por Nanci Saran
Foto: Vanderlei Yui |
O dia era 18 de Abril, Sexta-feira da Paixão, data em que os
cristãos lembram o julgamento, a crucificação e a morte de Jesus Cristo. No
centro da cidade de São Paulo esta data foi escolhida para realização do ato
cultural "A Paixão de Cláudia" e nós do Meninas Black Power SP estivemos
presentes em apoio aos organizadores (Cubo Preto, Manifesto Crespo, Roda da Mãe
Preta), os familiares e o viúvo de Cláudia, Alexandre Fernandes Silva, que
estava presente.
O ato foi idealizado para homenagear Cláudia da Silva Ferreira,
mulher NEGRA de 38 anos, trabalhadora e mãe brasileira, MORTA no dia 16 de
março de 2014, alvo de uma bala perdida disparada por agentes da Polícia
Militar do Rio de Janeiro. Ao ser socorrida pela PM, ainda com vida, teve seu
corpo jogado no porta malas da viatura policial, de onde caiu, ficou preso e
seguiu sendo arrastado por cerca de 300 metros.
Foto: Denise Nunes |
Marcado pelo som dos tambores e outros instrumentos, o ato
seguiu com um sentimento fúnebre, todos verdadeiramente sentiam a morte da
Cacau. As pessoas presentes, algumas vestidas de branco, outras de preto,
carregavam rosas vermelhas, que segundo os organizadores, foram escolhidas por
conter "uma beleza que a própria natureza armou com espinhos para protege-la de
seus opressores".
Posteriormente, as rosas foram deixadas na estátua da Mãe Preta
no Paiçandú e teve início as performances culturais que tomaram o Boulevard São
João, de forma pacífica e assertiva, dando continuidade ao protesto com arte. Apesar da tristeza pelo fato ocorrido com a Claudia, foi
emocionante ver o povo negro unido e reivindicando justiça, não podemos e não
vamos nos calar diante das atrocidades.
Foto: Bê Cruz |
Claudia, o Amarildo, o Alailton e tantos outros se foram, mas
enquanto houver "vida negra", lutaremos contra as injustiças desta sociedade
arcaica. Unidas! Abaixo vídeo de Aimê Uehara e cenas do ato.