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UM JORNAL PRA CHAMAR DE NOSSO – MBP ENTREVISTA ETIENE MARTINS

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por Élida Aquino

Ilustração: Jornal Afronta
    Vocês já sabem e soa como um mantra por aqui, mas vou escrever novamente: representação é importante. Entre tantos casos diários, conhecidos ou não, de racismo e suas variações, tantas dores que o cotidiano ainda causa aos corpos pretos que circulam pelo mundo, meu coração vibra e se fortalece quando vejo mais e mais casos de resistência doce, posicionada com criatividade, produzindo conteúdo que nos une enquanto comunidade, que mostra nossas potencialidades e proporciona a visão do lado bom (que, com fé, um dia vai superar todos os outros lados da história) de sermos nós. Foi essa a sensação de conhecer o Jornal Afronta, surgindo diretamente de Minas Gerais. O lançamento aconteceu no último dia oito de Julho, na Casa Una de Cultura em Belo Horizonte. A seguir vocês conferem a conversa que tive com Etiene Martins, idealizadora do Afronta e uma jornalista que representa. Entendam melhor quem ela é, o que é o jornal e apaixonem-se por esse espaço que é todo nosso!
Vick, Etiene e Dandara no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Começa contando pra nós quem é você, de onde vem, sua formação e etc.
Etiene Martins - Eu sou graduada em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda. Iniciei minha carreira como repórter da Revista Raça Brasil em 2010, quando eu ainda cursava o terceiro período de jornalismo, posteriormente fui convidada para ser assessora de comunicação do Festival de Arte Negra que é realizado em Belo Horizonte. Sempre aliei as minhas duas paixões: o jornalismo e a cultura negra.

MBP - Como é a história do seu cabelo? Ele influenciou de alguma forma na construção do Jornal Afronta?
EM - No meu processo de politização e de me "tornar negra", eu também redescobrir a minha estética afrodescendente e depois de 25 anos alisando o cabelo, no mês da primeira edição do Jornal Afronta, comemoro meu primeiro ano de adeus à química. Esse processo foi crucial na construção desse trabalho, pois a autoestima negra faz parte da linha editorial do jornal. A nossa verdadeira beleza com o nosso verdadeiro cabelo.
A transição - Fotos: Acervo pessoal
MBP - Como surgiu a ideia de criar um jornal como o Afronta?
EM - Diante da falta de espaço para os nossos assuntos, demandas e culturas na mídia convencional, tive que recorrer a uma ideia que surgiu no Brasil em 1915, que é a Imprensa Negra, e através dessa imprensa dar voz mais uma vez ao povo negro. 

MBP - Por quanto tempo o jornal foi planejado até que estivesse em circulação?
EM - Desde de 2012 venho pensando e elaborando esse projeto, mas só agora conseguimos colocar o Afronta na rua.

MBP - Ao acessar a página do jornal vemos que a definição da ideia é "jornalismo étnico racial". O que isso quer dizer?
EM - Um jornalismo com a nossa cara, linda, preta, crespa e cheia de autenticidade.

MBP - Como funciona a equipe que trabalha na criação do jornal? 
EM - Trabalhamos com consciência e amor às nossas raízes e ao nosso povo. A equipe é pequena, mas bem articulada. Conta com um fotógrafo, uma revisora, um diretor de arte e uma jornalista. 
Galera reunida no lançamento do Jornal Afronta - Foto: Jornal Afronta
MBP - Sabemos bem a relação entre mídia e racismo. Como você enxerga que publicações afirmativas, como o Afronta, por exemplo, podem provocar o efeito contrário? Como podem promover o efeito de educar para a igualde e também fortalecer a comunidade negra, fazendo com que ocupe espaço de destaque?
EM - O Jornal Afronta veio para reforçar as nossas lutas por uma mídia livre, independente, anti-burguesa, anti-capitalista e bem demarcada ao lado do povo negro brasileiro. Uma imprensa de combate que evidencie sim que nosso povo negro brasileiro existe e tem uma cultura, tradição e beleza valiosa,  mesmo que tentem nos negar isso. 

MBP - E de que forma você entende que o jornal pode empoderar a população negra, especialmente mulheres negras? 
EM - A mulher negra sempre leu revistas sem se ver retratada nelas, sem estampar as capas, sempre sendo menosprezadas e invisibilizadas. O Afronta veio suprir essa demanda que as outras mídias não cobrem. O Afronta empodera sem se render aos estereótipos tão comuns propagados pela mídia branca brasileira colocando nossas mulheres nas capas, ocupando um espaço que também é nosso por direito . 

