O DIA COM MENINAS BLACK POWER

por Tainá Almeida

Foto: Márcio Mercante
      Política, beleza, irmandade, amizade, comunidade preta. Acho que essas foram as palavras-chave do dia em que fomos entrevistadas pela Carmen Lúcia, jornalista do jornal O Dia. Uma irmã que conheceu nosso projeto e achou que valia a pena reverberar nossas informações e o nosso evento, o Encrespando. O evento passou e agora, ao termos acesso às fotos, vimos que nossa ação naquele dia não foi só falar do evento e de nossa comunidade preta. Falamos de muitos assuntos que estão intimamente ligados às imagens. Mas as imagens também refletem momentos que não foram falados. 

Foto: Márcio Mercante
     Podemos ver em vários momentos em nosso blog questões tão sérias e importantes que podem confundir nossas leitoras e leitores. Sim, nós falamos de militância preta. Somos mulheres que falam de cabelo e de racismo, compartilhamos nossas dores, mas devemos concordar que trazemos em nosso sorriso a beleza, alegria e entendimento do que é ser mulher preta. E, naquele dia, sentimos na pele o que é ser mulher preta em um ponto turístico. Sobre isto, a Maria Fernanda diz: "Senti que estavam observando até meu útero, mas não sai dali emocionalmente abalada. Assistam o filme "Vénus Noire". Foi assim que olharam." Complementa: "(este filme) Mostra a beleza do exótico, o erotismo do exótico, a curiosidade em estudar o exótico até a morte do exótico. Traduzindo para a atualidade, a beleza da mulata, apropriação do candomblé pelo Pierre Verge, estudo de antropologia..."

Foto: Márcio Mercante
      Nós falamos de militância e estética negra, sempre uma como fio condutor da outra. Em meio a diversos comentários da sociedade sobre o que esperar de uma mulher negra, sempre nos pegamos pensando no tamanho de nossos black e muitas meninas ainda pensam na insatisfação deste tamanho. Falando sobre isso, surgiu essa foto, que é um movimento crescente em nosso Coletivo. Sempre dizemos: "O fator encolhimento não mata, ensina a viver (feliz)!"  O fator encolhimento é o que assola a maioria das meninas com o cabelo com os cachos menores, "do tamanho do diâmetro de uma agulha de crochê", como diz a Bárbara, do blog Blacks Bárbaros. No Coletivo este tipo de cabelo pode ser representado por mim e pela Jaciana. Há muito tempo, definia o toque em meus cabelos com o que eu imaginava ser uma nuvem, depois imaginei que se eu tocasse em uma flor de algodão, o toque seria o mesmo. Não sei, mas não tiro isso da cabeça. Já a Jaciana diz: "Pareciam bolinhas de sagu! Hoje já está bem diferente a sensação. Ele faz muitos cachinhos... Parecem barbantes.... Centenas de cordinhas macias…". Muito se engana que pensa que este encolhimento só se faz presente nos tipos mais crespos. Nos usei como exemplo, pois é característica de nosso cabelo o encolhimento de até, pasmem, 75% do tamanho original do fio. Esperam que nossos fios sejam grandes e ostentemos enormes black powers pelas ruas da cidade, mas nosso crescimento não é visto como o da maioria, e para a gente, tudo bem. Aprendemos a viver com nossas características.

Foto: Márcio Mercante
      Falar de estética preta é também falar que não somos feitos em fôrmas. Quando falamos em um fio crespo natural estamos pensando em sua estrutura e no respeito que temos a essa estrutura. Mais uma vez, usando nosso Coletivo como exemplo, eu , Tainá, que já tive a oportunidade de colocar as mãos nos fios de cada uma da equipe Rio, digo com propriedade: não existem cabelos iguais. Será que todas precisamos perseguir este ideal de cacho? Será que mesmo abandonando os alisantes e relaxantes não conseguiremos abandonar os ‘ideais de cabelo bonito’? Este ainda é um assunto pouco desenvolvido e falado entre nós, crespas. Mas precisamos verbalizar e refletir sobre nossa forma de definir o que é bonito e o que é o respeito à estrutura de nossos fios.

Foto: Márcio Mercante
     Falar de militância preta, moda preta, evento preto, educação preta são nosso objetivo. Ocupar a escadaria do Selarón e não permitir que nos tratássemos como parte do ponto turístico foi um ato de resistência. Agradecemos à Carmén Lúcia pela oportunidade e ao Márcio Mercante pelo incrível trabalho fotográfico. A matéria pode ser lida aqui.

Foto: Márcio Mercante

This entry was posted on 29/09/2014 and is filed under ,,,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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