É A MINHA CARA - LUANA RODRIGUES


Ela desfila pela rede. Sempre cacheada, criativa, autêntica, bem livre e com muita opinião pra dar. É colaboradora do Meninas Black Power e idealizadora do programa Social na Rede, exibido exclusivamente na web. Por essas e outras que a convidamos pra um papo muito construtivo e descontraído que vocês conferem logo abaixo.

O "blackinho de poodle" na infância
MBP: Vamos falar de "cabelón" primeiro. Como você chegou nesses cachos aí?
LR: Desde pequena tive cabelo cacheado, ele nunca foi liso. Eu sempre gostei que ficasse cheio, desde novinha mesmo, e minha mãe cultivava isso. Ela cuidava pra que ele não crescesse muito, pra manter meu "blackinho de poodle". Isso até uns 4 anos. Depois, com a fase de escolinha e piolho, ela passou a usar tiara e isso foi "abaixando" meu volume. O cabelo foi crescendo e os cachos ficando mais abertos, mais soltos. Então, eu passei a usar rabos de cavalo, mas sempre com frizz na raiz e o rabo bem cacheado. Gostava mais dele solto.


MBP: E você nunca quis modificar o natural? Sempre gostou dos cachos?
LR: Eu nunca, mas até hoje recebo forte influência - da família mesmo - pra que eu alise o cabelo. Uma cunhada muito querida já chegou a comprar produtos pra testar no fio dela e usar no meu. Ela tem outro perfil, gosta de tingir de louro e usar chapado, e eu gosto do cabelo cheio. Isso a incomoda. É bem estranho...

MBP: Então você recebe críticas por ter sido sempre assim natural? Além da família essa pressão acontece em outros ambientes?
LR: Apenas minha cunhada se esforça pra que eu alise o cabelo. Nos outros ambientes eu sou bem feliz com meu cabelo e em especial nesse momento. Eu exerço consultoria no âmbito da comunicação para um escritório de advocacia conceituado no RJ e lá eu uso meu cabelo cheio, de trança, de lenço. Eu evidencio o que eu quero ser e como meu cabelo pode traduzir isso.

MBP: Maravilha! Fala mais do trabalho. O que você anda fazendo da vida?
LR: Eu sou comunicóloga. Digo assim porque jornalista ficou pouco. Eu tenho formação em jornalismo, em webwriter, gerencio mídias digitais, exerço assessoria de imprensa, faço produção de eventos e produção em moda também. Trabalho com comunicação desde os 19 anos e hoje tenho 28. A minha mais nova investida é o canal Social na Rede. Temos Fanpage e Twitter também. Apenas duas semanas de trabalho, poucos acessos [na época da entrevista]... Estou no começo. Nesse canal eu convido amigos pra uma social aqui em casa e o que seria só um papo, eu gravo e publico na web. Como eu amo falar e tenho amigos com experiências muito interessantes, pensei em congregar isso e dividir na internet o que quase todo dia acontece aqui em casa.


MBP: E sobre que assuntos você pretende falar? Geral?
LR: Sim! Qualquer assunto que esteja no meio comunicação, na web, na "vida real". Qualquer assunto que possa conceituar o termo "rede social", estando reunida com amigos que produzem nos mais diversos nichos sempre rola um papo rico em informação

MBP: Você contou que pretende falar sobre cabelo crespo num desses papos. Sobre o que exatamente?
LR: Em especial esse assunto me interessa por conta da relevância que tem tomado. Há pessoas falando, há muito sobre a importância de se valorizar o cabelo crespo, há ignorância sobre denominar o cabelo como bom ou ruim, e nisso eu esbarro desde sempre com muita atenção. Sempre achei o preto, o homem e a mulher negros, algo muito especial em específico no nosso país. Sempre busquei uma formação no que diz respeito ao tema por conta de uma questão muito pessoal. Eu sou adotada, não conheço meu pai biológico, e o pouco que sei é que é (ou era) um negro muito bonito e que eu teria duas irmãs lindas, de cabelo bem cheio, bem "juba" mesmo. Me disseram isso e ficou no meu inconsciente de algum modo. Eu sempre valorizo o cabelo crespo e sinto sim que eu faço parte de um grupo de poucos, infelizmente. O fato de o o cabelo, o negro, o reconhecimento do indivíduo em sua origem e formação, me envolver bastante no que diz respeito ao conhecimento, fez com que eu buscasse mais ainda sobre o assunto, mais produtos, mais espaços de beleza especializados... E me dei conta que os que existem não são tão expostos. O que eu quero abordar no episódio em que teremos é como e porque a gente precisa falar de si e porque não ouvimos de nós e o que ouvimos, geralmente, não nos satisfaz.

MBP: Você disse que a questão da valorização do natural está crescendo e que, quando ouvimos, quase sempre não nos satisfaz. Acha que a questão está sendo abordada da forma correta? A maioria fala sobre cortes, produtos e etc. como uma coisa transitória que a moda trouxe e não como algo natural, que precisa ser cultivado.
LR: Concordo com a sua afirmação e por isso nego que esteja sendo abordado de forma correta. Ainda se fala muito no cabelo como algo caricato, ainda ficam aquelas referências: o gordo, aquela menina ali de trança, aquele menino ali de cabelo duro pro alto... Ainda não se saiu disso, como se o cabelo fosse algo iconográfico, um rótulo. Acho que a gente pode dar valor a alguém que fala de cabelo crespo quando esse alguém defende o conhecimento, o saber sobre o fio. Parece uma supervalorização mas não é. Um cabelo "liso" é mais aceito e por isso pouco tem por se dizer "em defesa dele". O cabelo crespo quase que precisa de aprovação, e se é assim, precisamos saber que não é certo, que algo está fora da ordem aí, e por conta disso, dar valor ao fio e lembrar: há uma história aqui, há algo que você não sabe sobre mim, eu e meu cabelo podemos contar. Nesse aspecto, o fio deve ser valorizado, os penteados devem ser idealizados. Eu vi recentemente um longa mulheres africanas em que uma das entrevistadas falava sobre o seu penteado. Mas, notem, ela fala sobre o seu penteado apenas no final e declara: "é um penteado de rainha". Eu penso que há muito imbuído nessa opção da edição, de deixar essa fala só pro final. É pra justamente dizer: você com certeza deve ter observando o cabelo desta mulher e deve ter pensando algumas coisas sobre ele, sobre ela, mas, ele tem algo a lhe dizer, e isso foi dito. 

MBP: Então, diante de todos os motivos que você já deu, qual é a importância de ser crespa pra você?
LR: Poder ter comigo desde que nasci a riqueza de uma herança ainda mais, de um país misto que não tem uma história conhecida em sua verdade que mais se aproxima da verdade real... E com isso, ter a obrigação de me reconhecer e com amor - por me amar muito -, poder identificar pros outros que ser crespo é muito lindo, muito valor e muita atitude.

Vocês podem curtir o Social na Rede aqui na Fanpage. Em seguida o pograma falando sobre crespos com os meninos do Trança Nagô* e o trailer do filme "Mulheres Africanas - A Rede Invisível".












This entry was posted on 11/01/2013 and is filed under ,,,,,,,,,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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