ao meu gosto pessoal criam a minha leitura do que vejo nas ruas, vitrines, blogs e revistas. Meu jeito de me vestir diz muito sobre mim. Gosto de mixes coloridos, divertidos, mas elegantes e comportados sem serem puritanos ou chatos.   O estilo da Miroslava Duma me agrada muito. Tenho prazer em ver as fotos de street style dela. A Iben, do Despite Color também é uma das minhas preferidas, assim como a Blair Eadie do Atlantic Pacific. A StyleDevil, Marianne Teodorsen, da Noruega é muito diferente e inspiração também. As suecas Sandra Beijer e a Elsa Bilgren também. A Nadia Aboulhosn é um colírio pros olhos de quem gosta de estilo com certeza. São os principais blogs que eu visito quase diariamente. 


MBP - Sempre esteve segura com seu corpo e seus cabelos ou já quis ser diferente? 
GF - Nem sempre, obviamente. Hoje em dia eu me conheço melhor, sei mais sobre mim, o meu valor e o meu caminho na vida. Essas coisas me fazem mais segura do que há alguns anos. Mas claro que todo mundo tem seus dias nublados, isso é normal. Mas, em geral, posso dizer que quase sempre estive segura com a minha imagem. Mas isso passa por muitas coisas além do espelho. Coisas às quais somos expostos desde pequenos influenciam muito nossas ideias acerca de valorização pessoal. Eu sempre gostei de comer bem e minha quantidade de exercícios nunca foi maior do que a quantidade de coisas gostosas que eu comia, por isso, magra eu não seria. Minha família é de pessoas mais carnudas, as mulheres são encorpadas e de cabelo natural, acredito que isso ajude muito. Claro que já quis acordar igual a Beyoncè, mas ter umas dezeninhas de quilos a mais nunca me matou de tristeza. Posso dizer que tenho a cabeça bem no ligar em relação à minha imagem. Olho no espelho e a sensação sempre foi boa.

MBP - Já sofreu algum tipo de preconceito? 
GF - Se já sofri eu não entendi ou não assimilei como preconceito por isso não me lembro. Já tiveram situações em que, se eu fosse ativista, diria que era preconceito, mas nunca foi nada explícito que merecesse minha atenção e/ou reação nesse sentido. 

MBP - O que você acha de no mundo da moda haver poucas modelos negras plus size?  
GF - Falta de contato com a realidade. Pouca exploração de nicho de mercado, erro de branding e uma pena, em geral.  Não sou muito ligada nas celebridades de TV, mas, o número de negras na Caras reflete a realidade? Acho que não e o Brasil está longe disso, eu acho.


MBP - Acha que é possível se vestir bem tendo pouca grana? 
GF - Claro. O parcelamento ajuda muito, né [risos]? Mas, brincadeiras à parte, é sim. Ter bom senso, estilo e consciência do que fica bem em você e do que é adequado a determinadas situações faz a vida muito mais fácil, eu acho. 
MBP - Qual a importância de assumir o cabelo crespo? 
GF - A mesma importância de assumir um cabelo liso. O que quero dizer é que é mais uma questão de aceitação própria do que do formato do cabelo. Essa é uma discussão enorme, evidentemente. Mas, quando eu faço apologia ao cabelo natural e aceitação do corpo, é visando atingir uma mulher que tem qualquer problema de autoestima relacionado às imagens e ideias deturpadas de beleza que temos em larga escala no Brasil e no mundo. Minha ideia vai mais em direção ao amor próprio em geral do que ao cabelo crespo em si. 

MBP - Qual a sua mensagem para nossas meninas sobre ser negra, crespa e plus size? 
GF - A minha mensagem é de amor e aceitação pessoal pra qualquer mulher e não pra um grupo apenas. Eu sou a Gisella Francisca, uma mulher com diversas características. Ser negra, crespa e vestir tamanhos considerados maiores são apenas três delas. Isso significa que ficar levantando bandeira de um grupo pode ser bom, não julgo isso. Mas a minha bandeira é a do amor próprio, respeito a si e aceitação do que é natural em você - isso vai além de cor da pele, textura do cabelo ou tamanho da roupa. 


Abaixo um depoimento de Thays:



"Desde que me entendo por gente, escuto as pessoas falarem no tal 'padrão de beleza'. Isso só foi criado pra que a baixinha, a gordinha ou a “pretinha do cabelo ruim” (porque é assim que sempre dizem) se olharem no espelho e se sentirem como o patinho feio. E isso é ridículo! Cada um é e pode ser do jeito que bem entender!  Sempre fui gordinha e (quando me importava com opiniões alheias) sofria muito com o preconceito. Foi um longo caminho até fazer com que as pessoas aceitassem e respeitassem minha escolha de ser como sou.  Hoje, o plus size está em alta, vemos muitos sites, blogs e noticias mostrando mulheres despreocupadas com seu manequim e sem medo de mostrar suas curvas, mulheres que se aceitam e se amam acima de tudo, e fico muito contente quando vejo isso! Ver mulheres que, assim como eu, viviam escondidas, com medo de possíveis julgamentos, lutando pra acabar com esse preconceito bobo e para mostrar que, mesmo dentro de um manequim 46, também pode ser uma mulher linda e desejada, é um motivo de orgulho pra todas nós!  Mas a luta não para aqui!...Dentro desse mundo Plus size vemos mulheres lindas, modelos desfilando suas curvas em passarelas, ensaios fotográficos, catálogos e mais catálogos. Mas e as plus sizes negras? Onde estão? Pode parecer mania de perseguição, mas não é!  Sejamos sinceros, o preconceito com os negros sempre existiu e, infelizmente, sempre vai existir. E, lamentavelmente não fugimos disso nem no mundo plus size. É um preconceito maquiado, dentro de um ambiente onde a ideia principal é acabar com a polêmica que envolve as mulheres plus sizes. Gente, não to dizendo que temos que nos fazer de vitimas. Muito pelo contrario!  Como Plus Sizes já quebramos o tabu de que mulheres acima do peso não têm lugar na sociedade, agora é a vez de mostrar que a Plus Size negra também pode estampar a capa de uma revista, ou fazer ensaios fotográficos maravilhosos como todas as outras! Se a mulher, por ter a pele negra sofre muito preconceito e a mulher gorda também sofre o mesmo ou mais, eu sendo negra e gorda sofro em dobro, e por isso vejo dois motivos a mais para lutar contra isso! Não é meu tom de pele, nem meu manequim que irão determinar se sou linda ou não, mas sim a maneira com que me sinto e me vejo: negra, gorda e linda!"