por Karina Vieira
Foto: acervo pessoal |
Maria Chantal é
pura doçura. Abraço que circula e braços que crescem e muita delicadeza no
trato com o outro. Ela é design e estilista da marca que leva seu próprio nome. Em Junho lançou uma nova coleção: Adrinkras -Símbolos e Filosofias, criado com intuito de trazer
conhecimento sobre a cultura de África que se revela nas Adrinkras de Gana. Conheçam mais dela abaixo.
MBP - Como você se define?
MBP - Como você se define?
Maria Chantal - Meu nome é Maria Chantal, tenho 21 anos. Nasci em Luanda, Angola. Me defino
como uma mulher negra em diáspora em processo de reafricanização.
MBP - Como se deu a descoberta da sua negritude?
MC - Não sei muito bem como se deu, mas desde cedo eu sempre soube que eu era
negra e tal. A descoberta de fato foi a questão de ter orgulho
do que eu via no espelho. Uma menina negra retinta, com o cabelo crespo e
traços "grossos". O caminho [dessa descoberta] foi demorado e árduo. Cresci muito sem referência.
Em minha família ninguém usava o cabelo natural, nem as crianças. Usava-se (e ainda usam) cremes pra clarear a pele. A estrutura é racista.
MBP - O que te levou a escolher o mundo da moda?
MC - O mundo da moda tem um encanto. Apesar de eu saber que nessa equação tem mais
trabalho que glamour, sempre me encantou a ideia de ver pessoas vestindo algo
feito por mim.
MBP - Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
MC - Olha, são tant@s! Vamos começar por Lua Nascimento e Gilza Marques, pessoas
de muito conhecimento; Runoko Rashid, Thandi e Nianbi (Oshun), Juliana Luna e
Bazaar Bohemian com o Project Tribe, Daniele Da Mata...
Foto: Ygor Pena |
MBP - Quem é aquela mulher preta que você conhece
e quer que o mundo conheça também?
MC - Katiuscia Ribeiro. Super inteligente bonita, cheia de estilo e faz um
trabalho artesanal super maneiro.
MBP - Na sua trajetória profissional o quanto
avançamos e o que ainda temos que avançar?
MC - Eu tenho a marca Maria Chantal há um ano. Vejo jovens se "empoderando", assumindo
a estética, gritando aos quatro cantos que são negr@s, mas ainda nos falta muito
conhecimento sobre nós mesm@s. Sobre a cultura africana, como os nossos
antepassados viviam antes de serem escravizados. Nos falta conhecimento pré-colonial,
mas infelizmente nos falta pós-colonial também. A gente ainda lê pouco sobre
livros produzidos por e para os nossos e nossas.
MBP - Como você lida com a sua estética negra?
MC - Eu uso produtos naturais, especialmente Chad Cosmética Natural, pra cuidar da minha aparência. Diminuí o consumo de leite e carne pra melhorar a pele.
MBP - O que é representatividade pra você?
MC - Representatividade pra mim é ter algum preto ou preta que na sua área de atuação
busque valorizar a cultura africana/negra em toda a sua diversidade. Que produza
algo que vá contra a sociedade eurocêntrica/racista. Por exemplo: uma empresa que me representa é a Nzinga Moda Afro, onde os tecidos são africanos, a
modelagem é pensada no corpo da mulher preta, modelos são pretas e pretos, as idealizadoras da marca também. Enaltece a estética preta porque nos valoriza. O Beleza Natural não
me representaria. Apesar da dona ser preta e a maioria das funcionárias
também, ainda é um lugar que continua
contribuindo com o processo racista/eurocêntrico de opressão da estética negra,
a partir da criação de um padrão de beleza negra que só serve pra oprimir e
dividir a nossa comunidade (fora que ainda não se sabe de fato os danos que
tais produtos causam a saúde da mulher negra). Ainda estou definindo essa palavra pra mim, mas atualmente é isso.
Conheça o lindo trabalho da Maria Chantal:
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