por Karina Vieira
Foto: acervo pessoal |
Helemozão faz parte
da leva riquíssima de novos fotógrafos soteropolitanos que vem despontando em 2015/2016.
Com um olhar aguçado, trabalhando com sombras e cores de forma sem igual, faz
um trampo incrível alçando a figura negra ao posto de belo e sublime. Através
de seus editoriais magicamente elaborados e ao mesmo tempo simplesmente belos, temos
a sensação de que diante dos nossos olhos o que se vê é a beleza que somente os
olhos (câmera) dela souberam captar.
MBP - Quem é você?
Helemozão - Helemozão,
mulher periférica, que faz corre sem miséria, poetizando no olhar e nas ideias,
busca seu lugar ao sol, sempre pelo certo.
MBP - Como se deu a descoberta da sua negritude?
H - Comecei a me
encontrei na negritude vendo vídeos, desenhos e texto de mulheres pretas na
internet e me fortaleci no pré-vestibular. Pré-vestibular esse que levara
discussões, debates sobre o processo histórico do negro, mostrava histórias que
não são contadas nos livros. Encontrei respostas e um turbilhão de questionamentos.
Por exemplo: “será que sou negra? E esse meu tom de pele? E a textura do meu
cabelo?”. Em meio a todos os questionamentos comecei a ver que vivia dentro de
padrões para ser uma pessoa que eu não era. Eu precisava me montar, me
destruir, mentia para mim. Também sabia que tinha privilégios em relação ao
visual e que se eu quisesse eu poderia viver na fôrma até quando eu desejasse,
porque a miscigenação me deu esse poder de escolha.
MBP - O que te levou a escolher a sua profissão?
H - Na tentativa de fazer um investimento, comprei uma câmera
fotográfica. No começo era só um hobby.
Depois que comecei a estudar e me dedicar percebi que eu já não existia mais
sem desenhar com a luz.
MBP - Como foi o caminho da sua graduação?
H - Eu não sou formada em faculdade. Fiz um curso técnico da Escola de
Arte e Tecnologia (Oi Kabum), onde fiquei quase dois anos estudando arte visual
no geral e os componentes da fotografia.
Foto: acervo pessoal |
MBP - Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
H - Minhas referências pretas são as minas da minha rotina, do meu dia a dia, minha vó e minha mãe.
H - Minhas referências pretas são as minas da minha rotina, do meu dia a dia, minha vó e minha mãe.
MBP - Quem é aquela mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
H - Isabela Bispo.
MBP - Na sua trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar?
H - Avançamos em criação, ocupação e protagonização dos espaços, o estudo, a saída da zona de conforto.
MBP - Como você lida com a sua estética negra?
H - Eu me reconheço como uma mulher negra. Tenho a pele menos pigmentada e o cabelo cacheado, sei do meu lugar de privilégio e de fala. Mesmo assim vivi bastante tempo sem querer tomar sol, sem deixar meu cabelo ter o volume e a textura dele. Hoje não tenho cuidados específicos com produtos de cabelo, ate por mantê-lo curto. Vario nos cortes (cortes periféricos) e descoloração. Quase não uso creme.
MBP - O que é representatividade pra você?
H - Representatividade para mim é ter alguém de verdade que você olhe e se veja, que Faz você se entender. E para além das coisas obvias do que é representatividade, é para mim, ajuda na autoestima, no desenvolvimento e crescimento de quem busca a representatividade.