MBP - Quais pautas você considera mais relevantes entre os assuntos que permeiam a comunidade negra no Brasil e no mundo atualmente? 
EM - Nossa, são tantas! Mas a inserção no mundo acadêmico e profissional é de extrema importância, assim como o direito às práticas religiosas sem censura. O genocídio do jovem nem se fala. O poder ser negra por dentro e por fora, na pele e no cabelo e ser respeitada em todos os lugares. 
Muito #crespoamor e Jornal Afronta na Feira Ébano - Foto: Jornal Afronta
MBP - Concordamos! Agora vamos falar do lançamento. Como a primeira edição foi recebida? Quais assuntos ela abordou? 
EM - Foi recebida com muita festa, alegria e entusiasmo, afinal nosso povo encontra-se ansioso por um espaço digno na mídia. A primeira edição foi permeada por nossa beleza, falando de um evento que reuniu centenas de pessoas para celebrar a beleza do cabelo crespo em BH. Falamos também da tradição dos turbantes. O entrevistado dessa edição foi o doutor e escritor negro Edimilson Pereira de Almeida e o colunista convidado foi o carioca Ras Adauto, que vive em Berlim há mais de uma década. A matéria de capa ficou por conta da Marchas das Mulheres Negras que mobilizou mulheres do Estado de Minas inteiro e levou todas para a rua, exigindo seus direitos. 

MBP - O que podemos esperar das próximas edições? 
EM - Assuntos que comuniquem o cotidiano do povo negro brasileiro na cultura, política, beleza, educação. Pretendo falar de tudo um pouco. 

MBP - Em que locais o jornal está disponível? Pretendem abranger outros Estados? Quais e quando? 
EM - Atualmente o jornal está disponível em galerias de artes, botecos, salões de beleza, rodas de samba, universidades, feiras e eventos em que o nosso povo circula na grande BH. Na próxima edição pretendemos atingir os Estados de Rio de Janeiro e São Paulo e pouco a pouco ocupar nosso país.

É isso, Meninas. Que ideia genial, né?! 
Não deixem de curtir a página do Jornal Afronta aqui e acompanhem todas 
as novidades que virão. Beijos!

DICAS DE PRODUTOS PARA OS NOSSOS CRESPINHOS

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por Grupo de Trabalho Moda e Beleza
Foto: Lulu e Lili Acessórios | Modelo: Elis Cantanhede

     Quando eu era pequena, lembro muito bem da dificuldade da minha mãe em conseguir produtos para o meu cabelo. Naquela época, meados dos anos 80, o mercado não tinha interesse em cabelos crespos. Você tinha poucas opções e algumas delas eram: cortar Joãozinho, alisar (pente quente, henê) ou deixar preso. Bom, a minha mãe escolheu deixar Joãozinho. Eu me lembro até hoje o constrangimento de ser confundida com um menino. Mas hoje os tempos mudaram e temos muita coisa boa e baratinha para as nossas crianças. Aqui vão algumas dicas dos mais vendidos no Brasil:


Johnson’s Crescidinhos, Cabelos Cacheados:

   Para completar o tratamento para os cabelos cacheados da criança que está crescendo, o condicionador contém agentes hidratantes que cuidam dos cachinhos, deixando-os macios, fáceis de pentear e sob controle. A fórmula é consistente, não escorrega das mãos, é fácil de espalhar e enxaguar e evita desperdícios. Com a fórmula "Chega de Nós", o produto facilita na hora de pentear. Possui também a exclusiva fórmula "Chega de Lágrimas", clinicamente testada para não irritar os olhos dos crescidinhos. Indicação: 2 anos.


Philasia, Trá Lá Lá Kids, Redutor de Volume:

   Xampu, condicionador e creme para pentear com fragrância frutada que auxilia no tratamento diário dos cabelos reduzindo o volume e definindo os cachos. Preços sugeridos: R$ 5,40, R$ 6,40, R$ 4,00.




Avora Kids, Cacheados:

   Para crianças de 3 a 10 anos, possui formulação suave com Complexo de Cereais, que hidratam e protegem os fios e proteínas derivadas do leite para nutrir e desembaraçar, deixando os cachinhos definidos e fáceis de pentear. Preço sugerido: R$9,50 (200ml).



