Fico cá pensando sobre
nossos receios em relação à leitura e à escrita... Eu poderia tecer milhões de teorias libertárias, falar do
papel negligente da escola em nossa formação crítica, etc. Mas vou falar desse bloqueio através do olhar sensível. A escrita é, naturalmente, um reflexo da oralidade. Nós, enquanto mulheres negras descendentes de africanas e
africanos, vivemos a experiência
da fala no nosso DNA. Nossa ancestralidade nos faz
contadoras e contadores de estórias. Então, por que não nos vemos na posição de
contadoras da história?! Da nossa história?!
Reafirmando que a escrita é reflexo da fala, penso que nossa dificuldade em
produzir textos vem do silêncio que o racismo nos impôs. Nossa fala foi calada com a mesma violência que os corpos de
nossos ancestrais escravizados foram agredidos e feridos. O silêncio era a
garantia da sobrevivência, afinal "se gritar,
apanha mais!".
Sendo assim, essa escrita, até rasgar a fronteira que existe entre a tinta e o
papel, se esconde. Essa escrita demora a chegar. Essa escrita ainda se cala
diante do receio. Essa escrita ainda não veio...
Enquanto mulheres pretas, já temos textos internos capazes de alimentar blogues
e páginas por mais de 500 anos, com postagens diárias!
Enquanto mulheres pretas na construção do empoderamento, temos a capacidade de
compartilhar nossos pensamentos de forma orgânica e humanizada.
Não se sintam constrangidas: vamos nos compartilhar e nos ensinar e nos aprender! O Grupo de Trabalho Histórico e Político do Coletivo Meninas Black Power não é o Grupo de Trabalho mais
acadêmico, como pode às vezes parecer por conta do imponente nome! Ele é - e deve ser! - o Grupo de Trabalho que cumpre a função de contar nossa própria história por nós
mesmas!
Por isto convido à todas que usem as letras, as palavras, frases e textos como
arma contra os nossos cativeiros particulares. Que cada fonema escrito quebre
um elo dessa corrente invisível que nos prende e machuca diariamente. Que nossa
escrita surja e insurja! Que possamos contaminar mais mulheres pretas com nossa
força e amor. Escrevam-se! Beijos carinhosos de Fabíola Oliveira, coordenadora do GT HEP e escrevedora de mim.
Eu amei, e concordo com cada ponto do texto! Uma voz calada, e um ser humano que sofre!
ResponderExcluirOlá, Cristiane!
ExcluirQue bom poder compartilhar ideias e sentimentos.
Que nossa escrita possa nos libertar da dor que é não poder se expressar.
Grande abraço,
Fabíola.
Olá, meninas!
ResponderExcluirComecei a pensar em escrever quando conheci o Blogueiras Negras que é um espaço rico e diverso onde discute negritude, feminismo, racismo etc.
Não sou uma menina tímida, mas não consigo lidar com a exposição que é escrever por mais que seja para contribuir com nossa irmandade tenho que trabalhar melhor essa questão antes de publicar um texto mesmo assim fico muito feliz em saber que aqui é um espaço aberto.
Maria Fernanda... Este é uma espaço aberto, sim. E como a Fabíola bem disse, aprendemos a não falar dessas questões. Isso é um exercício diário. Pouco a pouco, sem pressa, aprendemos a dizer tudo que precisa ser dito!
ExcluirQuando você chegar ao ponto de fazer um texto sobre isso, não tema, publique!!
Estamos aqui para o que precisar, beijos crespos!