"O que aconteceu? Porque você fez isso? Foi de
propósito ou seu cabelo caiu?" Engraçado e que não foi a primeira vez que
cortei o cabelo desse jeito... Acho que o "mundo" percebeu que desta
vez foi diferente. Por isso todas essas perguntas assustadas. A primeira
vez que cortei, foi porque mudei o tipo de química, saí da escova definitiva
para o relaxamento. Enfim, de uma prisão para outra.
Desta vez quis apressar a liberdade. Não estava
aguentando a transição, sentia que aquele cabelo não era meu. Eu não estava
suportando mais carregar o peso. Estava em transição há uns 7 meses. Não me via
fazendo o BC ate porque o cabelo ficava legal, cheio, tipo black. Mas a pressão
interna tava grande, no fundo estava chateada. Mas cortar tudo, pensava, era
radical demais. O cabelo estava sem corte, por isso resolvi ir a
um salão especializado em cabelos cacheados para cortar. A ideia inicial era
tirar mais um pouco da química e dar forma. Chegando ao salão fui atendida pela Monica,
baianíssima, de São Salvador. Ela perguntou o que eu queria, eu disse
mais ou menos o tipo de corte e completei com um "mas o que eu quero
mesmo é me livrar dessa química". Nessa hora foi minha alma falando. Ela entendeu o que eu queria, mas me perguntou, "porquê?". Falei que não queria mais usar química, queria ser livre outra vez.
Achei que ia rolar algum tipo pressão, que ela ia defender o peixe do salão.
Mas me surpreendi, ela me deu maior força, disse que se orgulhava das mulheres
que se assumiam, que em Salvador as pessoas valorizam seus cabelos ao natural.
Fiquei impressionada com ela, pela força e pelo impulso que me deu. Ali diante do espelho e da Monica fui me transformando, tirando o peso da pressão, que não tem rosto, mas se chama pelos nomes de: normal, padrão, mais arrumadinho, mais bonito. Fazer o BC não é fácil, assim como todo o processo de transição, todo o processo não acontece só nos cabelos, mas na mente, no corpo todo, na alma. Suportar elogios é fácil, mas suportar comentários desnecessários e rejeições não. Para isso estamos aqui. Meninas Black Power é a reunião dessa força, que muitas vezes não encontramos entre os nossos.
Fiquei impressionada com ela, pela força e pelo impulso que me deu. Ali diante do espelho e da Monica fui me transformando, tirando o peso da pressão, que não tem rosto, mas se chama pelos nomes de: normal, padrão, mais arrumadinho, mais bonito. Fazer o BC não é fácil, assim como todo o processo de transição, todo o processo não acontece só nos cabelos, mas na mente, no corpo todo, na alma. Suportar elogios é fácil, mas suportar comentários desnecessários e rejeições não. Para isso estamos aqui. Meninas Black Power é a reunião dessa força, que muitas vezes não encontramos entre os nossos.
Só posso dizer que naquele chão ficou a dor da
tortura de uma química que corroía minha cabeça, ali ficou o medo e a vergonha. Ali me reencontrei com meu cabelo. Lindo!
Foi lindo tocá-lo depois de tanto tempo. Confesso que chorei. Depois de
anos de prisão, enfim eu estava livre!
Acabei de fazer o meu BC... também nã foi a primeira vez que cortei, na verdade já usei o cabelo bem curtinho por muito tempo (sempre usando química junto pra "soltar os cachos"). Pela primeira vez me vi livre. Pela primeira vez senti que acabou um ciclo de frustrações. Pela primeira vez estou me vendo inteira sem precisar de retoques, ajustes ou consertos. que a coragem de uma incentive sempre a outra!
ResponderExcluirLinda, parabéns, você é muito corajosa. Tu descreveu como eu me senti.
ResponderExcluirGente o que e BC
ResponderExcluirBC = Big Chop, o "Grande Corte". Nele a gente corta toda a parte do comprimento que tem química e deixa só o cabelo natural.
ExcluirLinda e super corajosaaa;
ResponderExcluirEu não tinha coragem mais ontem eu fiz o bc nossa q aliviooo!!!