Acqua Kids Frutas, Nazca:

    Com cheirinho de mamão Papaya e fórmula biodegradável, para cacheados. A empresa também lançou recentemente a linha Naturals Erva doce com hortelã ou mel e girassol, ambos com ativos orgânicos. Preços sugeridos: R$ 5,80 o xampu e R$ 6,10 o condicionador.

Naturé Tóin óin óin, Natura: 

    "É uma homenagem de Natura Naturé às molinhas do cabelo. Podem ser molinhas pequenininhas, maiorzinhas ou bem grandinhas. Tóin óin óin é um shampoo que limpa todas elas com suavidade, deixando os fios muito macios". Preço sugerido: R$14,00.



Turma da Xuxinha, Xampu:

     Dermatologicamente testado. Controla o volume. Foi elaborado com  ingredientes suaves e hidratantes que proporcionam uma limpeza eficiente e ajudam a controlar o volume dos cachinhos. Deixa os cabelos cheirosos, macios e com um ondulado natural. R$ 4,00


    Lembrando que o uso frequente de gel não é aconselhado porque pode ressecar os fios. Os fios cacheados já têm uma forte tendência ao ressecamento, o que pode piorar com o uso frequente de gel. O ideal é usar um leave in específico para cabelos cacheados. Esse produto ajuda na definição dos cachos. E nada mais barato e fácil que o nosso bom e famoso gel de linhaça.

Fontes: 

O CRESPO TEM PODER?

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"Eu vou mudar o mundo."
   Sempre penso na melhor forma de falar sobre um assunto sem polemizar, atacar ou ofender quem quer que seja. Mas não é raro ver sites, blogs e páginas do Facebook que, por ignorância ou má fé, ofendem generalizadamente qualquer leitor minimamente crítico. O que eu penso sobre qualquer coisa não pode ser ofensivo, e se for, preciso rever meu pensamento, pois do contrário, qualquer diálogo fica inviabilizado. Mas deixe-me ir ao meu assunto de uma vez: O cabelão crespo, cheio, pra cima, é poderoso? É lindo? Para ostentá-lo e exibi-lo com orgulho, é preciso conseguir ver a história que ele carrega, e mais, a História que ele representa.
  Falar dele (do cabelão!) acaba nos levando a assuntos que são obrigatoriamente polêmicos. Cabelo crespo faz pensar em negritude, que faz pensar em racismo, que faz pensar em ações afirmativas, cotas... um assunto puxa o outro, não necessariamente nesta ordem, mas todos acabam surgindo e precisam ser debatidos. Mas precisamos fazê-lo com propriedade, lendo sobre os assuntos, pensando coletivo. Não podemos pensar que nossa opinião, baseada apenas na nossa experiência individual, é capaz de dar conta de assuntos tão complexos. Temos que agregar o pensamento do outro, sair da zona de conforto e nos colocar no lugar do outro.
   Não é novidade que a população pobre é em sua maioria negra, e que podemos atribuir esse fato à escravidão. Mas onde muitos veem derrota, eu vejo poder, vejo luta. Quando nossa querida princesa Isabel assinou a lei Áurea, não o fez por bondade ou caridade como insistem em narrar, mas por pressão. 95% dos descendentes de africanos já eram livres na Corte Imperial, e conseguiram tal liberdade negociando, fugindo, comprando, trabalhando, se agrupando. Foi coletivamente, mesmo que talvez não houvesse a consciência do coletivo[1]. A visibilidade que a Corte Imperial tinha pra o restante do país fez parecer impertinente que a escravidão fosse uma instituição ainda. Assinar a lei Áurea foi uma tentativa desesperada de tentar fazer parecer que a monarquia estava também se modernizando, mas moderno e monarquia definitivamente não combinam. Claro que outros fatores colaboraram com a abolição da escravidão, mas estudando bem o movimento de libertação do negro, vemos intelectuais teorizando, pensando nas melhores formas de encaminhar a libertação dos escravizados, mas vemos pessoas comuns vivendo suas vidas e construindo suas liberdades individuais, e interferindo na forma como eram vistas, e garantindo/reivindicando (a duras penas) para si o direito de cidadãos. O desejo de liberdade que vira realidade para uma pessoa, confere poder a outras: ver que é possível, transforma. O processo ainda não está finalizado, mesmo depois de tanto tempo, mas é importante que não pare.
   Pessoas simples que conheceram a escravidão, tiveram que lutar por necessidades básicas cotidianas. A herança deixada, é a liberdade, é o poder ser, é o ser dono de si. Pode não parecer muito quando se vive em uma sociedade de consumo, pode não parecer muito quando a gente vê o vizinho conseguindo bens materiais, mas o poder ser já me dá uma perspectiva maravilhosa. O mérito pessoal não exclui o fato de que ainda falta muito para conseguirmos coletivamente condições ideais de vida, mas menos ainda anula a complexidade da sociedade classista, racista, elitista e vários outros “istas”. Mas hoje temos muitos em quem nos espelhar. Pessoas que por méritos individuais garantiram para si melhores condições de vida. No entanto, o que talvez essa pessoa não se dê conta é que ela me dá poder. Quando uma negra modelo, ou atriz ou juíza ganha visibilidade, abre-se um horizonte de possibilidades pra muitos. É um espelho. Se ver naquela situação, vislumbrar aquela posição para si, é poder.
   Nossas ações são coletivas, mesmo sem querer, mesmo sem serem conscientes, e por menos importantes que pareçam. Pessoas são espelhos. Usar o cabelo crespo é um exemplo do que inspira: afirma a beleza, confere poder. É o poder ser, sem precisar se adaptar. Valeu pro século XIX e vale pra hoje também: ações simples, que parecem sem importância pra coletividade, rompem com padrões comportamentais e estéticos. Então sim, o crespo tem poder... e maior do que pode parecer.

