Se
em uma gincana a prova final fosse um quiz de perguntas e respostas sobre História
do Brasil e a questão final, a que vale o prêmio, fosse "O que se comemora no
dia 22 de abril?", sua resposta seria "o Descobrimento do Brasil"– correto?
Bom, a minha resposta, e a resposta de
muitos brasileiros que questionam e criticam a História, seria outra. Eu
responderia que no dia 22 de abril não se comemora nada. Só lamentamos ‘a
Invasão do Brasil’.
Não fomos descobertos: fomos ameaçados e
dizimados por uma cultura superior (cultura eurocêntrica, que se julga superior
às demais, por estarem no ‘centro’ do mundo, e por considerarem sua forma de
organização social superior à outros povos), que subjugou mulheres, homens e
crianças indígenas, oferecendo a eles apenas suas doenças e sua forma de vida
totalmente diferente. Fomos adestrados a andar com roupas pesadas, próprias
para um clima que não é o nosso. Tivemos o direito de adorar nossos próprios
deuses negado pela imposição cultural elitista, que julga seus modos de vida
mais adequados. Essa invasão fez com que homens e mulheres africanos fossem
sequestrados de África, para construírem com suas mãos e braços o futuro
civilizado de uma elite que só sabia matar a cultura dos índios, roubar nossos
recursos naturais para a sustentação de uma riqueza fora da Europa e destruir
vidas, famílias, histórias e vivências.
No dia de hoje, 22 de abril, comemoramos a
invisibilidade indígena e afro-brasileira; comemoramos a morte cultural em
benefício da bárbara colonização. Por isso, trazemos aqui a seguinte reflexão:
precisamos relembrar o Brasil – esse país de Tupis, Guaranis, Tupinambás,
Ticunas, Guajajaras, Xavantes, Potiguaras e Pataxós. Um país de Nagôs e Bantos.
Relembrar que esses povos são os legítimos patrocinadores dessa ‘invenção’ que
é o Brasil.
Temos uma Lei constitucional que garante o
resgate dessa memória estrategicamente silenciada. Lei esta que completa, neste
ano, 10 anos. Falamos da Lei 10.639, de 9 de janeiro
de 2003, alterada pela Lei 11.645, de 10 de março
de 2008, “que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” (texto da Lei). Porém, é
sabido que a lei não é amplamente cumprida nos espaços de educação, mantendo
alunos-cidadãos desconhecedores de sua própria história.
A lei apresenta um texto claro, mas as
brechas encontradas no Sistema se aproveitam para manter obscuro a atuação do
indígena, e principalmente do Negro, descendente direto de africanos. Um
mecanismo muito sofisticado do racismo que percebe no esquecimento a ferramenta
ideal para o aniquilamento de um povo.
Sem conhecermos histórias de grandes
guerreiros como Zumbi, não teremos autoestima para reivindicar nossos
direitos enquanto cidadãos. Se conhecêssemos a vida de Rainha Nzinga,
certamente nossa autoestima seria afirmativa e reconheceríamos em nós a
resistência e a luta. Se soubéssemos de nossas raízes culturais, não teríamos
tanta vergonha de nossos cabelos, corpos e passado. Seríamos mais fortes, e
assumiríamos nossa militância. E isso o sistema não quer!
Que através dessas reflexões, possamos
repensar o significado dessa data história que não nos representa. Sejamos nós,
Meninas e Meninos Black Power, cidadãos críticos: não vamos aceitar tudo que
nos impõem. Vamos resgatar a História de nosso povo, porque somente conhecendo
o nosso passado é que faremos nosso futuro algo mais digno e humano. Vamos reescrever o Brasil!!!
Eu não sei quem escreveu já que não está assinado individualmente, mas ó, merece todo o meu amor. Belíssimo texto! E muito boa a reflexão proposta. Estão de parabéns meninas.
ResponderExcluirBejo
Camila, foi uma construção coletiva.
ExcluirObrigada... Beijos crespos.
Arrasou, excelente texto! E a mais pura verdade.Fato que repercute até os dias de hoje.Mas nunca é tarde pra mudar.Bjo
ResponderExcluirExatamente. Beijos crespos!!!
Excluirmuito fã! adorei! Parabéns
ResponderExcluirQue texto sensacional! Arrepiaste e emocionante!
ResponderExcluirMáximo respeito!
Que bom que gostou. Ficamos felizes. :*
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