Fonte: G1 |
Olá, Meninas Black Power. Meu nome é Juliana Luna,
todos me chamam de Luna por aqui. Moro em NY há 4 anos e trabalho com moda,
dança e arte. Sou tipo uma entrepreneur. Tenho 27 anos e fui convidada pelo MBP para escrever no blog e participar como colaboradora internacional. Fiquei muito
lisonjeada pelo convite! Minha história como crespa é longa. Me libertei há uns
10 anos... Escutei muita coisa pelo fato de ter este cabelo, que é um mundo, meu
mundo.
Estou feliz em
compartilhar um pouco dessa história com vocês. Let’s go! Hoje foi um dia normal
para mim até eu me deparar com as notícias dos protestos na Turquia. Até então eu não sabia o
que estava acontecendo, porque a mídia não reporta sobre nada. Navegando por
blogs e Facebook, li sobre os protestos e fiquei muito revoltada. A opressão
à qual este país sobrevive é surreal. Lembro de ter assistido o filme de um amigo,
artista, o JR, Inside out Project, onde ele dá voz a pessoas ao redor do mundo
todo, através da arte. O projeto consiste em fazer fotos de pessoas ao redor do
mundo. Essas fotos são impressas em posters que são colados em muros, paredes
e prédios como forma de expandir a voz do povo, como uma forma de lembrar à
sociedade que indivíduos existem e que cada um tem uma história para contar.
Esse projeto foi feito
na Turquia também. Fotógrafos turcos foram às ruas, fotografaram gente
normal. Pedestres, feirantes, taxistas, enfermeiras, donas de casa,
idosos... pessoas. Vale lembrar que a Turquia esteve sobre regime ditatorial por
anos, e agora "não mais". A equipe decidiu colar as fotos de inúmeros cidadãos
Turcos no muro mais conhecido da cidade, o muro onde anos atrás esteve a foto
do ditador. Decidiram fazer isso como simbolismo de que agora o muro pertence
ao povo.
Mas, assim que o time
foi para as ruas colar as fotos, as pessoas queriam saber quem eram esses rostos.
Quem eram essas pessoas nas fotos? Qual ideia eles queriam disseminar colocando
essas fotos pelos muros? A mentalidade oprimida das cidadãos criou uma tensão
desnecessária na colagem das fotos. Pessoas pensando que as fotos eram de algum
grupo separatista tentando tomar o poder(?!). Resultado da operação? As fotos
foram retiradas. No fim a discussão foi positiva. Em vez de ver o resultado
como falha... a equipe viu como um passo à frente. Pelo menos a ação criou debate,
instigou os cidadãos a pensarem e se expressarem livremente. Alguns admiraram,
outros rasgaram as fotos, outros criticaram, outros acharam interessante,
outros gritaram e xingaram. Muitos não entenderam a ideia de que arte pode sim
gerar liberdade... principalmente de expressão! Isso é democracia. Cada
individuo tem direito de expressar sua opinião e não engolir o sapo.
Não adianta... a gente só
aguenta a opressão até certo ponto. A tensão está sempre presente, até que
explode no mais inesperado momento. Semana passada os protestos foram
pacíficos. Foram contra a derrubada de árvores e demolição do parque Gezi, para
construção de mais um shopping center. Praticantes de yoga, pessoas como eu e
você, foram para o parque e acamparam à noite, para na manhã seguinte, tentarem
impedir a derrubada das árvores. Mas, esse gesto pacífico, democrata, mostrou
que nós temos direito à opinião e voz até a página dois. Estes protestos na
Turquia só mostram como nós seres humanos vivemos às sombras de constante
tensão que escala, escala, escala...
Me emocionei ao ver a
solidariedade de todos os Turcos cansados de sentir essa tensão diária,
escalar, e engolir cada nó na garganta, e viver mais um dia nessa farsa social.