Referências:
[1] Ver mais sobre o assunto: RIBEIRO, Manoel Pinto. A MULHER NEGRA E A MPB (1930-1945) http://www.filologia.org.br/abf/rabf/7/103.pdf
ALENCASTRO, Luis Felipe de. (orgs) História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte . São Paulo: Companhia das Letras, 1990.



LANÇAMENTO DO LIVRO "NEGROS HERÓIS: HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NO GIBI"

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  No dia 19 de janeiro, a partir das 19h30, na Casa de Cultura Tainã (Rua Inhambú 645, Vila Padre Manoel da Nóbrega, Campinas, São Paulo), acontecerá o lançamento de "Negros Heróis: histórias que estão no gibi", escrito por Roniel Felipe. Ele é jornalista graduado pela PUC Campinas em 2007 e também faz trabalhos fotográficos, "atualmente é editor dos periódicos Conexão Jovem e Satélite Hoje da ONG Gente Nova, além de colaborar com reportagens para a revista Raça Brasil, da editora Escala e o portal Viva Favela, da ONG Viva Rio".  É o primeiro livro e também uma produção independente. Nesse dia o autor pretende falar um pouco sobre a obra, autografar e conversar com os leitores presentes. Quem não puder comparecer e quiser um exemplar pode fazer o pedido através do e-mail contato@ronielfelipe.com.br. Cada um custa R$ 25. Vocês encontram mais informações sobre a obra na Fanpage e no site. Abaixo a apresentação do livro, vídeos sobre Laudelina de Campos Melo Antônio Carlos Santos Silva, personagens reais que estão inseridos no livro, links para download da resenha e prefácio, material que também pode ser encontrado no site.

"Idealizada no primeiro semestre de 2007, Negros Heróis: histórias que não estão no gibi é uma obra de jornalismo literário que, por meio da trajetória de vida de personagens fora de série, remonta mais de um século da luta do negro brasileiro contra o racismo. Pelo relato das histórias da astuta empregada doméstica, que bateu de frente com políticos poderosos e desafiou a elite  preconceituosa de Campinas nas décadas de 50 e 60 e do ex-morador de cortiço, que deu rumo a centenas de vidas e foi condenado pelo Presidente da República, Negros Heróis, em suas 178 páginas,  também é um breve relato da história mundial. Desde o distante 1904  até a atual década, a obra trata de revoluções, ditaduras,  mortes, alegrias, desilusões, ódio, amores e traições e, acima de tudo, a gana incessante pela justiça racial. Nomes como Juscelino Kubitschek, Adolf Hitler, Martin Luther King Jr., João Goulart, Jesse Owens, Jair Rodrigues, Black Panthers e Hilda Hist desfilam entre os 9 capítulos oriundos de uma extensa pesquisa documentada e de depoimentos dos personagens principais e secundários."