Uma vez me disseram que
eu estava linda de turbante e que, no passado turbantes eram símbolos de status
da Realeza. Não averiguei o fato, só aceitei que eu estava linda como rainha.
Recentemente, procurando formas de amarrar um turbante, pude ver inúmeros
vídeos com meninas muito diversas que se dispuseram a ensinar a arte de usar um
belo e suntuoso torço. Meninas que talvez nem saibam que estejam diariamente
reproduzindo um hábito bastante antigo da Realeza da qual descendemos. Não falo
da Realeza europeia, narrada em incontáveis livros de história, mas de uma que
mal conseguimos achar registros.
Achei imagens de várias
mulheres lindas, de épocas distintas, com seus turbantes e colares, coloridos,
hoje usados livremente sem nos darmos conta de que já foram proibidos um dia.
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, aqui mesmo no Rio de Janeiro, mulheres
negras, muitas quitandeiras e comerciantes influentes, não podiam ostentar sua
riqueza pelas ruas da cidade. Foram proibidas por decreto Real de usar suas
joias e alguns tecidos considerados finos e elegantes*.
Tinham sua beleza e
opulência castradas para que pessoas do mesmo grupo social, porém brancas, não
se sentissem perdendo seus privilégios de ostentação do luxo. Alguns textos
falam sobre essa proibição e aprofundam esta questão, mas só de saber desse
decreto, imagino quantas barreiras essas mulheres tiveram que derrubar. Pensar
hoje na valorização do cabelo crespo pode parecer absurdo e sem propósito para
alguns grupos, mas voltando um pouquinho ao século XIX, veremos que homens
recém-libertos tiveram que garantir o direito ao uso de sapatos, de joias;
tiveram que garantir o direito de enriquecer e se igualar a qualquer outro
homem na aquisição de bens que lhes conferissem distinção. E conseguir
distinção para uma pessoa com marcas ainda recentes da escravidão era, nada
menos, que ser igual a qualquer homem nascido livre e respeitado como cidadão.
Valorizar meu crespo me
parece estar nesta onda de lutas cotidianas que não são recentes, mas que se
conseguirmos vencer, deixaremos um legado para as gerações futuras. E são lutas
travadas diariamente nos elevadores, nas lojas, na procura por emprego, no
combate à piada. Hoje podemos adornar nossa beleza com turbantes coloridos,
crespos bem cuidados e admirados – mesmo que silenciosamente. Mas precisamos
sair do lugar do exótico, do diferente. Temos que desconstruir a ideia de que
nosso cabelo é somente questão de estilo. A natureza do cabelo crespo é crescer
cheio, solto, pra todos os lados. Somos
sim exuberantes, não exóticas! Exótico, por definição, é o outro, o que vem de
fora, o estrangeiro.
Gosto de pensar que
quando uso um turbante resgato essa Realeza. É bom saber que hoje podemos ser
exuberantes. Sejamos então coloridas, exuberantes e Realeza. Seja Rainha! Seja
linda como uma Rainha! O vídeo abaixo ensina a fazer um turbante bem bacana e
vocês verão que a menina que ensina é da Realeza!
*Para saber sobre o assunto:
LARA, Silvia H. Sob o signo da cor: trajes
femininos e relações raciais nas cidades do Salvadore do Rio de Janeiro, ca.1750-1815. Disponível
em: http://www.unicamp.br/cecult.silvial.rtf
Soares,
Carlos Eugênio Líban; Gomes, Flávio dos Santos. “Dizem as Quitandeiras...”:
Ocupações urbanas e
identidades étnicas em uma cidade escravista: Rio de Janeiro, século XIX.
Disponível em : http://revistaacervo.an.gov.br/seer/index.php/info/article/view/241
A moda vai muito além da beleza...
ResponderExcluirAchar bonito não é o bastante muito menos
assegura ficar bem em determinadas roupas e acessórios.É importante que saibamos a história e através das vestimentas podemos transmitir uma mensagem visual,sendo esta positiva... PARABÉNS!Pode-se afirmar ESTILOSA.Sempre fui apaixonada por moda e acreditem a beleza de toda peça está em torno de sua história.Adoro turbantes e todas as raízes AFRICANAS!!