“Alusivo ao
passado, presente e futuro”. É assim que Aristóteles Kandimba descreve AfroCariocas, filme assinado por ele mesmo. "O filme nunca teve como base apenas a
experiência de negros do Rio de Janeiro. A ideia foi de fazer algo bem mais
amplo e viajar pelo Brasil afora. Queria retornar e explorar um pouco mais da
Bahia, de São Paulo, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Todos esses Estados que visitei anteriormente,
bem antes de dar início à gravação do filme, tiveram em mim um grande impacto.
A experiência dos afro-brasileiros , nos mesmos Estados que mencionei, é tão importante e fascinante quanto as dos
AfroCariocas", conta. No entanto, a maioria das falas apresentadas ganham voz
através das vozes de brasileiros, cariocas, filhos de África, e tanto o diretor quanto outros
personagens falam da dinâmica do conhecimento das raízes e de como nos vemos
através delas.
O "músico e arte-educador" Antônio Espírito Santo dá início e conta sua história familiar, como descobriu sua matriz e também
discute o quanto a maior parte dos negros brasileiros desconhece sua história,
dizendo que “há um corte em nossa herança” e é raro conseguirmos maiores
informações sobre quem veio antes de nós, quem nos originou. Os discursos dos outros
personagens seguem falando de infância, crescimento, relações familiares, fé,
racismo, embates diários, história afro-brasileira e vivências que permeiam a
vida de indivíduos negros dentro de histórias que se repetem inúmeras vezes. Entre as lembranças dessas vivências está a aceitação
do cabelo crespo, preto, fruto da raiz. Mulheres crespas dialogam sobre o
processo de se assumir crespa, enfrentamentos diários, o olhar sobre outras mulheres
crespas que não assumem o próprio cabelo, a forma como os homens passam a
tratar mulheres que se aceitam crespas, padrões sociais, afirmação, as
ligações entre pigmentação e cabelo, educação para identidade repassando
exemplos, sendo inspiração pra quem precisa se enxergar em nós.
Aristóteles
Kandimba encerra contando mais profundamente de onde veio, sua ancestralidade.
Nas palavras dele, “AfroCariocas é um vínculo de um reencontro jubilante da
separação violenta entre uma mãe e seus filhos, entre o continente africano e
os negros do Rio de Janeiro”. Isso me faz recordar algo dito por Marcus Garvey:
“Um povo sem o conhecimento do seu passado histórico, origem e cultura, é como
uma árvore sem raízes.” Se não sabemos de onde viemos, consequentemente, não
saberemos pra onde ir? Podemos dizer que muito do que ainda vivemos e
combatemos está diretamente ligado ao quanto não sabemos sobre nós? Sinto que nos perdemos nessa história, que ela foi retirada de nossas mãos, que nos
negaram o domínio sobre ela e o direito de conhecer, entender e absorver cada segundo do que já nos aconteceu, mesmo antes de existirmos. Nesse
documentário está também o incentivo para essa busca e encontro. Ele agita os
cérebros para ir atrás do saber, individual e coletivo, para questionar a razão de tanta falta de
conhecimento sobre a essência que carregamos no sangue, nos traços, na cor e em
tudo mais. Vale a reflexão e ainda mais apoiar a ideia. Está
acontecendo uma campanha para arrecadação de verbas e toda ajuda e divulgação
será necessária e bem-vinda. Basta fazer contato através de kandimbafilms@gmail.com. Abaixo o trailer do filme e algumas fotos.