Agora todos eles marcham por justiça e verdadeira democracia. Se juntam em uma
única voz para dizer que eles querem viver a verdade. Marcham em uma ponte de
união e identidade. Como mulher afro-brasileira, me lembro de existir em um ambiente completamente mascarado,
onde me expressar é ser "aceito" desde que não interfira na estética alheia.
Muita gente me pergunta, seu cabelo é estilo? Não. Meu cabelo sou eu. É
personalidade, é afirmação, é resistência. Meu cabelo é parte da minha busca
por verdade. Meu cabelo é a minha verdade. Meu cabelo é parte de não engolir mais
os nós que estiveram na minha garganta por tanto tempo. Que me fizeram chorar e
me sentir inferior por tentar ser alguém que eu não sou, viver na falsa
democracia. Meu cabelo é um desabafo e um meio de impedir essa tensão crescente
dentro de mim, por eu ser mulher, por eu ser negra, por eu não ser rica, por eu
morar no exterior, por eu não ser estereotipada, etc. Tensão! Por todos os
lados!
"Seja você", eles
dizem. Até que você vai procurar um emprego, de cabelo black. Ih! Mas aí você não entra nos padrões estéticos da firma... Seja você! Eles dizem. Até que
você entra para trabalhar em uma empresa, te colocam na mesa que ninguém quer,
te pagam o salário mais baixo e fazem você trabalhar o dobro... por que você é
“você”. Seja você! Eles dizem... mas ninguém te dá atenção se você entra na loja
para comprar um produto, a não ser que seja o segurança do estabelecimento.
Eu sou diferente, sou
uma mulher que não tem medo de desafios, sou uma mulher que vê o lado positivo
das coisas e sempre faço meu melhor. Sou uma mulher orgulhosa de ser negra, de ter o cabelo que representa minha coragem, acima de qualquer padrão
estético. Amo meu visual, amo quando vejo mais e mais meninas marchando em
direção a verdadeira democracia. Se libertando. Essa é a nossa ponte. Essa é a
nossa busca pela verdade. Como afro-brasileiras, esse é o nosso protesto.
Sermos cheias de identidade, personalidade e auto-estima. Buscar a verdadeira
democracia.
Eu me identifiquei com o
povo Turco. Não tenho ideia do que seria estar lá, sendo bombardeada com gás
lacrimogêneo non stop e rajadas de água, mas tenho ideia do que eles querem,
porque eu quero o mesmo. Eu quero viver em verdade. Eu quero ser e existir, sem
ter que fingir. Eu quero ser parte de uma comunidade real. Não uma comunidade
que é consumista e alienada por shopping centers e TV, que se deixa levar por
interesses de uma minoria que quer controlar, abusar, extorquir, roubar e ainda
assim achar que é correto usar violência contra seres humanos, a troco de nada. Eu quero ser parte de
algo autêntico, maior, mais "rebelde". Assim como meu cabelo.
Geeeente, que lindo! Conseguiu estabelecer um elo conectivo entre fatos aparentemente tão díspares com simplicidade *-* Tudo isso misturando a objetividade dos fatos políticos com a subjetividade dxs agentes que produzem esse fato: nós.
ResponderExcluirSeja muito bem vinda, Juliana!
Tarsila
Obrigado Tarsila!
ExcluirEstou super animada com esta oportunidade de colaborar aqui no MBP.
Beijos!
Luna
Texto muito bom! Parabéns...
ResponderExcluirCamila Obrigado!
ExcluirBeijos!
Eu conheço esta menina e ela é tudo isso e muito mais! Com certeza vamos adorar ler e ver as novidades que ela vai nos oferecer em relação a moda, comportamento e estilo de vida!! Sucesso e vida longa querida!!!!!
ResponderExcluirObrigada, Denise! Agradecemos em nome da Juliana e do coletivo.
ExcluirDenise,
ExcluirVoce sempre doce! obrigado!!!! muitos beijos!
Luna
Ótimo.
ResponderExcluirAchei muito eficiente e explicativo o seu blog sobre esses assuntos atuais.