por Grupo de Trabalho Histórico-político
Fonte: Google |
Nas hashtags mais frequentes nos "tuíteres" e Facebooks da classe média nos últimos meses, vemos:
#CadêoAmarildo, #SomostodasClaudia, #Todossomosiguais. Foram casos que ganharam grandes
proporções: o desaparecimento de um um homem preto, o tratamento desumano
dispensado à uma mulher preta e o racismo.
Mas saiba "classe média leite
com pêra batida com pouco açúcar": embora a gente entenda que vocês até sejam
capazes de criticar situações e fatos sociais através da observação e debate,
não conseguimos respeitá-los enquanto voz das dores da comunidade preta.
Incapacidade nossa - confessamos! Nos sobe uma angústia em ver a bem
criada da Carolina Dieckmann levantando plaquinha falando que não merece ser
assassinada... Você não merece, e o primo da nossa
companheira de luta também não merecia! A Regina Casé não merece ser
assassinada, e o irmão da manicure aqui da nossa área também não merecia! A
Claudia não merecia ser assassinada e arrastada, e nem a tia de consideração de
uma de nossas irmãs de Coletivo merecia morrer de tristeza por ter tido seus 3
filhos assassinados.
É muita hashtag que está faltando aí...
É hashtag pra sua empregada que tem crise de vesícula, mas não tem atendimento,
porque na emergência do Miguel Couto não tem gastroenterologista, só ortopedia
e cardiologia. É hashtag pras famílias, na sua
maioria pretas, que não sabem o que fazer com seus doentes psiquiátricos. É hashtag pra depressão e a esquizofrenia
que ataca a mulher preta (destacamos aqui um dado: as "malucas dos
bairros" geralmente estão concentradas na Baixada, no Centro ou nas Zonas
Oeste e Norte do Rio de Janeiro, porque no Leblon quase nem se vê morador de rua - pra não
"sujar" o visual eles são devidamente varridos pra bem longe da
esquina do ex-governador...). Tem hashtag faltando aí, Preta Gil! Está faltando hashtag pras mulheres
pretas e gordas que são massacradas pela mídia perversa - somos todos iguais
mesmo? É hashtag pros espaços de privação de
liberdade que bestializam internos; pras instituições de correção de menores
infratores que só fazem alimentar o ódio e a violência; pra escola que não sabe
o que fazer com alunos dependentes químicos...
Quem está no olho do furação sabe a
dor da família do Amarildo e chora pela família de Claudia, mas sabe que só na
sua rua mais de dez famílias foram devastadas por essa mesma dor. Quem milita na rua conhece essa dor
na sua própria casa. Por isso não fazemos sensacionalismo com isto: essa dor já
nos persegue desde 1500 e tal... Por isso não venha falar por nós,
Neymar! Nos procure - somos muitas as
companheiras e muitos companheiros de militância - pra conversarmos sobre
nossa negritude. Busque entender a sua caminhada como homem preto. Descubra-se
um homem preto primeiro e não reforce mais esteriótipos.
Nossos mais velhos não sabem o que é
hashtag. Eles só sabem da dor da perda e da força que vem dos ancestrais pra
superar e resistir. Enquanto vocês lutam pelo #trendingtopics, nós lutamos para não morrer - falamos das mortes emocionais, intelectuais,
sociais e factuais. Lutamos - ainda que de luto pelas
tantas mortes nas NOSSAS FAMÍLIAS, NÃO NAS SUAS! - pra não morrer.
São tantas hashtags porque a classe média leite com pêra batida com pouco açúcar insiste em tentar apropriar-se de tudo e, com isso, calar a nossa voz. E quando aqueles que não detêm a mínima capacidade de abstração que lhes permita, pelo menos, imaginar as nossas lutas e as dores que surgiram desde que saímos dos ventres de nossas mães pretas, o resultado é esse: discursos deturpados e/ou superficiais. Temos de continuar nos organizando e aumentando nossas forças a cada dia mais para que a luta possa sobrepujar todos os oportunistas e/ou racistas!!!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário!
ExcluirÓtimo texto, um verdadeiro tapa na cara de quem acha que está ajudando em alguma coisa colocando as dores e lutas alheias nos trendingtopics. Parabéns.
ResponderExcluirDolorido! Imaginei essa dor! É preciso resistir, lutar e vencer. Parabéns pelo texto compartilhei através das mídias sociais afim de conscientização, de busca e de ação.
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